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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O CARNAVAL NÃO SE REINVENTOU


Por Misael Nóbrega de Sousa


O carnaval é uma representação da vida banal – espelho de todo folião. Nos dias de carnaval, temos a certeza de que somos nós mesmos... - dentro dos panos. As máscaras mostram a si mesmas. A fantasia é a cara nua. Muito antes de mim havia o Corso da rua grande... – pelas fotos da caixa de antiguidades de minha tia-avó. Personagens que compuseram o imaginário de momo; fantasmas de uma época sem graça. Todo carnaval é triste. As moças adornadas de miçangas, mais pareciam consortes que misses em concursos de belezas. As imagens aprisionadas nos retratos mais sugeriam uma ostentação do que uma celebração momesca. “Ôôô abrem alas que eu quero passar...” Na palidez da flor virginal, a ânsia do desfrute. As mágoas viraram marchinhas. E os amores, fúteis, como sempre. Ainda alcancei os bailes de salões. A mesma ilusão. Eu era o dito-cujo que minha mãe quisesse e fui pierrô, por diversos carnavais. Não há poesia em nenhuma geração. Tudo é malícia. A inocência de outrora também é fingimento, apenas acreditamos que ela existiu para justificar o pretérito – que se sustenta no campo da lembrança. E dizemos que “essa ingenuidade parece ter saído de cena” para dar lugar à brutalidade dos trios elétricos. E se antes havia o que eu não enxergava... – essa “inocência” se assemelha com a ignorância – quais eram os outros monstros, então?. Gigantes, serpenteado pelas ruas de sortilégios. E atrás deles uma multidão de inválidos; homens coxos. Não há recompensa que valha o esforço. Marchamos sob as bênçãos do permitido. Não sei o porquê do carnaval. O carnaval é uma festa sem sentido: existe apenas para nos dizer o quanto somos ridículos. Não há miscigenação no carnaval, há falsos moralismos. O carnaval é o triunfo do anonimato. Peles esfregando-se na sem-vergonhice da libido. Em que bloco desfila o pudor? No arrancar de pedaços, um bêbado mijando na esquina e todos rindo da ousadia. A embriaguez da vida. Vida de adereços-cinza, carnaval por assim falar. Como é hipócrita o carnaval. Somos idiotizados quando induzidos à danças pornográficas encenadas à exaustão das idades. O carnaval imprime uma consciência às avessas, e gera um torpor. E quando baixamos a máscara, a realidade nos mostra mais feios. E o belo é na verdade uma caricatura da vida, embora de lição apócrifa. Os estandartes são apólogos do tempo: uma conta ao contrário do quanto já vivemos. Ele não nos pertence. Não se sustenta mais em nenhuma cultura. Reparte a carne do espírito. A vida não espera pela passagem dos blocos, desconsidera as tradições. Os pecados pertencem às suas épocas. O carnaval não se reinventou. Como o julgar, portanto? Não crio polêmica; renovo as ilusões.

Professor e jornalista

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