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quarta-feira, 6 de julho de 2011

A PREVALÊNCIA DO TRAUMA NO SÃO JOÃO DE PATOS - PARAÍBA

Allan Martins Ferreira*
Colaborador



Os sistemas de urgência e emergência no Brasil vêm nos últimos anos se estruturando para atender a alta demanda da sociedade. A cada ano no nosso país, são mais de 60.000 vítimas fatais no trânsito e 36.000 mortes por armas de fogo, sem falar nos altos índices de traumas causados por violência. Diante do crescimento da sociedade moderna, as unidades de emergência recebem diariamente, um grande contingente de jovens vitimados pela violência social, e o atendimento a essas vítimas geralmente dependem das condições e do esforço dos profissionais envolvidos na assistência.

A emergência é a porta de entrada de um hospital, onde as principais decisões e atitudes acerca da vida do paciente são tomadas. Espera-se que os profissionais que nela atuam sejam capacitados para desenvolver tarefas com eficiência e qualidade. Diante dos altos índices de trauma no nosso cotidiano, principalmente durante o período junino do nosso município, da grande demanda no atendimento e dos problemas existentes nas emergências brasileiras, fez-se necessário realizar um trabalho com o objetivo de investigar e descrever a prevalência do trauma atendido na emergência do Hospital Regional de Patos durante as festividades juninas do município.

Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória-descritiva, de caráter e abordagem quantitativa. Foi realizada a partir da admissão de pacientes traumáticos na emergência do Hospital Regional Deputado Janduhy Carneiro, com exclusão daqueles que entraram vítimas de situações clínicas ou psiquiátricas. Todos os dados foram coletados através do preenchimento de um instrumento, previamente elaborado, com dados suficientes para caracterização do gênero, faixa etária, motivo de admissão e poder de resolução do hospital diante dos casos atendidos. Os dados foram coletados pelos enfermeiros plantonistas da emergência durante o período de São João do referido município, que se compreendeu entre os dias 21 e 28 de junho do ano corrente.

De acordo com os dados, pôde-se observar que 33% (24) das ocorrências atendidas durante os festejos juninos no município de Patos deram entrada na sala de emergência do Hospital Regional no período diurno, enquanto que 67% (49) foram atendidas durante o plantão noturno. Percebe-se através dos dados que o maior número de ocorrências foram atendidas no horário em que acontecem os festejos do município. Entre a totalidade de ocorrências atendidas no período de São João da cidade de Patos, pôde-se contabilizar setenta e três (73) ocorrências, valendo salientar que entraram na pesquisa apenas as ocorrências de natureza traumática.

De acordo com o gênero, nota-se que 78% (57) das vítimas atendidas na emergência durante o período festivo eram do gênero masculino, enquanto que 22% (16) eram do gênero feminino. Esse fato pode ser explicado porque os homens se submetem a condições de vida muito mais propensas ao trauma, aprendem a pilotar motocicletas mais cedo do que as mulheres e estão mais expostos a condições que associam o uso do álcool, fumo e outras drogas a veículos motorizados. Quanto à idade desses indivíduos, observa-se que 6% (4) são menores de 18 anos de idade, 22% (16) se encontram na faixa etária entre 19 e 25 anos, 23% (17) entre 26 e 30 anos de idade, outros 23% (17) entre 31 e 35 anos, 8% (6) se encontra com idade entre 36 e 40 anos e 18% (13) se encontra com idade superior a 40 anos. É possível perceber a alta incidência de indivíduos adultos jovens acometidos por lesões traumáticas. Fica explicito nos dados acima o índice prevalente entre 19 e 35 anos de idade.

Em relação ao motivo de admissão das vítimas na emergência percebe-se que 16% (12) deram entrada no serviço em decorrência de acidentes automobilísticos, 58% (42) das admissões foram por acidentes envolvendo motocicletas, 6% (4) quedas, 7% (5) ferimentos por arma de fogo (FAF), 3% (2) ferimentos por arma branca (FAB), 1% (1) queimaduras, 8% (6) agressões físicas e 1% (1) outros motivos. É notório e claro o alto índice de acidentes com motocicletas, pode-se fazer um somatório de todas as outras ocorrências e notar que ainda não se chegaria ao percentual de acidentes envolvendo motos, que se destacou no estudo com 58% (42) das admissões.

Dessa forma, faz-se necessário investir em políticas de prevenção de acidentes, juntamente com os responsáveis pela segurança pública, para que este número possa reduzir, e assim diminuir conseqüentemente os possíveis óbitos e o aumento no número de sequelados. De acordo com o poder de resolução do Hospital Regional de Patos diante das admissões de pacientes traumáticos, observa-se que 8% (6) das ocorrências que deram entrada no hospital durante o período junino tiveram que ser transferidos para outro centro de referencia (Campina Grande/João Pessoa), enquanto que 92% (67) das ocorrências tiveram resolução no próprio hospital. Dado este bastante significativo, visto que o poder de resolução do hospital deixa satisfeito à população em geral, assim como os familiares daqueles que se encontram a depender dos serviços prestados pela instituição.

A realidade do cuidado e da própria assistência prestada em hospitais de emergência e trauma, só é vivida e explicada por quem faz parte desse cotidiano (o profissional de saúde, em grande parte: enfermeiros), pois, para ele, não existe emergência lotada, horário ou limite para as internações. A equipe de enfermagem mantém sempre o mesmo contingente de trabalhadores e, não raro, trabalham em horário extra, ultrapassando o horário do plantão, pois, em alguns períodos, como no período junino, aumentam os atendimentos e hospitalizações.

Baseado nos dados encontrados no estudo se torna necessário a investigação de alguns aspectos, com o propósito de diminuir os problemas encontrados no setor, qualificando a assistência e eliminando assim as dificuldades encontradas. A existência de padronização de condutas de atendimento às vítimas de acidentes e violências; oferta e adequação de leitos de terapia intensiva; capacitação dos profissionais para o atendimento; existência de articulação inter setorial para melhor atendimento às vítimas; e estruturação e organização dos serviços de atendimento hospitalar, são estratégias que devem ser utilizadas para a minimização das dificuldades encontradas neste setor.

Assim, buscam-se ações e políticas de saúde que se mostrem suficientes para a promoção, a prevenção, a vigilância, e para a atenção aos agravos e às suas seqüelas. É necessário que autoridades e gestores do setor da saúde e de suas interfaces desenvolvam políticas e ações que venham a melhorar as condições de trabalho do profissional no setor e urgência e emergência, assim como para o controle e a prevenção de acidentes e de violências, podendo aos poucos erradicar aquele que é um dos grandes problemas de saúde pública no Brasil e no mundo: o trauma.

*Enfermeiro, Mestrando em Terapia Intensiva pela SOBRATI, Especialista em Urgência e Emergência pela FIP

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