Por Misael Nóbrega de Sousa
Mário Soares morrera como vivera grande parte de sua vida: sozinho. Não era um sujeito de muitos amigos. Mas, quem são de fato os nossos verdadeiros amigos? Isso não quer dizer, entretanto, que Mário era um desamparado; nunca. Ele fazia dele mesmo a sua muleta. Um irrequieto. Mário era de temperamento difícil e dócil ao mesmo tempo, sofria de transtorno de ansiedade. Sofria por querer viver. Era de uma garra e também de uma inércia... Ele era emblemático. Um símbolo de resistência da pouca vaidade e da insistente vontade de ser reconhecido. Ele era um Mário Soares de Oliveira, só.
Sentiu-se mal hoje cedo, retirou-se para um canto da biblioteca municipal, onde trabalhava como gerente de cultura e ali deu seu derradeiro suspiro entre nós; não deve ter levado nenhuma lembrança desta vida– uma dor intensa no tórax; um infarto fulminante; um adeus. Dissera estar se sentindo mal e pediu para que lhe fizessem um chá: um pouco ofegante e com a mão pousada ao peito, sentou-se num banquinho de canto de muro, onde cresce um jardim meio sem graça.
No mesmo local que morrera, vestiram-lhe o corpo. Nada é mais dispensável do que uma vestimenta de cadáver. Fazia sombra, havia pessoas da família e curiosos; colegas de trabalho; havia também quem não conhecia a história de Mário Soares; uma conversa miúda; gracejos que não tinham nada a ver com a cena. E como foi triste aquela cena. Mário não queria um espetáculo para os alheios. Era a transmutação de gente, carne, pele, suor, abraço para um nada mais: um algo inerte sem brilho nos olhos, horizonte ou esperança. Um corpo sendo molestado pela insensatez dos viventes; quem são os putrefatos agora? Um ato que Mário Soares não gostaria de ter encenado, tão cedo. 53 anos. Mas, Deus é que sabe.
A banda filarmônica 26 de julho era agora a menina de seus olhos; e eles marejaram algumas vezes vendo-a tocar. Mário assumiu a responsabilidade pela organização dessa instituição quase centenária. Não chegava a ser uma pessoa frustrada, pois já muito oferecera a cultura patoense, porém havia em seu cerne o compromisso com o algo mais. Era um inquieto, isso sim. Organizou festejos juninos na Rua Espinharas, rua de sua mocidade; foi responsável por trabalhos culturais no parque cruz da menina; mentor e primeiro presidente da associação de imprensa do sertão paraibano; era responsável pelo centro de cultura Amaury de Carvalho.
Um Mário com o seu hábito de fumante inveterado; bebericando, quase sempre, falando alto e maldizendo a vida, por rotina. Mas, quem o conhecia sabia que isso era de Mário Soares, tão peculiar quanto o seu andar cabisbaixo, como se marcasse os próprios passos no chão. Talvez Mário tivesse a certeza de que podia contribuir mais; porém os maus tratos da vida madrasta, impunham-lhe condições que o seu estilo de vida não acompanhava.
Mário Soares morrera como vivera grande parte de sua vida: sozinho. Não era um sujeito de muitos amigos. Mas, quem são de fato os nossos verdadeiros amigos? Isso não quer dizer, entretanto, que Mário era um desamparado; nunca. Ele fazia dele mesmo a sua muleta. Um irrequieto. Mário era de temperamento difícil e dócil ao mesmo tempo, sofria de transtorno de ansiedade. Sofria por querer viver. Era de uma garra e também de uma inércia... Ele era emblemático. Um símbolo de resistência da pouca vaidade e da insistente vontade de ser reconhecido. Ele era um Mário Soares de Oliveira, só.
Sentiu-se mal hoje cedo, retirou-se para um canto da biblioteca municipal, onde trabalhava como gerente de cultura e ali deu seu derradeiro suspiro entre nós; não deve ter levado nenhuma lembrança desta vida– uma dor intensa no tórax; um infarto fulminante; um adeus. Dissera estar se sentindo mal e pediu para que lhe fizessem um chá: um pouco ofegante e com a mão pousada ao peito, sentou-se num banquinho de canto de muro, onde cresce um jardim meio sem graça.
No mesmo local que morrera, vestiram-lhe o corpo. Nada é mais dispensável do que uma vestimenta de cadáver. Fazia sombra, havia pessoas da família e curiosos; colegas de trabalho; havia também quem não conhecia a história de Mário Soares; uma conversa miúda; gracejos que não tinham nada a ver com a cena. E como foi triste aquela cena. Mário não queria um espetáculo para os alheios. Era a transmutação de gente, carne, pele, suor, abraço para um nada mais: um algo inerte sem brilho nos olhos, horizonte ou esperança. Um corpo sendo molestado pela insensatez dos viventes; quem são os putrefatos agora? Um ato que Mário Soares não gostaria de ter encenado, tão cedo. 53 anos. Mas, Deus é que sabe.
A banda filarmônica 26 de julho era agora a menina de seus olhos; e eles marejaram algumas vezes vendo-a tocar. Mário assumiu a responsabilidade pela organização dessa instituição quase centenária. Não chegava a ser uma pessoa frustrada, pois já muito oferecera a cultura patoense, porém havia em seu cerne o compromisso com o algo mais. Era um inquieto, isso sim. Organizou festejos juninos na Rua Espinharas, rua de sua mocidade; foi responsável por trabalhos culturais no parque cruz da menina; mentor e primeiro presidente da associação de imprensa do sertão paraibano; era responsável pelo centro de cultura Amaury de Carvalho.
Um Mário com o seu hábito de fumante inveterado; bebericando, quase sempre, falando alto e maldizendo a vida, por rotina. Mas, quem o conhecia sabia que isso era de Mário Soares, tão peculiar quanto o seu andar cabisbaixo, como se marcasse os próprios passos no chão. Talvez Mário tivesse a certeza de que podia contribuir mais; porém os maus tratos da vida madrasta, impunham-lhe condições que o seu estilo de vida não acompanhava.
Mário poderia se tornar uma pessoa folclórica, no pejorativo da palavra, quando na realidade era um homem afeito às letras – pensante - reflexivo. Às vezes o nosso próprio fardo é mais pesado, por que acreditamos que assim seja. E a morte pode vir a ser a melhor resposta. Mário teve o reconhecimento em vida, pelo menos para alguns que o entendiam e o respeitavam como ele era. A nossa vida é o nosso legado.
Mário vivia se sentindo mal com as dores do mundo. E pode ser que esse mal o tenha levado. Entre os presentes que foram ver seu corpo ainda sendo vestido para ser colocado no caixão, um sorriso de uma conversa distraída agrediu-me profundamente. A pior ofensa a um morto é um sorriso em seu velório. Não há nada ali que justifique alguma graça. Tudo é luto. E que isso fique registrado. A notícia da morte é outra coisa triste. E não há nada que divise o viver do morrer. Quem sabe a última conversa sirva de inspiração para a lembrança de como Mário Soares fora em vida. E se perguntarem quem fora Mário Soares, responda, sem cerimônias: Mário Soares fora ele mesmo.
Um comentário:
Obrigado Misael pelas palavras de como discerniu meu tio Mário, uma pessoa querida por todos nós, fui seu 1º sobrinho e o adorava. Sou filho de Patos onde morei até os 10 anos, sentí muito com a noticia e infelizmente não pude ir ao seu enterro, mas assim é a vida e o que importa mesmo é o que fica. Um forte abraço e mais uma vez obrigado pelas suas palavras que não deixa de ser uma homenagem.
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