Inácio A. Torres
Começamos a escrever para jornais ainda muito jovem. Em seguida,
apaixonamo-nos pelas ciências da saúde e da vida e tornamo-nos um aprendiz
constante dessa área do conhecimento. Graças às amizades no âmbito jornalístico
conhecemos Maria José Limeira no final dos anos setenta. Agora, quando soubemos
da sua morte, entristecemos e choramos. E quem não chora pela morte de um ente
querido?! Essencialmente, quando se trata de uma escritora, uma jornalista, uma
pessoa amiga e muita de luz. Uma mulher simples, inteligente e corajosa.
Quando a conhecemos ela editava o Jornal O Momento, um semanário
paraibano de grande sucesso com linha editorial independente e comprometida com
a verdade dos fatos.
Pois bem. Ela havia lido em algum lugar um texto nosso intitulado “Favela
papelão: pobreza e promiscuidade” e convidou-me para colaborar no referido
semanário. Saúde seria o título da coluna, dado por ela mesma. Aceitamos e
durante mais de dois anos construímos esse trabalho no qual muito aprendemos e
ensinamos.
Como já morávamos em Cajazeiras, enviávamos a matéria através do
correio ou da empresa Transparaíba. Essa distância impossibilitava-nos de
participar de reuniões e encontros com outros membros do jornal, como Jório
Machado (fundador do Jornal), Nonato Guedes (Comentarista político), João
Manoel de Carvalho, a própria Zezé Limeira, como era carinhosamente chamada e
outros. Aqui, em Cajazeiras, a distribuição de O Momento era feita por Arnaldo
Lima.
Mais tarde, editora do Correio da Paraíba, Maria José sempre que nos
solicitava artigos educativos sobre saúde, a atendíamos de imediato. Por ela
sempre nutrimos grande respeito e admiração. Também pudera, quem pode deixar de
admirar um pessoa que não se colocava acima dos outros, que tinha a coragem e
dignidade de olhar nos olhos do outro e dizer a verdade ainda que dolorosa ou,
se necessário, sabia pedir desculpas por alguma falha cometida. Era – conforme
ela mesma - “uma escritora e uma doce jornalista democrática de João Pessoa”.
Maria José Limeira foi uma pessoense que teve seus estudos
interrompidos em 1964 - cursava Filosofia Pura na UFPB – quando foi presa pelas
forças da repressão, no Quartel do 15RI. Indignada pelas injustiças sofridas,
abandonou os estudos e exercitou autoexilo em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Nesse período conviveu com os escritores Assis Brasil, José Edson Gomes,
Vinícius de Morais e Aguinaldo Silva. Nos anos setenta, de volta a Paraíba,
ingressou no jornalismo, iniciando como repórter e posteriormente ocupando
cargos de direção em O Momento, Correio da Paraíba e outros.
Dela guardo com carinho os livros “As portas da cidade ameaçada; O
lado escuro do espelho; Olho no vidro, e Luva no grito”. Maria José escreveu também
algumas peças teatrais. “ Os Maloqueiros” é uma delas que recebeu, em Belo
Horizonte, menção honrosa em concurso de âmbito nacional.
Encerramos com as palavras justas do jornalista Carlos Aranha,
dedicadas a Maria José Limeira: “Depois de Anayde Beiriz, ela foi a figura
feminina mais esfuziante – entre a alegria, o ruído e a bravura contestatória –
desta Paraíba que às vezes apequenina-se por ser madrasta com alguns de seus
melhores filhos... Com a morte de Maria José Limeira, aprofunda-se o sentimento
de que está se acabando a mais rebelde, valorosa e criativa das gerações
culturais na Paraíba entre os séculos XX e XXI”.
Abaixo a última poesia de Maria José Limeira (posta em seu blog –
28/05/2012).
No alto da torre,
Horizonte
Ajudem-me a voar,
Antes que o céu negreje
E meus pés entediados
Espalhem germes
Pelos toscos descaminhos.
Terras pretas, aluviões.
Cândidas, quando praias.
Densas, como cinzas.
Resíduos, sem sobrevida.
Não dá para discernir tudo.
A distância é longa.
O conhecimento, parco.
A saudade, um saco de batatas quentes
Quando verga imperativo sobre o dorso
Debulhando mágoas
Entre ossos e articulações.
Criar asas.
Voar. Seria boa opção,
Dessa altura da torre
Onde o gongo canta
“Bão-balalão-senhor –capitão”,,,
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