Na sexta feira passada, 29 de abril, quando passava pela Rua Paulo Nunes, Maicon Suélio, 12 anos, filho de Damiana Corrimão ouviu de uma televisão ligada, o locutor em voz esfuziante anunciar:
‘ Alô! Alô amigos do Brasil! Tudo pronto pra começar o maior espetáculo do ano. ’
Atento a voz, procurou através da audição de onde vinha o som, era da casa de Dona Vandira.
Maicon agoniou-se. Tinha hora para chegar em casa. Levava uma trouxa de roupa suja para sua mãe lavar, mas, ia começar o maior espetáculo do ano e com certeza não dava tempo dele chegar lá na Rua Bernardina Alcântara, na Vila Popular onde morava.
- Eita fébi, vai dá tempo não!!!
Dava não. Aproximou-se da casa de Dona Vandira, sabia que se pedisse a ela pra assistir ao espetáculo, ela não abriria a porta pra um desconhecido, mas...
- Nessa hora é tudo longe. Os bar, as casa dos amigos..
Maicon suava e olhava para o tempo, tinha que chegar até o meio dia e ainda tomar banho pra ir ao colégio. O sol fazia gracejos com Monteiro. E o locutor abria a voz...
‘ Não percam daqui a pouco você vai ver um espetáculo único, onde o mundo todo vai parar pra assistir... ’
Maicon tinha certeza que o mundo todo era Monteiro, duas ruas de Zabelê e toda Campina Grande. Foi no Zépa, o Zé Pinheiro, que ele teve o primeiro contato com a maior paixão de sua vida e desde aquele tempo, sempre que ouvia qualquer menção sobre essa paixão, ficava meio que anestesiado, sexta foi um dia desses.
Aproximou-se da janela e ouviu o som da televisão, tentou ouvir o hino do Campinense Clube ou os gritos da Facção Jovem. O locutor acunhava:
‘ Muita gente bonita e ansiosa para acompanhar este grande evento, na Abadia de Uesti Minster..., o enlace matrimonial de Willian e Keiti Midélton...’
( Duas palavras novas: enlace e matrimonial. )
- Deve ser essas coisas qui a televisão inventa, locutô de jogo é amostrado qui só a gota. Agora, eu pensei qui o jogo era contra o Treze, már né não, é com o zistrangêro, um tá de Uéstimisti...conheço não.
Desde quando ainda era menino e saia do Zé Pinheiro, com uma caixa de isopor pendurada no pescoço para ir até o Renatão, na Boa Vista, vender dindim nos treinos do Campinense que ele se apaixonou pelo clube cartola. Seu dia de maior alegria foi quando foi promovido a vendedor no Amigão, o jogo era o Campinense contra o Esporte de Patos, em momento nenhum parou de assistir ao jogo.
Depois de 5 partidas, fora demitido. Ato que coincidiu com sua vinda para Monteiro, e agora se encontrava naquele dilema, em frente a uma casa desconhecida, uma rua diferente e uma voz aparentemente familiar:
- Será Fábio Brito? Oxe, e esse jogo a essa zóra ?
De tanto desespero, resolveu colocar a trouxa de roupa bem próximo à porta da casa de Dona Vandira, e ficou a espreita de algum grito de gol.
Até que a porta da casa abre, ele levanta-se, Dona Vandira sai.
- Tá fazendo o quê ai minino?
- Tava escutano o jogo do Campinense.
- Oxe! E onde tem jogo.
Ele afastou um pouco tentando ver a televisão e apontou pra sala. Dona Vandira afastou-se.
- Que jogo o quê menino, o que está passando é o casamento real.
- O casamento real?
- É na Europa.
- Real?
- É. Nos estrangeiro.
Maicon Suelio olhou de soslaio e com desprezo para a exibição, agachou-se pegou a trouxa de roupa colocou em cima da cabeça e murmurou:
- Tá cá gota. O Campinense jogano contra o Real Madri. Time bom da gota! Duvido qui Rinaldo sabe disso!
E foi caminhando satisfeito rumo à rua onde morava, imaginando o
Campinense entrando naquele campo, o Abadia...
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