Paraibano, filho de Patos, o agente cultural — autor de teatro popular, professor, poeta cordelista e declamador — Janduhi Dantas, que participou ativamente dos movimentos sociais e populares registrados em Patos nos anos 80 e 90, vem sendo uma prazerosa referência literária para nosso Estado. Autor da premiada A Gramática no Cordel, tem sido batalhador na preservação de um dos traços culturais mais marcantes da rgião Nordeste, o cordel. Da sua veia poética já nasceram cordéis como: A mulher que vendeo o marido por R$ 1,99 e a A alma do senador que caiu na lábia do Cão. São obras que o autor usa e abusa do bom humor, aumentando o interesse do leitor. Esta semana ele lançou mais um cordel, “História do nacionalino que escapou de ser esportista”, versando sofre o futebol de Patos. Garimpando Palavras oferece a seus visitantes a obra na íntegra. Aproveitem.
“História do nacionalinoque escapou de ser esportista”
Autor: Janduhi Dantas
Torcedor apaixonado
do leitor peço a atenção
pra eu contar como foi
que me encantei com o Verdão
Nacional Atlético Clube
“O Canário do Sertão”.
(Os versos que aqui eu faço
do fundo do peito arranco
meu amor pelo Canário
é antigo, puro e franco
tem hora que eu desconfio
que meu sangue é verde e branco!)
Tinha eu dez anos quando
o meu irmão me levou
pra ver Nacional e Esporte
na semana ele falou:“Nós vamos ao campo domingo
ver o Pato dar um show!”
Nisso deu-me uma camisa
vermelha e branca do Pato
eu vesti e ele disse:“Bem vestido estás de fato
tu vais pro campo com ela
é jogão de campeonato!”
A camisa que me deu
pediu para mãe lavar
com um sabão bem cheiroso
e com cuidado engomar
que a camisa do Patinho
no domingo eu ia usar!...
Passou a semana inteira
meu juízo cozinhando
pr’eu torcer pelo Esporte
meu espírito preparando
dizia assim: “Tu vais ver
o que é um timão jogando!”
Fazendo a minha cabeça
ele seguia empolgado:
“Domingo pro JC
vou levar você do lado
pra ver o Pato deixar
o Canário depenado!”
“Vamos bem cedo pro jogo
vamos ficar na Geral
vamos levar sol na cara
mas mesmo assim não faz mal:
nós vamos ver o Esporte
golear o Nacional!”
Chegou o dia do jogo
e meu irmão disse: “Vamos
vista a camisa do Pato!”
depressa nos arrumamos
de radinho ao pé-do-ouvido
pro estádio nós rumamos...
Fomos pelo Prado até
à Igreja da Conceição
depois pela Rua Grande
nós chegamos à Estação
do Trem... Na Horácio Nóbrega
era grande a multidão!
Já bem perto do estádio
o meu irmão afinal
me apontou o cemitério
e depois o hospital
e disse: “Hoje um desses dois
do Canário é o local!”
Depois de andar meia hora
chegamos ao Zé Cavalcante
ao chegar vi as torcidas
cada uma mais brilhante...
mas só que a do Nacional
eu achei bem mais vibrante!
E já dentro do estádio
eu em tudo via graça:
as banquinhas que vendiam
churrasquinho, água e cachaça...
Alguém disse a meu irmão:“Hoje o Pato mostra raça!”
Passados uns quinze minutos
findou a preliminar:
Fluminense de Totô
num jogo espetacular
ganhou dum time de Malta:
sete a zero no placar!
Com pouco tempo os dois times
adentraram o “carecão”:
não tinha o campo gramado
mas tinha muita emoção
dos dois lados das torcidas
era muito foguetão!
Mas do lado do Canário
foi maior o foguetão
e assim cantou a torcida:
“Nós te adoramos, Verdão!”
e aquele canto ecoou
dentro do meu coração!
Daquela hora em diante
me calei, baixei a crista
pois não podia ficar
entre a galera esportista:
quando vi o Naça foi
amor à primeira vista!
Chamei meu irmão e disse:
“Olhe: aqui não está legal!
eu vou para a arquibancada
não vou ficar na Geral
não gostei do seu Esporte
gostei mais do Nacional!”
Disse ele: “’cê se perde
se for pro lado de lá”
eu retruquei: “Não senhor
lá eu vou é me encontrar!
tome aqui sua camisa
fique com seu Pato cá!”
E desse modo, aos dez anos
fiz papel de radical:
deixei meu irmão falando
sozinho lá na Geral
e fui pro lado da sombra
torcer pelo Nacional!...
Cheguei no lado de lá
fiquei num canto sentado
seis ou sete, oito minutos
tinha o jogo começado
e o Canário bom de briga
já cantava disparado!....
Quinze minutos de jogo
do primeiro tempo a bola
está na zaga do Naça:
de Didi para Pistola
que faz longo lançamento
pra Messias, que controla...
... faz umas três embaixadas
dá um lençol em Toinho
não deixa a bola cair
e encobre Menininho
vai a torcida à loucura:
um a zero Canarinho!
Bate o centro e vai à luta
tenta o Pato reagir
Toinho encontra Djalma
que lança Nílson Peri
mas Bau chega e rouba a bola
e despacha pra Levi...
... Levi passou pra Messias
que pra Clóvis levantou
Clóvis amorteceu no peito
e bem no ângulo chutou:
Menininho se esticou todo
mas a bola não pegou!
Bateu o centro o Esporte
mas perdeu logo o balão
pois Nego Coco, com classe
tomou, deu a Carroção
Carroção passou pra Grilo
e Grilo deu um chutão...
O chutão que Grilo deu
foi no peito de Teomar
Teomar baixou a pelota
olhou, viu Menon passar
Menon só escolheu o canto:
três a zero no placar!
De partir para o ataque
o Esporte resolveu
Djalma invadiu a área
e um forte chute deu:
com um bonito vôo-de-gato
Zé Pereira defendeu.
Repondo em jogo a pelota
Zé Pereira viu Dadinha
este viu Silva de Ouro
que na esquerda viu que tinha
Catê, que cruzou na área:
gol de cabeça, Totinha!
Na arquibancada, a galera
cantava assim, com carinho:“Esse é o nosso Nacional
o querido Canarinho
da dupla Dissô/Lulu
e do Professor Bastinho!”
Mais uma vez o Esporte
tirou o centro e partiu
pra ver se fazia um gol
de modo algum conseguiu:
se o Patinho tinha jogo
nesse dia ninguém viu.
Inda nem trinta minutos
do segundo tempo e já
a torcida do Esporte
resolveu se retirar
enquanto isso no campo
chegava a bola em Diá...
... Diá, na ponta direita
driblou dois e foi adiante
cruzou a bola na área
e apareceu nesse instante
Tico, que de bicicleta
pôs a bola no barbante...
Já no fim do jogo, o Pato
viu a coisa inda mais preta:
aos 43 minutos
fechou o placar Marreta
e a galera assim gritava:“Pai da matéria porreta!”
Pedro Correia apitou
dando ao jogo o seu final
e lá na Rua da Baixa
foi o maior carnaval
com a grande goleada:
seis a zero Nacional!
Do lado externo do estádio
assim que o jogo acabou
meu irmão me procurava
até que enfim me encontrou
me deu uns três cocorotes
pelo Pato se vingou!
A partir daquele dia
eu me vi nacionalino
desses que se arrepiam
quando escutam seu hino...
O Canário é uma paixão
desde os tempos de menino!
E por esse grande time
quem não se apaixonaria?!
respeitado em todo o estado
de dar gosto a quem o via
que do treinador Virgílio
Trindade era a “Academia”!
E desse tempo em diante
o Nacional foi crescendo
revelando muitos craques
pra times grandes vendendo
e no Clássico do Sertão
peia no Pato metendo!...
Fundado em 61
mais querido do sertão
por cinco oportunidades
foi o vice-campeão
chegando em 2007
finalmente Campeão!
Entre o Nacional de ontem
e o que temos no presente
o de agora é o fruto
e o de ontem, a semente...
Têm os dois a mesma alma
de guerreiro e de valente!...
Já contei a minha história
Agora chego ao final
Na torcida verde e branca
Dou um abraço fraternal
Unidos pela paixão
Isto é: o Nacional!
Divulgar nossa cultura
Através de um folhetinho
Nisto eu tenho prazer
Tudo escrevo com carinho...
A dizer ainda há tempo:
Salve o nosso Canarinho!
do leitor peço a atenção
pra eu contar como foi
que me encantei com o Verdão
Nacional Atlético Clube
“O Canário do Sertão”.
(Os versos que aqui eu faço
do fundo do peito arranco
meu amor pelo Canário
é antigo, puro e franco
tem hora que eu desconfio
que meu sangue é verde e branco!)
Tinha eu dez anos quando
o meu irmão me levou
pra ver Nacional e Esporte
na semana ele falou:“Nós vamos ao campo domingo
ver o Pato dar um show!”
Nisso deu-me uma camisa
vermelha e branca do Pato
eu vesti e ele disse:“Bem vestido estás de fato
tu vais pro campo com ela
é jogão de campeonato!”
A camisa que me deu
pediu para mãe lavar
com um sabão bem cheiroso
e com cuidado engomar
que a camisa do Patinho
no domingo eu ia usar!...
Passou a semana inteira
meu juízo cozinhando
pr’eu torcer pelo Esporte
meu espírito preparando
dizia assim: “Tu vais ver
o que é um timão jogando!”
Fazendo a minha cabeça
ele seguia empolgado:
“Domingo pro JC
vou levar você do lado
pra ver o Pato deixar
o Canário depenado!”
“Vamos bem cedo pro jogo
vamos ficar na Geral
vamos levar sol na cara
mas mesmo assim não faz mal:
nós vamos ver o Esporte
golear o Nacional!”
Chegou o dia do jogo
e meu irmão disse: “Vamos
vista a camisa do Pato!”
depressa nos arrumamos
de radinho ao pé-do-ouvido
pro estádio nós rumamos...
Fomos pelo Prado até
à Igreja da Conceição
depois pela Rua Grande
nós chegamos à Estação
do Trem... Na Horácio Nóbrega
era grande a multidão!
Já bem perto do estádio
o meu irmão afinal
me apontou o cemitério
e depois o hospital
e disse: “Hoje um desses dois
do Canário é o local!”
Depois de andar meia hora
chegamos ao Zé Cavalcante
ao chegar vi as torcidas
cada uma mais brilhante...
mas só que a do Nacional
eu achei bem mais vibrante!
E já dentro do estádio
eu em tudo via graça:
as banquinhas que vendiam
churrasquinho, água e cachaça...
Alguém disse a meu irmão:“Hoje o Pato mostra raça!”
Passados uns quinze minutos
findou a preliminar:
Fluminense de Totô
num jogo espetacular
ganhou dum time de Malta:
sete a zero no placar!
Com pouco tempo os dois times
adentraram o “carecão”:
não tinha o campo gramado
mas tinha muita emoção
dos dois lados das torcidas
era muito foguetão!
Mas do lado do Canário
foi maior o foguetão
e assim cantou a torcida:
“Nós te adoramos, Verdão!”
e aquele canto ecoou
dentro do meu coração!
Daquela hora em diante
me calei, baixei a crista
pois não podia ficar
entre a galera esportista:
quando vi o Naça foi
amor à primeira vista!
Chamei meu irmão e disse:
“Olhe: aqui não está legal!
eu vou para a arquibancada
não vou ficar na Geral
não gostei do seu Esporte
gostei mais do Nacional!”
Disse ele: “’cê se perde
se for pro lado de lá”
eu retruquei: “Não senhor
lá eu vou é me encontrar!
tome aqui sua camisa
fique com seu Pato cá!”
E desse modo, aos dez anos
fiz papel de radical:
deixei meu irmão falando
sozinho lá na Geral
e fui pro lado da sombra
torcer pelo Nacional!...
Cheguei no lado de lá
fiquei num canto sentado
seis ou sete, oito minutos
tinha o jogo começado
e o Canário bom de briga
já cantava disparado!....
Quinze minutos de jogo
do primeiro tempo a bola
está na zaga do Naça:
de Didi para Pistola
que faz longo lançamento
pra Messias, que controla...
... faz umas três embaixadas
dá um lençol em Toinho
não deixa a bola cair
e encobre Menininho
vai a torcida à loucura:
um a zero Canarinho!
Bate o centro e vai à luta
tenta o Pato reagir
Toinho encontra Djalma
que lança Nílson Peri
mas Bau chega e rouba a bola
e despacha pra Levi...
... Levi passou pra Messias
que pra Clóvis levantou
Clóvis amorteceu no peito
e bem no ângulo chutou:
Menininho se esticou todo
mas a bola não pegou!
Bateu o centro o Esporte
mas perdeu logo o balão
pois Nego Coco, com classe
tomou, deu a Carroção
Carroção passou pra Grilo
e Grilo deu um chutão...
O chutão que Grilo deu
foi no peito de Teomar
Teomar baixou a pelota
olhou, viu Menon passar
Menon só escolheu o canto:
três a zero no placar!
De partir para o ataque
o Esporte resolveu
Djalma invadiu a área
e um forte chute deu:
com um bonito vôo-de-gato
Zé Pereira defendeu.
Repondo em jogo a pelota
Zé Pereira viu Dadinha
este viu Silva de Ouro
que na esquerda viu que tinha
Catê, que cruzou na área:
gol de cabeça, Totinha!
Na arquibancada, a galera
cantava assim, com carinho:“Esse é o nosso Nacional
o querido Canarinho
da dupla Dissô/Lulu
e do Professor Bastinho!”
Mais uma vez o Esporte
tirou o centro e partiu
pra ver se fazia um gol
de modo algum conseguiu:
se o Patinho tinha jogo
nesse dia ninguém viu.
Inda nem trinta minutos
do segundo tempo e já
a torcida do Esporte
resolveu se retirar
enquanto isso no campo
chegava a bola em Diá...
... Diá, na ponta direita
driblou dois e foi adiante
cruzou a bola na área
e apareceu nesse instante
Tico, que de bicicleta
pôs a bola no barbante...
Já no fim do jogo, o Pato
viu a coisa inda mais preta:
aos 43 minutos
fechou o placar Marreta
e a galera assim gritava:“Pai da matéria porreta!”
Pedro Correia apitou
dando ao jogo o seu final
e lá na Rua da Baixa
foi o maior carnaval
com a grande goleada:
seis a zero Nacional!
Do lado externo do estádio
assim que o jogo acabou
meu irmão me procurava
até que enfim me encontrou
me deu uns três cocorotes
pelo Pato se vingou!
A partir daquele dia
eu me vi nacionalino
desses que se arrepiam
quando escutam seu hino...
O Canário é uma paixão
desde os tempos de menino!
E por esse grande time
quem não se apaixonaria?!
respeitado em todo o estado
de dar gosto a quem o via
que do treinador Virgílio
Trindade era a “Academia”!
E desse tempo em diante
o Nacional foi crescendo
revelando muitos craques
pra times grandes vendendo
e no Clássico do Sertão
peia no Pato metendo!...
Fundado em 61
mais querido do sertão
por cinco oportunidades
foi o vice-campeão
chegando em 2007
finalmente Campeão!
Entre o Nacional de ontem
e o que temos no presente
o de agora é o fruto
e o de ontem, a semente...
Têm os dois a mesma alma
de guerreiro e de valente!...
Já contei a minha história
Agora chego ao final
Na torcida verde e branca
Dou um abraço fraternal
Unidos pela paixão
Isto é: o Nacional!
Divulgar nossa cultura
Através de um folhetinho
Nisto eu tenho prazer
Tudo escrevo com carinho...
A dizer ainda há tempo:
Salve o nosso Canarinho!
Um comentário:
SOU FRANCISCO CARLOS DO NASCIMENTO, MORO EM FORTALEZA-CE, E FIZ UMA VIAGEM AO PASSADO LENDO ESTE CORDEL; ESTA GERAÇÃO DE CRAQUES CITADOS, FIZERAM A HISTÓRIA DE NACIONAL E ESPORTE NUMA ÉPOCA QUE JOGAVA-SE POR AMOR A CAMISA.
ESPERO QUE FAÇA UM CORDEL FALANDO DO PATINHO QUE É MEU TIME DE CORAÇÃO.
PARABÊNS.
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