Crônica

CORRUPTOS E CORRUPTORES

Por Misael Nóbrega de Sousa

Não há nada mais antidemocrático do que a antecipação do voto. As passeatas, por exemplo, são na verdade um atentado ao processo eleitoral. Partidos se digladiam usando com escudo os próprios eleitores. Prevalece quem tem uma maior estrutura de campanha. E não é demais lembrar que tudo é pago com dinheiro público. O horário da propaganda gratuita deveria ser a única divulgação permitida pela justiça eleitoral. Desta forma, teríamos um quadro mais equilibrado. Os candidatos investem na imagem e esquecem o plano de governo. Carros envelopados agigantam os homens... E nada pode ser brinde. Corruptos e corruptores agem livremente. Não há inocentes numa campanha eleitoral. O processo é que está podre. As passeatas são declarações disfarçadas de alegria. Os eleitores serpenteiam fingidas vezes. Idolatram a si mesmos. Vendem aí o seu voto. Apostam no favorecimento pessoal e na continuação da vida miúda. Como não me constranger diante de um fato político? Na relação com a urna, apenas o silêncio. Ali o sufrágio é dever cívico. Não há a voz rouca das ruas. Um instante, basta, para a consumação do ato, quem dera soberano. Mas, eu já me disse em quem votar. Antecipei-me as previsões. Fiz votos do voto. Torci fervorosamente. Com tantos mecanismos de balizamento à disposição dos eleitores, não há mais como ignorar o mau candidato. Porém, quantos são alheios? A paixão devia ser abolida; apenas a razão permitida. O voto tem o peso da consciência. Votar é se desprender de uma causa. É esperar em juízo. É cobrar de si mesmo a vergonha de todos. A “compra do voto” não é mais um agravante; é prática vicejante. Vendemo-nos a nós mesmos.

Santinhos, tão necessários e em profusão, revoam na esquina numa inusitada confluência de legendas. Na varrição costumeira de cada manhã... O destino é a lata do lixo.

Professor e jornalista