IARA DA SILVA MACHADO (psicóloga)
Não
nasci ainda; aprovisionem-me com água que me embale, ervas que brotem para mim,
árvores que conversem comigo, céu que cante para mim, pássaros e uma luz branca
no fundo da minha mente para me guiar.
Louis
MacNeice, Prayer Before Birth
Na
Grécia antiga Deméter era a Deusa Mãe proeminente e tinha a função
especializada de presidir sobre todas as formas de reprodução e renovação da
vida, especialmente da vida vegetal. Figura complexa e bem elaborada,
historicamente ela se situa entre os antigos cultos neolíticos da Grande Mãe –
que floresceram na Suméria, na Ásia Menor, no Egito e na ilha de Creta entre
aproximadamente 4000 e 1000 a.C – e a era cristã no Ocidente, preservando
muitas das características desses cultos anteriores; ela é a deusa da
fecundidade, da fertilidade e da regeneração; possui uma identidade mística com
sua irmã sombria do mundo avernal, a Rainha dos Mortos; dá a luz um Filho
Divino, que permanece como seu jovem consorte em vez de transformar-se em
marido ou em alguém de igual maturidade.
O
símbolo principal de Deméter era o feixe de trigo e em seus mistérios em
Elêusis, uma única espiga de milho. Os simbolismos da flor, do fruto e da
semente, que a transforma, verdadeiramente em Nossa Senhora das Plantas. Seu animal
sagrado terrestre era o porco, que costumava ser um sacrifício de fertilidade
em todo o mundo por causa de seus múltiplos úteros; seu animal sagrado marinho
era o golfinho.
O
santuário de Deméter em Elêusis, onde seus mistérios eram celebrados, permaneceu
ativo durante quase dois mil anos.
Deméter
era a Grande Mãe e o mundo inteiro era a sua Criança. O evento essencial nas
religiões agrárias era o Matrimônio Sagrado, no qual a sacerdotisa
periodicamente entrava em comunhão com o reino dos espíritos no interior da
terra para renovar o ano agrícola e a vida civilizada que florescia sobre a
terra. Seu consorte era um espírito vegetativo, ao mesmo tempo o seu filho que
brotara da terra e o parceiro que iria raptá-la para outro reino, um reino que
seria fecundado quando ele, ao morrer, a possuísse. A solução final para a
perda de Deméter era tornar sadio o universo no qual a morte se introduzira
admitindo-se também a possibilidade de um retorno à vida. O renascimento após a
morte era o segredo de Elêusis. No Hades, Perséfone, como a própria terra, toma
uma semente em seu corpo e desse modo retorna eternamente a sua extática mãe
com o seu novo filho – apenas para morrer eternamente em seu abraço fecundante.
chamabranca.multiply.com |
Quando
falamos de Deméter conforme era imaginada pelos gregos, deveríamos na realidade
falar de duas deusas, não uma. O cerne do mito e do culto a Deméter, era o fato
de ela ter perdido sua filha adorada, Coré (significando “donzela” em grego),
pranteada por ela, e por fim, reunindo-se novamente a ela. Todas as imagens e
pinturas em vasos que chegaram até nossos dias mostram duas mulheres maduras:
Deméter e Coré juntas, segurando feixes ou espigas de trigo, flores ou
archotes. A intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente
feminino dessa religião e constelação mitológica.
Embora
Deméter não seja em rigor uma Mãe Terra, pois este título pertence a sua avó,
Gaia ou Ge, cujo nome significa “terra”, o seu mito e culto dizem respeito ao
que acontece em cima e embaixo da terra. Ela e a filha simbolizam os ciclos
dinâmicos da natureza que ocorrem no interior do corpo da terra e, em
decorrência do princípio místico de correspondência, também no interior do
corpo de toda mulher. (Woolger, Jennifer; Woolger, Roger J. - A Deusa Interior,
2007).
Fazer
uma alusão ao mito grego de Deméter é uma forma de perceber como na sociedade
pós moderna a relação mãe e filho(a) em níveis saudáveis de manifestação
reflete essa cumplicidade amorosa e a intimidade do reconhecimento do divino
apresentado a mulher através da face do exercício da maternidade.
Parabenizo
a todas as MÃES que foram, que são, que virão a Ser.
Em
especial AGRADEÇO a minha mãe Eliete
que teve a coragem moral e afetiva de disponibilizar seu ventre oito vezes para
gerar crianças e co-criar com DEUS!
Nenhum comentário:
Postar um comentário