Compromisso com a verdade dos fatos

Bem-vindo ao blog Garimpando Palavras

sábado, 9 de maio de 2015

POR QUE O CAMPEONATO BRASILEIRO NÃO É O MAIOR DO MUNDO?


No final de semana que marca o início do Campeonato Brasileiro de Futebol apresentamos um texto simplório e, demasiadamente, longo sobre problemas da organização deste esporte, com uma sugestão, entre muitas existentes, sobre como recuperarmos o sucesso da nossa competição. A ideia é suscitarmos nos amantes do futebol aquilo mais nos atrai: a discussão, a discordância e o debate.

Edileudo Lucena
             A atual realidade do futebol brasileiro tem sido motivo de preocupação, seja em termos de seleção (muito pela imagem fixada em nossas mentes pelo 7 x 1); seja quanto a situação dos clubes nas competições nacionais: suas condições financeiras e estruturais; suas instabilidades quanto ao desempenho nestas competições; e, principalmente, pela prática exercida por dirigentes destes clubes e das entidades que comandam o mais querido dos nossos esportes.

            Observamos que nas análises dos especialistas e na prática dos dirigentes há uma constante comparação entre nossa realidade e o que ocorre em outras partes do mundo, notadamente, nos países europeus. Embora não sejamos contra nos espelharmos nos bons exemplos, entendemos que o problema do futebol brasileiro tem que ser resolvido com ações oriundas de nossas próprias especificidades. Nunca, em nossa história, tivemos um extraordinário exemplo de organização para este futebol, no entanto, este mesmo esporte se tornou o maior vencedor de campeonatos mundiais de seleções, além de títulos, neste nível, conquistado por nossos clubes a exemplo do Santos, Flamengo, Grêmio, São Paulo, Internacional, Corinthians. Sem esquecermos, ainda, o fato de sermos, ao longo dos anos, os maiores exportadores de jogadores para dar nível elevado aos campeonatos europeus.

            Na tentativa de contribuir para encontrarmos uma saída para esta difícil situação, gostaríamos de expressar algumas reflexões sobre o que poderia está contribuindo para este quadro e sugerir ideias para serem adotadas como tentativa de recuperarmos o orgulho e o interesse pelo dia a dia desta prática esportiva. Neste sentido, avaliamos como inconcebível que num país com nossas dimensões, com uma população imensa como a que temos e com a comprovada capacidade de descobrirmos e formarmos novos talentos, adotarmos um campeonato com apenas vinte clubes, e mais, com a queda de quatro equipes para a segunda divisão.

            Temos percebido, então, que esta fórmula tem gerado crises constantes e cíclicas em tradicionais clubes do nosso futebol. Tanto é que, ao término da competição, as discussões são mais voltadas para as crises dos clubes que caem do que com relação ao mérito para a equipe campeã. Os principais focos de análises se voltam para as más gestões, chegando ao ponto de “comemorarmos” a queda do clube como se estivéssemos nos vingando do dirigente, quando, na verdade, a punição recai sobre milhões de apaixonados e sobre a imagem do futebol como um todo. Se é verdade que as ações irresponsáveis destes dirigentes não devem ser relevadas e que medidas de punição, inclusive, com exclusão destes do mundo do futebol devam ser adotadas, ao mesmo tempo, temos que encontrar meios para salvaguardar a vida dos nossos clubes.

            Com vinte clubes na primeira divisão e com esta regra de descenso, mesmo que todos os clubes fossem organizados e estruturados, fatalmente, quatro iriam passar pelo terror do rebaixamento e muitas equipes tradicionais teriam que enfrentar esta situação. Hoje, além das 20 equipes que disputarão a elite do campeonato em 2015, poderíamos citar mais quatorze clubes (Botafogo, Bahia, Vitória, Ceará, Fortaleza, Atlético (GO), América (MG), Paysandu, Paraná, Náutico, Santa Cruz, Juventude, Portuguesa, Guarani) todos com condições de disputar uma primeira divisão, isso porque, têm história, têm torcida, têm representatividade regional e, sobretudo, ofereceriam um maior campo de possibilidades para descobrimos novos talentos o que traria benefício para o engrandecimento do nosso futebol. Neste mesmo raciocínio, poderíamos listar mais outros vinte a vinte e cinco clubes brasileiros que já fizeram história em nosso futebol e que hoje se encontram à margem deste processo.

            Ainda, no mesmo sentido, nos questionamos: será que se tivéssemos mais clubes no Nordeste com oportunidades de participar de grandes competições nacionais, o Diego Costa teria deixado o Sergipe para ir brilhar diretamente na Europa? Será que Hulk, saído direto da Paraíba? Será que Firmino teria ido de Alagoas despontar no mundo para ser descoberto pela seleção?

            Certamente, e até pode ser verdade, alguém pode argumentar que a maioria destes clubes se apequenaram por seus próprios problemas internos. Mas reflitamos: nesta estrutura de disputa da competição oficial, como um clube pode projetar uma reestruturação mais lenta e a longo prazo, ou até mesmo promover investimentos mais audaciosos se a regra possibilita grandes riscos quanto a uma continuidade na divisão de elite? Neste quadro imaginemos: como uma equipe que acabou de subir da série A para B poderá ter segurança para investir na formação de um time de ponta, se a probabilidade ( pelo peso da camisa, pelas naturais dificuldades da própria competição) é de ela ser, no final do campeonato, uma das quatro da zona de rebaixamento? Numa outra situação: se uma equipe “grande” do futebol brasileiro disputa a série B, por razões lógicas, não poderá manter uma equipe de nível A, mas ao subir, no ano seguinte, tem um tempo curto para, obrigatoriamente, formar um grupo com outro nível. Tudo isso, prejudica a projeção de um trabalho de continuidade, a organização e o planejamento de qualquer equipe para se adequar e se manter dentro desta estrutura, hoje, adotada para o campeonato nacional.

            Ao mesmo tempo percebemos que nos miramos tanto na organização dos campeonatos europeus e não observamos que, enquanto o Brasil tem um território mais de 16 vezes maior que a Espanha, lá a primeira divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3; enquanto o Brasil tem um território de aproximadamente 15 vezes maior que a França, lá a primeira divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3; enquanto o Brasil tem um território de aproximadamente 23 vezes maior que a Alemanha, lá a primeira divisão é disputada por 18 equipes e só caem 3; enquanto o Brasil tem um território mais de 28 vezes maior que a Itália, lá a primeira divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3; enquanto o Brasil tem um território de aproximadamente 65 vezes maior que a Inglaterra, lá a primeira divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3. Nunca é demais reafirmar que neste Brasil imenso, temos 20 equipes na primeira divisão e 4 caindo.

            Diante da imensidão do nosso Brasil e do seu histórico futebolístico, chegamos a reflexão de que uma das possibilidades de saída para amenizar esta crise seria a realização de um campeonato brasileiro com 28 a 30 equipes e com a queda de dois ou três para a divisão de acesso. Na nossa visão, desta forma, estaríamos oferecendo mais condições, tranquilidade e maior tempo para planejamento e estruturação de nossos clubes; estaríamos oferecendo mais motivação para o torcedor, inclusive de outras regiões que, hoje, dispõem de Arenas moderníssimas; e um maior tempo de competição nacional (com facilidade é possível promover uma adequação no calendário, inclusive, com nova roupagem aos estaduais), além de outras consequências positivas já analisadas.

            É obvio que para cada proposta ou sugestão, para cada tese aqui levantada, vai ter sempre um contra-argumento. Porém, como amante do nosso futebol, mesmo correndo o risco de termos externado utopias e expressado ideias impraticáveis, entendemos que reflexões como estas se não simbolizam um gol marcado em favor de nosso futebol, deixa-nos com a sensação de termos dado, ao menos, “uma assistência” para quem tem a competência e a prerrogativa, marcar o tento que tanto necessitamos para a vitória do nosso futebol e, porque não dizer, para alegria do povo brasileiro.

Edileudo de Lucena Medeiros – Professor de História da Rede Pública (Patos-Paraíba), Bacharelado em Comunicação Social ( Jornalismo) – Ex-Presidente de Clube de Futebol Profissional da Cidade.




Nenhum comentário:

Arquivo do blog