Ankilma do Nascimento Andrade*
O ministro da saúde, José Gomes Temporão, assinou no dia 27 de agosto de 2009, a portaria que institui no âmbito do SUS, a Política Nacional de Saúde do Homem/PNSH. Esse compromisso, ele havia assumido e agendado como prioridade de sua gestão, desde sua posse em 2007.
No fim do ano passado, o ministro oficializou uma estratégia voltada para a população masculina. Esse esforço é justificável pelos próprios dados apresentados pelo Ministério da Saúde/MS, amplamente divulgados pela mídia em nível nacional. Conforme essas estatísticas, a “cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens; a cada cinco pessoas que morrem entre 20 e 30 anos, quatro são homens; homens vivem em média sete anos menos que as mulheres”. E o texto indaga: - “Sabe por quê? - Porque o homem não cuida da própria saúde. Homem que se cuida, não perde o melhor da vida”.
E, de fato, não cuida mesmo! Contra fatos não há argumentos. Vejamos alguns exemplos. Na campanha de vacinação contra a rubéola, a adesão das mulheres chegara a 72,74% contra 63,56 dos homens. Ao longo do ciclo da vida, a mortalidade masculina é bem maior do que a feminina. Entre 1960 e 2006, a chance de um homem com 20 anos morrer antes de passar ao grupo etário seguinte (25-30 anos) era 1,1 vez maior que a de uma mulher da mesma faixa, hoje é 4,1 vezes maior.
Outros dados: A taxa de mortalidade masculina é maior do que a feminina em todo o ciclo da vida. Tratando-se de homicídio é doze vezes maior do que a feminina e, entre 20 e 29 anos, é quinze vezes maior. Tudo isso porque o homem não cuida da própria saúde. Mas não se pode culpar somente os homens por essa situação. Por trás de tudo isso, existe um fato relevante: o modelo de masculinidade que se instituiu ao longo do anos no Brasil. A norma sempre foi: homem não chora, homem é forte, ir a serviço de saúde é coisa de mulher.
Esse modelo, associado à cultura brasileira de um modo geral, pode ser responsabilizado pela grande resistência do homem para procurar o serviço de saúde. Sem dúvida, tradicionalmente, subestimar o cuidado de saúde faz parte do modelo de masculinidade do brasileiro.
Agora surge o PNSH, programa que tem como objetivo investir em práticas saudáveis para aumentar o acesso e adesão dos 40 milhões de homens entre 25 e 29 anos, buscando promover a saúde e prevenir os agravos dessa população. Realce-se, que o Brasil é o segundo país das Américas a elaborar uma política específica de saúde do homem. Antes só existia no Canadá.
Vejamos outras disparidades citadas pelo jornalista Bruno Dominguez. Em 2003, considerando-se a relação homens:mulheres, as causas externas mataram 89.580 homens:11.467 mulheres; as doenças do aparelho circulatório 40.287:26.323; as doenças do aparelho digestivo 16.371: 5.032. Em 2006, numa pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, nas 26 capitais brasileiras e do Distrito Federal, constatou-se na população adulta que, quanto ao número de tabagistas, a relação entre homens e mulheres era de 20,3%:12,8% mulheres; de sedentários; 39,8%:20,2% e de alcoolistas 16,1%: 8,1%.
Os dados mencionados comprovam que o homem realmente subestima os cuidados com a sua saúde, e que resistem em procurar os serviços do setor. Porém como resolver ou reduzir esse problema?
Existem muitas saídas, algumas, embora já postas em prática, necessitam de melhoria na informação. Exemplo: no caso de prevenção contra o câncer de próstata, a mídia só focaliza quase o exame de toque e, assim mesmo, com deboche e ironia e por tabela levando uma mensagem homofóbica, o que acaba reforçando o tabú já existente entre os homens afastando-os quase sempre do serviço.
São boas, simples e baratas medidas de conduzir o homem ao serviço de saúde: capacitar os agentes de saúde no sentido de melhor acolhimento; promover mudanças e levar conhecimentos sobre o tema na escola, na família no trabalho e na sociedade; destabuizar a crença de que os cuidados de saúde em geral são percebidos como femininos e não masculinos; de que os homens, embora vistos como fortes e invencíveis, mesmo assim, devem buscar ajuda antes que os problemas se agravem ou que eles não possam mais trabalhar; desmitificar de que os serviços de atenção básica sejam lugar de atendimento somente para crianças mulheres e idosos. Fortalecendo essas ações, de certeza, a população masculina reduzirá sua resistência aos diagnósticos e tratamentos de saúde, permitindo a melhoria dos cuidadas de proteção e de promoção da sua saúde.
*Ankilma do Nascimento Andrade – professora da Faculdade Santa Maria. Mestranda em Saúde Pública da UFPB/CCS, João Pessoa, PB.
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