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quarta-feira, 21 de março de 2012

Assassinatos de mulheres: os kunlangetas da Paraíba

Inácio A. Torres

Foto:Google Imagens
Quando a imprensa paraibana divulgou que dez bandidos mascarados de papangus invadiram uma festa de aniversário na cidade de Queimadas e estupraram sete mulheres e mataram duas delas, no primeiro momento não dava para acreditar que tamanha selvageria pudesse ocorrer na Paraíba e, principalmente numa cidade considerada pacata, como aquela.

Nos dias seguintes, veio a narração exata com esclarecimentos sobre o planejamento e a execução desse estupro coletivo, seguido de homicídios. Para esse feito macabro, popularmente não existe explicações convincentes, por isso recorremos à psicologia e a psiquiatria na busca de um entendimento plausível, contributivo e competente para descrever o crime, as vítimas e seus algozes.

Diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva: “para os psicopatas as outras pessoas são meros objetos ou coisas, que devem ser usados sempre que necessários para a satisfação do seu bel-prazer [...] A piedade e a generosidade das pessoas boas podem se transformar em uma folha de papel em branco assinada nas mãos de um psicopata. Quando sentimos pena, estamos vulneráveis emocionalmente, e é essa a maior arma que os psicopatas podem usar contra nós [...] os psicopatas são seres sem coração mental. Seus cérebros são congelados”.

Esses argumentos possibilitam uma melhor compreensão da ação impiedosa desse bando, podendo-se concluir que o intento perverso era o de cumprir as finalidades peculiares da ação de um psicopata, isto é, o prazer de dominar e de fazer sofrer o outro. A satisfação de causar dor em quem deles eram próximos. Neles acreditavam.

Esses dez indivíduos sentiram prazer diante do sofrimento de suas presas. Acharam-se poderosos para usar e abusar do indefeso. Demonstraram possuir um alto nível de psicopatia com elevado potencial de violência, pois são capazes de espancar, estuprar e matar sem demonstração de compaixão e piedade. São portadores de uma índole perversa onde predomina a insensibilidade e a indiferença para com os seres humanos. Banalizam a vida e o viver.

É bom lembrar que os psicopatas, além de homicídios, praticam outras transgressões sociais, como roubos, estelionatos, tráficos de drogas e humanos, agressões físicas, torturas, violência no trânsito, fraudes financeiras, estupros e maus tratos contra crianças, mulheres e idosos.

Esse caso, ao lado dos assassinatos de Daniela Peres, Eloá Pimentel, Eliza Samúdio e Sandra Gomide, está entre os mais chocantes divulgados pela mídia brasileira, todavia sabe-se que é bem maior essa estatística já que acontecimentos similares permanecem no silêncio imposto pelo medo e ameaça patrocinados pelos malfeitores.

Lamentavelmente, na Paraíba a brutalidade contra mulheres não para. Nessa última semana de fevereiro e primeira de março, a polícia registrou novos casos de violência com homicídios e estupros contra mulheres.

Em Remígio, Lucinete Pereira de Medeiros, uma jovem mulher de 25 anos, foi morta pelo seu cunhado que, conforme reportagem da jornalista Lígia Coeli, “a embebedou [...] a espancou e depois colocou uma corda no pescoço dela e saiu puxando até afogá-la no açude”.

Poucos dias depois, mais um crime macabro, dessa feita na capital, e assim descrito pelo jornalista Felipe Ramelli: “na rua deputado Barreto Sobrinho, no bairro de Tambiá, em João Pessoa, foi encontrado em um carrinho de mão, em frente a uma casa abandonada, próximo ao hospital Santa Isabel, o corpo de uma mulher, assassinada com seis perfurações no pescoço. Seis homens suspeitos foram presos”.

Na cidade de Teixeira, a Polícia Militar prendeu quarta-feira (29/02/12), um pai acusado de manter relações sexuais com sua filha de 15 anos, além de mantê-la em cárcere privado e espancá-la. Na delegacia, a adolescente confessou que seu pai mantinha relações sexuais com ela e que estava grávida dele. Esclareceu a jovem: “Eu vivia trancada em casa, ele me ameaçava e me agredia muito”. A denúncia desse crime foi feita pela irmã da vítima.

Em Itaporanga, a professora Auridélia Inácio da Silva, de 33 anos, foi executada a tiros pelo seu ex-namorado. Como justificativa para tão bárbaro crime, ele disse friamente – conforme noticiou a imprensa - “que perdeu a cabeça ao ver a mulher por quem ainda nutria sentimento ao lado de outro homem”.

Em Bonito de Sana Fé, sexta-feira (02/03/12), segundo informação da Polícia Militar, Edilma Pereira Matheus, 25 anos, foi espancada e depois estrangulada com um cordão de short, pelo próprio marido, um agricultor de 27.

Esses fatos macabros trouxeram-nos à lembrança a palavra indígena kunlangeta, que no idioma yupik, falado pelos Inuítes, um grupo de índios que vive no norte do Canadá, quer dizer “um homem que mente de forma contumaz, trapaceia e rouba coisas e (...) se aproveita sexualmente de muitas mulheres; alguém que não se presta a repreensões e é sempre trazido aos anciãos para ser punido”.

Pois bem, em 1976, a antropóloga americana Jane Murphy, da Universidade Harvard, quando realizava uma pesquisa nessa tribo, quis saber de um Inuíte o que o grupo normalmente faria com um kunlangeta. Prontamente o índio respondeu: “Alguém o empurraria para a morte quando ninguém estivesse olhando”. Embora respeitemos a resposta do índio, somos pela aplicabilidade da lei, para isso ela existe. Nos casos acima citados – lamentavelmente no nosso estado -, pomos a crença de que ela (a Lei) seja cumprida. Esse é também o desejo de todas as famílias enlutadas e do povo paraibano. 

Por fim, um recado salutar. Tome cuidado com pessoas encantadoras à primeira vista. Indivíduo que geralmente causa boa impressão e que entra em nossa vida com facilidade. Pode ser um psicopata. Eles são assim enganadores e megalomaníacos. Divertem-se com o sofrimento alheio. São insensíveis nos relacionamentos amorosos. Detestam compromissos. Têm comportamentos irresponsáveis e desculpas para tudo, mas sempre culpa os outros.

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