Janduhi Dantas (poeta, professor, cordelista)
A grande festa da cidade fazia-se ver e ouvir pela gente que habitava os arredores da Rua Grande – a roda-gigante fazia um grande círculo luminoso no céu; as velhas difusoras, histéricas, gritavam suas novas modinhas; os foguetões pipocavam lá em cima, quase ferindo as estrelas, imaginava eu e meu irmão menor.
Tudo era alegria, convite à Festa da Padroeira, às ruas cheias de gente.
À noitinha, chegava meu pai da sapataria com os presentes, feitos pelas suas próprias mãos, para os dois filhos menores: dois pares de botas que, de tão brilhosos, refletiam nossos rostos sorridentes. À vista de meu pai, ficávamos agradecidos e comportados. Mas bastava ele sair da sala, a caminho do banho, para que tivesse vez então a hora do “batizado” – saíamos correndo pela casa um atrás do outro a fim de manchar com pisoteios e cusparadas o calçado alheio.
Mas a festa não era motivo de alegria apenas para os menores, todos se alegravam. Nossas duas irmãs passavam o dia todo ao pé de minha mãe, vendo-a fazer-lhes os vestidos novos. E os dois irmãos maiores também se mostravam ansiosos, apesar de terem que trabalhar para seus próprios gastos.
A Festa da Padroeira para nós, uma pobre e feliz família de oito pessoas, era um grande acontecimento. Para os velhos, era sempre uma volta ao passado, ao tempo de namoro; fora ali que se conheceram. Da infância, trago aquela cena: os dois felizes, de mãos dadas, passeando pela festa, cercados por um mundo de filhos.
No ar que respirávamos havia um cheirinho bom de felicidade – se é que felicidade tem odor. Mas tinha. A felicidade cheirava nos algodões-doces que deliciávamos; no perfume que usávamos e até mesmo em nossas roupas suadas do carrossel, dos cavalinhos, da roda-gigante...
Os dois maiores se perdiam pelas ruas, em busca dos jogos de azar e dos grandes balanços das canoas. Para os quatro menores, a festa era a bonequinha que podia pescar um número e nos sortear com um vidrinho de perfume, uma bola; os balões coloridos, pipoca, sorvete...
Voltávamos lambuzados de sorvete, de maçã confeitada e de cachorro-quente – a roupa nova com manchas da festa. A alma é que voltava limpa, sem nenhuma nódoa.
Éramos felizes.
A grande festa da cidade fazia-se ver e ouvir pela gente que habitava os arredores da Rua Grande – a roda-gigante fazia um grande círculo luminoso no céu; as velhas difusoras, histéricas, gritavam suas novas modinhas; os foguetões pipocavam lá em cima, quase ferindo as estrelas, imaginava eu e meu irmão menor.
Tudo era alegria, convite à Festa da Padroeira, às ruas cheias de gente.
À noitinha, chegava meu pai da sapataria com os presentes, feitos pelas suas próprias mãos, para os dois filhos menores: dois pares de botas que, de tão brilhosos, refletiam nossos rostos sorridentes. À vista de meu pai, ficávamos agradecidos e comportados. Mas bastava ele sair da sala, a caminho do banho, para que tivesse vez então a hora do “batizado” – saíamos correndo pela casa um atrás do outro a fim de manchar com pisoteios e cusparadas o calçado alheio.
Mas a festa não era motivo de alegria apenas para os menores, todos se alegravam. Nossas duas irmãs passavam o dia todo ao pé de minha mãe, vendo-a fazer-lhes os vestidos novos. E os dois irmãos maiores também se mostravam ansiosos, apesar de terem que trabalhar para seus próprios gastos.
A Festa da Padroeira para nós, uma pobre e feliz família de oito pessoas, era um grande acontecimento. Para os velhos, era sempre uma volta ao passado, ao tempo de namoro; fora ali que se conheceram. Da infância, trago aquela cena: os dois felizes, de mãos dadas, passeando pela festa, cercados por um mundo de filhos.
No ar que respirávamos havia um cheirinho bom de felicidade – se é que felicidade tem odor. Mas tinha. A felicidade cheirava nos algodões-doces que deliciávamos; no perfume que usávamos e até mesmo em nossas roupas suadas do carrossel, dos cavalinhos, da roda-gigante...
Os dois maiores se perdiam pelas ruas, em busca dos jogos de azar e dos grandes balanços das canoas. Para os quatro menores, a festa era a bonequinha que podia pescar um número e nos sortear com um vidrinho de perfume, uma bola; os balões coloridos, pipoca, sorvete...
Voltávamos lambuzados de sorvete, de maçã confeitada e de cachorro-quente – a roupa nova com manchas da festa. A alma é que voltava limpa, sem nenhuma nódoa.
Éramos felizes.
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