Inácio A. Torres
Rui Barbosa, em 1920,
dizia na sua linguagem erudita, que a política afina o espírito humano, educa
os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a
coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.
Já sobre a politicagem
ele disse: é o jogo da intriga, da inveja e da incapacidade. É uma palavra que
não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Rima bem com criadagem
e parolagem, afilhadagem e ladroagem.
Nos anos noventas, José
Cavalcante, S. Zé, considerado um dos escritores mais populares do nordeste,
autor de Potocas, piadas e pilherias; casca e nó; gaveta de sapateiro, bisaco
de cego; quengada de matuto; caga-fogo; carga torta; arranca-toco e outros
livros de consagração popular, escrevendo sobre o mesmo tema emitiu conceitos
picantes, satíricos, porém verdadeiros. São frases curtas, engraçadas e sérias,
que têm a capacidade de fazer a gente sorrir falando-se – sem demérito - de
coisas sérias.
Seu saudável senso de
humor dos palanques de comícios e da tribuna da assembléia ficou impresso em suas
obras. Sempre alegre e firme; competente e habilidoso, escreveu 350 máximas
sobre a política e os políticos. Dessas, extraímos algumas que certamente
poderão servir aos candidatos e ao povo como reflexões a serem aplicadas ou
reproduzidas em momentos oportunos, como por exemplos: debates em câmara de
vereadores, participação em programas de rádio, ou em conversas amenas de
barzinhos. Desejamos que façam delas bons proveitos neste ano eleitoral.
Leia-as a seguir.
“A bajulação política é
como labareda: destrói a quem abraça.
Geralmente o político
pobre é como o jaboti: tem as pernas curtas.
A vaidade política é
como água salgada: quanto mais se bebe mais aumenta a sede.
Eleitorado de político
pobre é como o eco: responde, mas não vem.
Política é como amante
de velho: quanto mais fala, mais mente; quanto mais mente, mais promete; quanto
mais promete, mais engana e quanto mais engana, mais apaixona.
Político em campanha é
como motorista de taxi: se oferece sem ser chamado.
As lágrimas de um
político são mais suspeitas do que as de um rato no enterro de um gato.
Não faltará assunto
para um político jeitoso: ensina a tocar viola sem corda.
Empenhar tudo para não
ser derrotado: depois da onça morta, até os cachorros lhe mijam na cara.
Um contraste de quase
todo político: amar a traição e odiar o traidor.
O político é um
indivíduo que pensa uma coisa, diz outra e faz o contrário.
Para quem não tem vergonha,
bajular os políticos da situação é muito mais proveitoso do que trabalhar.
É de se reconhecer que
os políticos honestos empobrecem nos mesmos cargos em que os velhacos ganham e
enriquecem.
O político que deseja
diminuir os seus traidores, comece antes a diminuir os seus bajuladores.
Fazer política sem
vocação é querer colocar lente de contato em olho de vidro.
O político que gasta a
maior parte de seu tempo em criticar os seus adversários, não faz outra coisa,
senão antecipar a sua vingança.
A política é como a
mulher bonita: é duas vezes desejada - uma pelo que mostra e a outra pelo que
esconde.
A tirar por mim,
cheguei a conclusão de que na política há três coisas negativas: a velhice, a pobreza
e a feiúra”.
Pensata
A palavra política
deriva-se do grego e indica todos os procedimentos relativos à cidade ou ao
estado, estendendo-se o significado à sociedade, comunidade e coletividade,
além de outras definições referentes à vida urbana.
Hoje política é a arte
ou ciência da organização e da gestão de países, estados e municípios e, no
regime democrático, chama-se de ciência política as atividades desenvolvidas
pelos cidadãos que ocupam-se dos cuidados e assuntos públicos com seu voto ou
com sua militância.
Dizia José Américo: a
política é a arte do bem comum. E como seria bom que candidatos e eleitores
tivessem esse entendimento, mas poucos têm. Lamentavelmente, são poucos os bons
políticos, como também poucos são os bons eleitores. Um dos motivos dessa
situação: ausência de independência e de liberdade das pessoas. De fato,
torna-se impossível dizer-se independente quando se vive de emprego por apadrinhamento,
sem ter o que comer, nem o que vestir, nem onde morar. Pior ainda: sem
garantia de autonomia mesmo vivendo
junto do poder.
Daí serem válidos os pensamentos
de Rui Barbosa e de Zé Cavalcante. Eles representam o erudito e o popular.
Juntos servem para definir o “esplendor e a sepultura” – para citar Olavo Bilac
- que envolvem a política e os políticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário