IARA DA SILVA MACHADO
Dei-vos
tais coisas para que minha alegria possa estar convosco, e para que vossa
alegria possa ser plena.
João
(15:11)
A
alegria pertence ao reino das sensações corporais positivas. Não é uma atitude
mental. Não se pode decidir ser alegre. As sensações corporais positivas
começam partindo de uma linha de origem que pode ser descrita como “boa”. O seu
oposto é sentir-se “mal”, o que significa que, em vez de uma excitação
positiva, há uma excitação negativa de medo, desespero ou culpa. Se o medo ou
desespero for muito grande, a pessoa reprimirá todo sentimento, caso em que o
corpo se torna insensível ou sem vida. Quando os sentimentos são reprimidos, a
pessoa perde a capacidade de sentir, que é a depressão, um estado que
infelizmente pode tornar-se um modo de vida. Por outro lado, quando a excitação
prazerosa aumenta, a partir da linha de origem de uma sensação boa, a pessoa
conhece a alegria. Se a alegria transborda torna-se êxtase.
Quando
a vida do corpo é vibrante, o sentimento assim como o tempo, é variável.
Podemos estar sentindo raiva num momento, depois afeto, e chorar a seguir.
Assim como o sol pode aparecer depois da chuva, a tristeza pode transformar-se
em prazer. Essa mudança de humor, assim como uma mudança no tempo, não
compromete o equilíbrio básico da pessoa. As mudanças acontecem na superfície e
não perturbam as pulsações profundas que proporcionam uma sensação de bem-estar
a pessoa. A repressão do sentimento é um processo de insensibilização que
diminui a pulsação interna do corpo, sua vitalidade, seu estado de excitação.
Por esse motivo, reprimir um sentimento é reprimir todos os outros. Se
reprimimos nosso medo, reprimimos nossa raiva. A repressão da raiva resulta na
repressão do amor.
Nós,
seres humanos, somos ensinados cedo na vida que certos sentimentos são “ruins”,
enquanto outros são “bons”...como os sentimentos são a vida do corpo, julga-los
bons ou maus é julgar o individuo, e não os seus atos.
Condenar
qualquer sentimento é condenar a vida. Os pais costumam fazer isso, dizendo ao
filho que ele é mau por ter certos sentimentos. Isso é especialmente verdadeiro
quando se trata de sensações sexuais, mas também se aplica a outras sensações.
Os pais geralmente humilham um filho por ele ser medroso, o que obriga a
criança a negar seu medo e agir com bravura. Mas não sentir medo não significa
que a pessoa sinta coragem. Apenas que a pessoa não sente.
Sentir
é perceber um movimento interno. Se não há movimento, não há sentimento. Sendo
assim, se a pessoa deixa o braço pender imóvel por vários minutos, ela acaba
não sentindo esse membro. Dizemos que “dormiu” (dormente). Esse princípio serve
para todos os sentimentos.
Nos
tratamentos especializados de saúde mental, psicológica e integral, na
liberação dos sentimentos reprimidos, das recordações de um período primitivo
da infância, em beneficio da “sobrevivência”, no aprofundamento do self, também
vamos adquirindo coragem para lidar com os medos e traumas de um modo maduro,
sem negação ou repressão, porque em algum lugar, bem no fundo de cada um de
nós, está a criança que era inocente e livre e que sabia que a dádiva da vida
era a dádiva da alegria.
Fonte:
LOWEN, Alexander. Alegria: A entrega ao corpo e a vida. Summus Editorial.
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