Compromisso com a verdade dos fatos

Bem-vindo ao blog Garimpando Palavras

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A solidariedade ajuda na cura do câncer

Inácio Andrade Torres

Um paciente perguntou-me se o câncer tinha cura. Respondi-lhe que sim. Qual o remédio? Insistiu. Vários – disse-lhe. Têm sido utilizados para tratamento do câncer principalmente a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia, mas, - enfatizei – um dos maiores aliados no tratamento de um paciente portador de câncer ou de qualquer outra doença, é a solidariedade. Ela – a solidariedade – mexe com a energia interna das pessoas, restaurando o sistema imunológico comprometido. Eleva a motivação, a vontade de viver e de aceitar as transformações.
Porém, enquanto a solidariedade ajuda a se viver em estado emocional equilibrado, dificultando o aparecimento de doenças, por outro lado o distresse (ou estresse negativo) funciona como fator associado às doenças, inclusive o câncer. É que existe uma ligação forte entre o distresse e o câncer, que permite até mesmo predizer a doença baseando-se na quantidade de estresse negativo sofrida pelas pessoas, em suas vidas cotidianas.
Reduzir o distresse depende do autoconhecimento, da força de vontade e de gestos de bondade de cada um. Esses requisitos promovem a saúde de uma pessoa portadora de câncer, pois concedem um melhor entendimento e aceitação das mudanças em seu modo de vida. Conheço pessoas que ao saber que tinham câncer, buscaram se conhecer melhor e concluíram que, após adquirirem a enfermidade conseguiram melhorar sua qualidade de vida. Aliás, há quem diga que o tamanho do câncer é proporcional ao preconceito, e a cura à capacidade de descobrir as forças mental e espiritual.

Sem dúvida, essas forças podem contribuir para a melhoria do tratamento mobilizando a capacidade de autocura. Há anos, sabe-se que essas forças, quando bem trabalhadas, funcionam em favor da resolução de algumas situações difíceis na vida. Tem sido divulgado também, que para melhorar o desempenho delas, existem algumas regras simples e praticáveis, como fugir de derrotismos, eliminar ódios, aborrecimentos e ressentimentos, estabelecer metas, pensar no futuro com otimismo, realizar técnica de relaxamento, praticar uma religião, participar de grupos de apoio psicoterápicos ou de orações, descontrair-se e satisfazer necessidades reprimidas. 

Como toda doença, - ao contrário do que se imagina – o câncer tem também seus benefícios. O problema é que numa cultura como a nossa, onde pouco se valoriza os sentimentos e as necessidades emocionais vitais, o câncer ainda está bastante associado a mito, tabu e preconceito. 

Na verdade, o câncer envolve muita dor e sofrimento, angustia e depressão, mas resolve problemas da vida das pessoas. É que ao portador de câncer permite-se um comportamento que não seria normalmente aceito se a pessoa estivesse bem. Como os portadores geralmente são pessoas que subestimaram suas necessidades, na vida tiveram mais penas e cuidados com outros do que consigo mesmos, logo têm dificuldades em si permitirem direitos ou benefícios como, serem tratados com mais amor e atenção, aceitarem menos trabalho e menos responsabilidades, enfim menos exigências por parte dos outros.

Quando estamos doentes, conforme a própria racionalidade científica, temos, talvez, a única oportunidade de deixar de lado as responsabilidades e pressões da vida, e simplesmente cuidarmos de nós mesmos sem nos sentirmos culpados ou com necessidade de explicações ou justificativas. A propósito do câncer, já se disse que o sofrimento somente é intolerável, quando ninguém cuida.

A minha experiência no campo da oncologia, leva-me à crença de que o câncer legitima as necessidades emocionais, as quais quando conduzidas sem pieguices, subserviência ou inverdades, contribuem para reverter o estágio da doença, prolongar com melhor qualidade o tempo de vida e até morrer com dignidade. É uma pena que em nossa cultura, pouco ou quase nada discutimos acerca da morte e do morrer. Com isso, perdemos a oportunidade de maior domínio sobre a dor biológica, sobre a harmonia do espírito e do controle emocional.

Encerro com fragmento de uma carta, escrita há 600 anos, pelo médico Lorenzo Sassoli, endereçada a um de seus pacientes. O trecho resume esse artigo e, com certeza, servirá de reflexão para profissionais da saúde e portadores de câncer.

“[...] deixe-me falar sobre coisas com as quais você deve ter muito cuidado. Às vezes, você ficar zangado e gritar me agrada, pois isso o ajudará a manter sua vivacidade natural; o que me desagrada é vê-lo se angustiar e levar todas as coisas a sério. Pois é isso, como ensina a medicina, que destrói nosso corpo, muito mais do que qualquer outra causa”.

Coluna publicada simultaneamente com pbnoticias.com

Nenhum comentário:

Arquivo do blog