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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Liga Pela Paz para educação emocional e social – a construção da não-violência


A paz é o caminho para que a humanidade seja feliz. Em tempos de globalização a felicidade parece uma conquista difícil. Porém, nas duas últimas décadas o Brasil experimenta uma prática que cultiva o desenvolvimento humano por meio da educação emocional e social que já alcança resultados positivos em 19 estados. Estamos falando da organização Inteligência Relacional fundada pelo professor João Roberto de Araújo. Para conhecermos um pouco desse trabalho pioneiro no país nós entrevistamos o educador que muito tem contribuído com a difusão da cultura de paz a partir das escolas. Com a palavra o Mestre em Psicologia Social, João Roberto de Araújo, idealizador da Metodologia Liga Pela Paz para educação emocional e social.

Agenda Paraíba – Como surgiu a Liga Pela Paz?

João Roberto de Araújo – Veja bem, eu oriento um grupo de profissionais que integra uma organização que se chama Inteligência Relacional. Essa organização tem psicólogos, pedagogos, enfim, um pessoal ligado à área de desenvolvimento humano. Há mais de 20 anos a Inteligência Relacional presta serviços na área de desenvolvimento humano em geral. Por volta de 1999, 2000, nós colocamos muito foco na questão do desenvolvimento de cultura de paz e começamos com trabalhos nos estados de São Paulo e de Minas construindo um programa que nós chamamos de Cidades pela Paz, que tinha o objetivo de trabalhar com duas grandes perguntas. A primeira pergunta é porque o ser humano fica violento? E aí trazendo todas as contribuições da ciência, da antropologia, da sociologia, da psicologia, enfim. Afinal o ser humano nasce violento? Qual o papel da cultura, da família e etc. E a outra pergunta era o que fazer já que a violência existe, o que fazer para reduzir e prevenir a violência no futuro.

No desenvolvimento desse trabalho nós encontramos um movimento na área da ciência que veio se desenvolvendo desde a década de 70 com estudos sobre o cérebro, as emoções, então nós investigamos uma vertente científica bem consistente em pesquisa que fala sobre as inteligências. Na década de 80 tivemos uma contribuição importante sobre as inteligências múltiplas, mostrando que inteligência não é só lógica, matemática, que tem outras inteligências. Na década de 90 se popularizou a ideia de inteligência emocional, que foi um avanço grande.

E nós entramos na última década já com uma consciência muito grande de que a inteligência emocional é uma inteligência muito importante, matriz. As outras inteligências estão acopladas fundamentalmente à inteligência emocional. As pesquisas, os estudos nessa área se encontraram principalmente nos últimos quinze anos com a área da pedagogia e nasceu um campo novo na educação que se chama educação emocional e social. Esse campo da educação emocional se apresenta como uma resposta mais consistente na construção da paz. Trata-se da resposta mais científica, mais estruturada para ir além de um discurso de que a paz é importante; ir além de um concurso de cartaz, de uma passeata, de uma manifestação difusa. Hoje nós temos como sinônimo que educar para as emoções é educar para a paz. A Inteligência Relacional nos últimos sete, oito anos tem um foco muito grande na educação emocional e social e com isto construiu um metodologia, uma forma de desenvolver a inteligência emocional, de educar para as emoções nas escolas e essa metodologia se chama Liga Pela Paz. E nesse momento esse é o tema mais forte, uma vez que hoje os grandes pensadores entendem que a educação emocional é o maior desafio da educação deste século. Nós já sabemos que ensinar matemática, geografia, linguagem é importante, mas, que as emoções são o alicerce de tudo isto, até porque elas têm uma contribuição fundamental para que uma pessoa aprenda melhor e essa dimensão não cognitiva representa os novos ventos na área da educação, que a metodologia Liga Pela Paz incorpora.

Agenda Paraíba – A metodologia Liga Pela Paz já está presente hoje em quantos estados?

João Roberto de Araújo – Nós já tivemos implantação em 19 estados, temos hoje uma extensão grande de escolas individualmente que fazem a opção, de Secretarias Municipais, e no caso da Paraíba é uma decisão em nível estadual por meio da Secretaria Estadual de Educação, por isso abrange mais de 400 escolas e 139 municípios.

Agenda Paraíba - Como o senhor avalia a decisão do Governo da Paraíba em fazer opção pela metodologia Liga Pela Paz?

João Roberto de Araújo – A Secretaria de Estado da Educação da Paraíba vem fazendo um esforço muito grande para melhorar os índices de aprendizagem, para que as crianças aprendam melhor e mais facilmente os conteúdos que são colocados especialmente no Ensino Fundamental e foi criado na Paraíba o “Programa Primeiros Saberes da Infância” (PPSI) e a ideia é que ele estruture mais o processo educativo nas diferentes escolas, nos diferentes municípios. Houve a compreensão de que a Liga Pela Paz, com a sua metodologia, tem um casamento muito ajustado ao PPSI porque ela estrutura, existe um plano, uma forma de orientar para que as escolas não fiquem soltas. É muito bom que uma escola tenha autonomia pedagógica, mas é muito importante que as escolas conversem e ajustem um processo pedagógico para desenvolver durante o ano letivo os conteúdos.

O que eu entendo, que é o ponto central, é que não é na Paraíba, são em todos os estados, em todos os lugares, a educação está procurando respostas para duas coisas fundamentais: melhorar os índices de aprendizagem e reduzir a violência na escola, educar para a paz. Então como a nossa metodologia atende a essa demanda houve o interesse da Paraíba de implantar a Liga Pela Paz, mas ela está muito ajustada a uma política que já vinha sendo desenvolvida com êxito junto à Secretaria de Educação.

Agenda Paraíba– Quais os caminhos para a construção da paz?

João Roberto de Araújo –Eu penso assim, no enfrentamento da construção da paz, nós, já há muitos anos, estamos reiterando a compreensão de que é melhor construir a paz do que combater a violência, embora isso pareça a mesma coisa. Porque a construção da paz tem um processo muito mais complexo e elaborado.

Mas, nós temos hoje três grandes respostas para o enfrentamento da violência, é uma síntese que eu faço:

Uma eu chamo de repressão legítima. Ou seja, se alguém está sendo ferindo, está produzindo dor e sofrimento ao outro, é preciso reprimir e essa repressão, sendo legítima, é válida, é necessária. Porque se alguém está ferindo, matando, ofendendo a integridade física de alguém é preciso uma ação repressiva que envolve a melhoria da lei, envolve a justiça e envolve os órgãos de segurança pública. Nós ainda acreditamos que, é óbvio, isso ainda vai demorar, vai persistir por muito tempo, que a repressão é algo importante, porém, é muito importante que a sociedade entenda que a repressão não é suficiente. A repressão não dá conta de resolver o problema da violência na sociedade. Polícia e justiça não enfrentam o problema nas suas raízes. É preciso que a sociedade vá além das ações repressivas. Hoje, a maioria das pessoas quando indagadas sobre o que fazer para enfrentar a violência, respondem, acho que mais de 80%, mais polícia nas ruas, mais armamento, subir o muro e etc, que são ações repressivas. Elas são importantes, precisam se aperfeiçoadas, nós precisamos de polícia mais eficaz, mais tecnológica, porém não é suficiente, precisamos de uma justiça mais ágil, mas, não é suficiente. Então, nós precisamos, além da repressão legítima, é ir para outro eixo que é o eixo das ações sociais: mais emprego, mais oportunidade de renda, mais habitação, mais alimentação. Os problemas de bolsões de miséria favorecem o aparecimento da violência, portanto, é necessária uma ação social que reduza a pobreza material. Mas, aí também é preciso tomar cuidado porque a verdadeira razão da violência não é a pobreza material, é a pobreza mental. Existe violência na classe pobre, na classe média e na classe rica. De forma que nós temos um terceiro eixo, que é esse que a Liga Pela Paz atua, que é o eixo da educação. Os três têm que atuar harmonicamente.

Agenda Paraíba – E como vai hoje o enfrentamento da violência, ou a construção da paz no Brasil, na sua visão?

João Roberto de Araújo –Eu acho que no discurso político das lideranças a ênfase em segurança pública, na ação repressiva ainda é muito grande. Nós já evoluímos para o eixo das ações sociais. O discurso político já incorpora a necessidade de uma ação social para reduzir a violência, mas ainda nós não conseguimos compreender a importância de reduzir a violência pela educação porque a violência é ignorância e ignorância fundamentalmente se enfrenta com educação. E esta é a proposta que vem sendo implantada na Paraíba com a Liga Pela Paz.

Agenda Paraíba – A base, o alicerce de tudo é mesmo a educação, não é, professor?

João Roberto de Araújo –A questão fundamental é que não se constrói um bom cidadão profissionalmente em cima de um cidadão eticamente, emocionalmente reduzido. Então essa ênfase de que a boa educação só é aquela que aprova no vestibular é uma coisa que logo nós vamos rir disso. É obvio que é importante toda essa dimensão cognitiva, mas a educação vai além de aprovar no vestibular e criar condições para o sucesso profissional. É preciso educar para a vida. E a educação hoje ainda está muito distante. Por isso é muito louvável essa iniciativa da Paraíba porque é avançada, é pioneira. Tem a coragem, não é só subir o muro da escola, não é só aumentar polícia no bairro para enfrentar a violência. É preciso construir a paz pela via da educação e isto está dentro da metodologia da Liga Pela Paz.

Agenda Paraíba - Qual sua mensagem ao educador brasileiro sobre o enfrentamento à violência?

João Roberto de Araújo –É nossa alegria ter parceiros no Brasil que levam a sério e que compreendem a importância da educação emocional como resposta a três coisas: deixar a criança mais feliz, não só mais inteligente, mas também mais feliz porque ser feliz é importante. Segundo ponto é melhorar os índices de aprendizagem. Há pesquisas da UNESCO mostrando que o clima emocional da escola é a variável mais importante para uma criança aprender melhor os conteúdos, inclusive matemática e linguagem. E o terceiro ponto é a redução da violência melhorando a convivência entre as pessoas. A minha mensagem é que não se chega ao aluno sem passar pelo adulto, pelo educador, que é referência. A alma de todo esse programa é o professor que está na sala de aula. Tenho um profundo respeito ao educador que enfrenta toda essas dificuldades sociais dentro da sala de aula e que, ainda com todas as dificuldades, mantém o otimismo, a vontade, mantém o interesse e o sonho de resolver os grandes problemas, de reduzir as dores humanas através da educação. Porque repito: a violência que tanta dor promove é ignorância e ignorância nós enfrentamos com educação.


Para melhor conhecer esse projeto exitoso o site www.agendaparaiba.com recomenda consultas no portal http://www.inteligenciarelacional.com.br/

Síntese Curricular:

• Prof. João Roberto de Araújo é fundador e orientador estratégico da Inteligência Relacional, organização pioneira no Brasil em pesquisa, criação de material pedagógico e formação de educadores para a educação emocional e social.
• Autor dos livros:
o “Liga Pela Paz” para alunos do ensino fundamental.
o “Educação emocional e social – um diálogo sobre Arte, Violência e Paz”.
o “Ensinar a Paz – Ensaio sobre educação emocional e social”.
o “Liga Pela Paz: Educando para as emoções – A Teoria na prática”.
• Comentarista da Rádio CBN Ribeirão na coluna Educação para a Vida.
• Mestre em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – USP.
• Professor visitante da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara – EUA, no Centro de Mudanças Educacionais.
• É idealizador da Metodologia Liga Pela Paz para educação emocional e social, qualificada pelo Ministério da Educação.
• Orientador de programas de desenvolvimento de cultura de paz e não violência, em vários municípios brasileiros.
• Estudioso da cultura grega antiga e ex-professor de mitologia na Faculdade de Psicologia da Universidade de Ribeirão Preto/SP.
• Empreendedor de eventos socioeducativos e culturais, destacando-se:
o Seminário Internacional “Reinventando o Governo” com Ted Glaeber em 1994;
o Organização da visita e seminários com Dalai Lama no Brasil em 1999.
• Palestrante no exterior, destacando-se eventos da UNESCO em parceria com a GLOBALNET nos seguintes países:
o Suíça/Genebra
o Tailândia/Bangkok
o Índia/Chennai
o EUA/Washington
• Palestrante no Brasil, destacando-se:
o Brasília/Brasil, MEC – CONAE.
o Brasília/Brasil, Câmara dos Deputados / Comissão de Educação e Cultura
o Brasília/Brasil, Câmara dos Deputados / Comissão Especial para Prevenção de Drogas
o Brasília/Brasil MEC / Programa Mais Educação

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