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sábado, 4 de junho de 2016

Infectologista diz que Chikungunya na Paraíba se apresenta diferenciada de outros estados e cenário é muito preocupante

Ana Campanile






A médica infectologista Ana Campanile, coordenadora da Comissão Estadual de Controle de Infecção em Serviços de Saúde (Ceciss) da Secretaria de Estado da Saúde, demonstrou grande preocupação com o quadro de Chikungunya na Paraíba, com números bastantes elevados e que mostra distinção em relação a outros estados, por apresentar quadros graves em grande escala.
Ela cita como exemplo o município de Monteiro, onde mais de 80% da população teve Chikungunya, muitos apresentando gravidade. “Estou vendo na Paraíba um cenário diferente de outros estados, com gravidade de pacientes, com complicações de Chikungunya, exacerbações de doenças crônicas, pacientes em UTI e óbitos, já tivemos seis”, diz Ana Campanile, receosa que as coisas se compliquem ainda mais.
Ana Campanile foi uma das palestrantes no treinamento de Manejo Clínico das arboviroses Dengue, Zika e Chikungunya, ocorrido nesta sexta-feira 03 no auditório do Sebrae, no Rodoshopping Patos, que contou um público formado por médicos, enfermeiros, coordenadores de Atenção Básica, da Vigilância Epidemiológica da 3ª Macro (Patos, Piancó e Princesa Isabel). Os profissionais de saúde estiveram reunidos para discutir prevenção, sintomatologia e tratamento das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Sobre o trabalho desenvolvido pelo Governo do Estado no combate ao mosquito Aedes, diz que tem sido feito com muito empenho, porém criticou a falta de um respaldo pelo Ministério da Saúde, que ainda não apresentou o protocolo de Chikungunya, como também verbas nessa direção.
Sobre essas arboviroses (doenças transmitidas por insetos) diz que enxerga um futuro assustador, isso devido ao difícil diagnóstico, confusão dos sintomas e as doenças com mutações.
Com relação ao cenário hoje das pesquisas, quando se busca antídotos que imunizem para esses vírus, especialmente da Zika por estar associado à Microcefalia, estudos liderados pelos Estados Unidos e Alemanha, a infectologista destaca pontos positivos, como a descoberta das alterações neurológicas que o vírus da Zika causa, que não havia referência sobre essa associação.
Um fato que surpreende aos pesquisadores, segundo Campanile foi a rápida expansão das três doenças com muita rapidez na América Latina. A Zika existe desde 1947, a Chikungunya desde 1952 e em apenas dois anos há essa explosão de casos. No último dia 2 o Governo Federal anunciou recursos da ordem de R$ 65 milhões para pesquisas do vírus Zika, trazido ao Brasil provavelmente por estrangeiros durante a Copa do Mundo de 2014.
A infectologista fez uma análise crítica do combate ao Aedes, dizendo que: “parece que as pessoas não se importam com criadouro do mosquito, em todas as classes sociais. A gente passa por esses postos da Polícia Rodoviária e há uma quantidade incrível de veículos, todos com criadouros de mosquito. A gente vê isso em todo lugar. Acho que falta muito apoio da população. Ande na praia na segunda e veja a quantidade de lixo deixado no dia anterior. É preciso muita conscientização”, afirma.
Consequências sociais
Além de todo o desconforto, das dores, do agravamento da doença, que se desenvolve na pessoa em várias etapas, a Chikungunya deixa um rastro de consequências sociais. Uma delas diz respeito ao tratamento, onde os analgésicos distribuídos na rede pública na maioria das vezes não consegue aliviar a dor. O tratamento é caro. Qualquer medicamento, explica Campanile, associado à codeína (analgésico derivado do ópio, usado para o alívio da dor moderada) tem um custo bastante elevado.
Outra consequência é tempo que o paciente precisa ficar afastado do trabalho para se recuperar. “Será que essa empresa, esse patrão entende a necessidade daquele funcionário precisar ficar afastado do trabalho por causa de dor? Acho que esse contexto social é muito importante”, enfatiza.
Apesar de não ter muita esperança que o mundo vença o Aedes, diz que a modificação genética para que o mosquito não possa mais se reproduzir seja, talvez, a solução. O mosquito geneticamente modificado impede que do acasalamento surjam as larvas, diminuindo assim a população do Aedes, inclusive as fêmeas, que transmitem as doenças pela picada. “Enquanto tivermos o homem agredindo a natureza, entrando onde ele não tem que entrar, a disseminação, a migração para todos os lugares, cada vez mais a gente vai ter a proliferação de todas as doenças. Daqui a pouco teremos malária, febre amarela”, disse em tom de desespero pelo cenário atual.


Marcos Eugênio (6ª GRS)

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