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domingo, 22 de maio de 2011

Tiquinha, a ex.


Efigênio Moura ( contato@efigeniomoura.com.br)


A chuva despencava d’uma altura inimaginável. Normalmente é assim, cai de muito alto. No centro de Monteiro, embaixo da proteção do Posto W3 a chuva também fazia barulho e servia de abrigo para quem não queria e nem podia se molhar.
Abraçado ao próprio corpo, Gustenvaldo, o Gutin, se aproximava a passos largos fugindo do toró, fugia também de alguns problemas.
Um deles era assombroso: Tiquinha, sua ex-mulher e atual sogra.
Desde que saíra de Amparo, fugido, trazendo a tiracolo Lourdinha sua enteada mais velha, que vinha recebendo ligações a cobrar de Tiquinha, ameaçando dar uma surra e até capar o próprio Gustenvaldo.
- Issé um azá da bixiga. Além de sogra, ex-mulé!
Observado ao longe por Walter e Veronilton, Gutin em posição de morcego dorminhoco, parecendo mais um sibito encharcado, ele, o Gutin, não percebeu aquele vulto largo e grande aproximar-se.
- tu achava qu’ia se iscondê era féla duma quenga?
O barulho da chuva não permitia Gutin ouvir, e continuava lá, feito um papasebo ensopado.
- Além de corno, é môco!
Por motivos conhecidos, aquele vulto falante mantinha uma distancia de segurança, e para o alvo disparava um desabafo recheado com maribondos da bunda encarnada.
- Se apêi da covádia caba safado.
Gutin espiava cair à chuva e olhava vez e quando pra cima aguardando o barulho parar e pensava em Lurdinha, na troca que havia feito, no fogo dela, nas curvas que a ex não tinha, no dengo e no pecado.
Ria e saboreava o pensamento, isso mantinha fechados os ouvidos.
Tiquinha já gritava e começava a ser arrodeada pelos frentistas...
- Fi duma póica! Tu vai pagá infitéte...Tu inda vai virá caivão nos fogo dos infernos...
Era nada de voz dela que chegava aos ouvidos dele. A chuva caia...
- Ô só queria tu cá camisa do Nático no mêi da trocida do Isport, no finzinho do jogo cum o Santa Cruiz...Tu num diz quié macho!!!
Veronilton tentou ajudar. Se dirigiu até Gutin  antes que chegasse foi acuado pelos gritos de Tiquinha, no alto de sua ira...
- Vô fazê um catimbó tao miserávo de grande qui tu num vai nem alevantá farso, nem tu nem quem te ajudá, gota serena.
Veronilton colocou as mãos na parte e recuou.
A chuva enfim começava a fraquejar, a roupa de Gustenvaldo já quase seca, com o pensamento em Lurdinha, foi virando devagar, buscando melhor posição, se aprumando pra ir arrumar qualquer coisa para jantarem...
Ainda esbaforida, Tiquinha ajeitou o sutiã, passou a mão na cintura, esfrego-as e  se decidiu
- Vou dar na cara dele e é  agora...
E partiu...
Nesse mesmo momento Gutin se virou e meio embaçado viu a ex-mulher e atual sogra se aproximando, era uma visão de uma jamanta sem freio na ladeira da Sé, se espantou.
- Valei-me meu São Benedito, me lasquei!!!

Pra completar a cena, Junior, na exata linha que separava igualmente o território de cada um, joga um peito de véia (bomba de são João), o pipoco fez cada um correr em lados opostos, numa carreira mais desmantelada, que carreira de vaca, como diria Flávio Leandro.
Gustenvaldo e Tiquinha foram vistos pela ultima vez, encostados na parede da casa de Nanado Alves, numa conversa muito particular. Depois da janta, claro.

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