Na última semana, uma decisão judicial causou polêmica entre pais, educadores e especialistas de educação infantil.
De acordo com a liminar do juiz federal Claudio Kitner, da 2ª Vara da
Justiça Federal em Pernambuco, crianças menores de seis anos podem
cursar a primeira série do ensino fundamental, desde que comprovada a
sua capacidade intelectual por meio de uma avaliação psicopedagógica
feita pela escola.
Para especialistas, a decisão pode causar prejuízos para o
desenvolvimento da criança que, antes dos seis anos, não está pronta
para se adaptar à estrutura escolar do ensino fundamental.
Beatriz Gouveia, especialista em educação infantil e coordenadora de
projetos do Instituto Avisa Lá, em São Paulo, defende que os pequenos
precisam de espaço e tempo adequado para se desenvolver.
— Inseri-los no ensino fundamental é uma violência, porque o sistema é
focado na alfabetização e não é feito para os pequenos. No 1º ano, eles
não terão chance de brincar, desenhar e viver as experiências que só a
pré-escola e a creche proporcionam.
Em sua decisão, o juiz Kitner acatou o argumento do procurador da
República Anástacio Nóbrega Tahim Júnior, de que as regras do CNE
(Conselho Nacional de Educação) "ferem o princípio da isonomia, já que
não consideram as peculiaridades de cada criança" e destacou que as
resoluções anteriores "maculam a dignidade da pessoa humana, ao obrigar
crianças que não se incluam na faixa etária definida no critério das
destacadas resoluções a repetirem de ano, obstando o acesso ao ensino
fundamental, nível de ensino mais elevado, ainda que seja capacitado
para o novo aprendizado".
Entretanto, nesta sexta-feira (20), o MEC (Ministério da Educação),
afirmou que vai recorrer da decisão por meio da AGU (Advocacia-Geral da
União).
Para Andrea Rapoport, doutora em psicologia e autora do livro A
Criança de 6 Anos no Ensino Fundamental, a decisão de adiantar a
escolaridade da criança não pode se basear apenas no desenvolvimento
intelectual, ou seja, na sua capacidade de assimilar os conteúdos
escolares, como ler e escrever.
— É claro que existem crianças que aprendem mais rápido. Mas isso não
significa que elas estejam emocionalmente prontas para ficarem sentadas
na sala de aula aprendendo a escrever. Essa decisão fere os princípios
da infância.
Andrea acredita que muitos pais não reconhecem a importância da
infância e consideram um benefício ter os filhos na escola antes do
tempo.
— Se a criança entrar na escola antes do tempo, também terá que fazer
o vestibular antes e, consequentemente, precisará decidir seu futuro
ainda no ápice da adolescência. Isso pode resultar em adultos
despreparados, que foram colocados muito cedo em uma dinâmica
competitiva.
Para Regina Scarpa, especialista em alfabetização e coordenadora da
Fundação Victor Civita, a avaliação de aprendizagem proposta pelo juiz
para que as crianças entrem na escola pode dar margem a fraudes.
— Um parecer de psicopedagogo sobre o nível cognitivo da criança é
muito subjetivo e dá margem a irregularidades na própria avaliação, que
pode ser mal formulada para que a criança entre na escola antes do
tempo.
R7
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