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terça-feira, 11 de junho de 2013

Preferência sexual não se escolhe: descobre-se (Ensaio)



Inácio Andrade Torres


A preferência sexual humana é um  assunto ainda muito tabuizado e pouco discutido. Portanto, escrever sobre o mesmo, requer a narração de alguns fatos históricos. É o que faremos, na tentativa de entendermos como um problema social, vinculado ao indivíduo, à família e à sociedade. Uma questão composta de muitos conceitos e definições equivocadas e preconceituosas. E que, como problema social, a sua relevância tem sido subestimada e até desviada no campo da saúde e da educação.  Políticos e mídia, como poucas exceções, tratam-no da forma que melhor lhes convém, algumas vezes até em tom de sensacionalismo e de ironia.Tomemos como exemplo a homossexualidade que, embora seja uma orientação sexual presente em 10% da população do mundo, ainda enfrenta grandes desafios e violências diversificadas.



Na Paraíba, desde agosto de 2012, o próprio governador e a primeira dama engajaram-se no enfrentamento da homofobia, vestindo a camisa estampada com os dizeres “Tire o respeito do armário”. E a campanha faz-se necessária. Leiamos a informação de Adriano de Lavor (Radis, maio 2012). Pesquisa do Grupo Gay da Bahia/GGB confirma a liderança do Brasil no ranking da homofobia, concentrando 44% do total de execuções de todo o mundo.


Segundo essa ONG, em 2012, no Brasil, foram registrados 338 assassinatos,  percentualmente assim distribuídos: gays (56%), travestis (37%) e lésbicas (5%), o que equivale a uma morte a cada 26 horas. A maioria desses crimes aconteceu em São Paulo (45 vítimas), contudo Alagoas (com 18 vítimas) é considerado o estado mais  perigoso para homossexuais em termos relativos, seguido da Paraíba (com 19 assassinatos).


Como se vê, a violência contra lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais/LGBT na Paraíba e no Brasil é uma questão notória. No mundo também. Assim é tanto que o Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas/ONU enviou recentemente um documento aos Estados-membros recomendando cinco princípios: 

1.proteger indivíduos de violência homofóbica e transfóbica;



2.prevenir tortura e tratamento cruel, desumano e degradante de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais; 3.descriminalizar a homossexualidade; 4. proibir a discriminação baseada em orientação sexual e identidade de gênero e 5.respeitar as liberdades de expressão, de associação e de reunião pacifica.



Na contramão dessa vanguarda, alguns Deputados federais ainda insistem em discutir um projeto ultrapassado que autoriza o tratamento psicológico ou a terapia para mudar a orientação sexual de gays. Os defensores desse projeto propõem a suspensão da resolução do Conselho Federal de Psicologia, que proíbe a participação de profissionais da área de psicoterapia para alterar a orientação sexual e de atribuir caráter patológico a homossexualidade.



Por outra parte, sabe-se que há mais de trinta anos a homossexualidade foi excluída da Classificação Internacional de Doenças/CID. Para a neurociência, a orientação sexual é congênita, determinada biologicamente e antes do indivíduo nascer; o termo correto é homossexualidade e nunca homossexualismo, uma vez que enquanto o sufixo “ismo” refere-se à doença; dade é uma derivação que significa modo de ser. E mais: a expressão correta para designar a homossexualidade ou heterossexualidade não é opção sexual, comumente utilizada pela maioria das pessoas. É preferência sexual.


Explicação:
a preferência é algo feito automaticamente pelo cérebro humano independentemente do que o individuo pensa. Já a opção pode ser traduzida como quilo que você pode fazer com sua preferência, por exemplo, assumir publicamente ou esconder.



“Queremos direitos, não privilégios” reclama o deputado federal Jean Wyllys. Por sua vez dita Rogério Rocha, coordenador do programa Radis, “Para a construção do SUS, existir uma política específica e experiências de atenção voltadas para lésbicas, gays, bissexuais e travestis e transexuais significa ir além do acesso para todos (universalização). É experimentar acolher de forma diferente  e adequada os diferentes (equidade) e aprender  como cuidar, de fato, levando em conta o contexto e as singularidades de cada grupo e de cada indivíduo (integralidade). O que parece particular, então, estabelece precedentes positivos para todos. Um colorido sopro de mudança e conquista para a coletividade”.



No campo da neurociência, explica a pesquisadora Suzana Houzel. A preferência sexual associa-se a maneira como o hipotálamo – centro de controle sobre atividades importantes do organismo, tais como sono, metabolismo da água, temperatura corporal, etc. – responde a feromônios, substâncias pouco voláteis produzidas pelo corpo, mas que ainda assim entram nariz adentro e surtem efeitos sobre o hipotálamo. Há poucos anos, informa essa pesquisadora, um estudo realizado na Suécia comprovou que o hipotálamo de cada pessoa é preferencialmente sensível a um de dois tipos de feromônios: ou o feminino, chamado de EST ou o masculino, denominado de AND. Esse estudo concluiu que o padrão de resposta do hipotálamo concorda não com o sexo de cada pessoa, e sim com sua preferência sexual e, com base nesse fundamento, impõe essa preferência. Assim, são sexualmente excitáveis por mulheres aqueles proprietários de hipotálamo que responde a o EST, feromônio feminino, e não ao AND; são excitáveis por homens, aqueles, cujo hipotálamo responde ao AND e não ao EST.




Encerro com esse argumento da neurocientista Suzana Houzel, que contem a essência do tema apreciado. “Revelado quando o cérebro adolescente, sensibilizado pelos hormônios sexuais produzidos sob seu controle expressa o caminho que tomou ainda na gestação, a preferência sexual não se escolhe: descobre-se. Por isso, ela é tão correta quanto a cor da sua pele. Tentar mudar a preferência sexual é como insistir que uma pessoa troque a cor da pele, se torne mais baixa ou tenha olhos de outra cor”. Algo que não é justo, tampouco saudável.

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