Ana Campanile |
A
médica infectologista Ana Campanile, coordenadora da Comissão Estadual de
Controle de Infecção em Serviços de Saúde (Ceciss) da Secretaria de Estado da
Saúde, demonstrou grande preocupação com o quadro de Chikungunya na Paraíba, com
números bastantes elevados e que mostra distinção em relação a outros estados,
por apresentar quadros graves em grande escala.
Ela
cita como exemplo o município de Monteiro, onde mais de 80% da população teve
Chikungunya, muitos apresentando gravidade. “Estou vendo na Paraíba um cenário
diferente de outros estados, com gravidade de pacientes, com complicações de
Chikungunya, exacerbações de doenças crônicas, pacientes em UTI e óbitos, já
tivemos seis”, diz Ana Campanile, receosa que as coisas se compliquem ainda
mais.
Ana
Campanile foi uma das palestrantes no treinamento de Manejo Clínico das
arboviroses Dengue, Zika e Chikungunya, ocorrido nesta sexta-feira 03 no
auditório do Sebrae, no Rodoshopping Patos, que contou um público formado por
médicos, enfermeiros, coordenadores de Atenção Básica, da Vigilância
Epidemiológica da 3ª Macro (Patos, Piancó e Princesa Isabel). Os profissionais
de saúde estiveram reunidos para discutir prevenção, sintomatologia e
tratamento das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Sobre o trabalho desenvolvido pelo Governo do Estado no combate ao mosquito Aedes,
diz que tem sido feito com muito empenho, porém criticou a falta de um respaldo
pelo Ministério da Saúde, que ainda não apresentou o protocolo de Chikungunya,
como também verbas nessa direção.
Sobre
essas arboviroses (doenças transmitidas por insetos) diz que enxerga um futuro
assustador, isso devido ao difícil diagnóstico, confusão dos sintomas e as doenças
com mutações.
Com
relação ao cenário hoje das pesquisas, quando se busca antídotos que imunizem
para esses vírus, especialmente da Zika por estar associado à Microcefalia,
estudos liderados pelos Estados Unidos e Alemanha, a infectologista destaca
pontos positivos, como a descoberta das alterações neurológicas que o vírus da
Zika causa, que não havia referência sobre essa associação.
Um
fato que surpreende aos pesquisadores, segundo Campanile foi a rápida expansão das
três doenças com muita rapidez na América Latina. A Zika existe desde 1947, a
Chikungunya desde 1952 e em apenas dois anos há essa explosão de casos. No
último dia 2 o Governo Federal anunciou recursos da ordem de R$ 65 milhões para
pesquisas do vírus Zika, trazido ao Brasil provavelmente por estrangeiros
durante a Copa do Mundo de 2014.
A
infectologista fez uma análise crítica do combate ao Aedes, dizendo que:
“parece que as pessoas não se importam com criadouro do mosquito, em todas as
classes sociais. A gente passa por esses postos da Polícia Rodoviária e há uma
quantidade incrível de veículos, todos com criadouros de mosquito. A gente vê
isso em todo lugar. Acho que falta muito apoio da população. Ande na praia na
segunda e veja a quantidade de lixo deixado no dia anterior. É preciso muita
conscientização”, afirma.
Consequências sociais
Além
de todo o desconforto, das dores, do agravamento da doença, que se desenvolve
na pessoa em várias etapas, a Chikungunya deixa um rastro de consequências
sociais. Uma delas diz respeito ao tratamento, onde os analgésicos distribuídos
na rede pública na maioria das vezes não consegue aliviar a dor. O tratamento é
caro. Qualquer medicamento, explica Campanile, associado à codeína (analgésico derivado do ópio, usado para o alívio da dor moderada)
tem um custo bastante elevado.
Outra
consequência é tempo que o paciente precisa ficar afastado do trabalho para se
recuperar. “Será que essa empresa, esse patrão entende a necessidade daquele
funcionário precisar ficar afastado do trabalho por causa de dor? Acho que esse
contexto social é muito importante”, enfatiza.
Apesar
de não ter muita esperança que o mundo vença o Aedes, diz que a modificação
genética para que o mosquito não possa mais se reproduzir seja, talvez, a
solução. O mosquito geneticamente modificado impede que do acasalamento surjam
as larvas, diminuindo assim a população do Aedes, inclusive as fêmeas, que
transmitem as doenças pela picada. “Enquanto tivermos o homem agredindo a
natureza, entrando onde ele não tem que entrar, a disseminação, a migração para
todos os lugares, cada vez mais a gente vai ter a proliferação de todas as
doenças. Daqui a pouco teremos malária, febre amarela”, disse em tom de desespero
pelo cenário atual.
Marcos Eugênio (6ª GRS)
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