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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Cientistas buscam vacina única contra todas as gripes


Duas doses de vacina contra sarampo durante a infância protegem uma pessoa por toda a vida. Quatro doses de vacina contra pólio fazem o mesmo. Mas vacinas contra a gripe precisam ser tomadas todos os anos. E, mesmo assim, elas não proporcionam proteção completa.
A razão é que o vírus influenza sofre mutação muito mais rápido do que outros vírus. Uma pessoa que desenvolve imunidade contra uma variedade do vírus não está bem protegida de uma linhagem diferente.
Isso está se tornando um grande problema, enquanto o mundo se prepara para uma possível pandemia de uma nova linhagem de gripe suína no próximo outono americano (a partir de setembro). É impossível saber quantas pessoas poderiam morrer antes que uma vacina compatível com essa linhagem possa ser desenvolvida.
Mas cientistas e fabricantes de vacina estão trabalhando intensamente naquilo que chamam de vacina universal contra gripe, que funcionaria contra todos os tipos de gripe. O objetivo é proporcionar proteção por anos, se não uma vida inteira, contra todas as linhagens de gripe sazonais e pandêmicas, tornando a inoculação contra a gripe parecida com a contra sarampo ou pólio.
"A universal mudaria completamente a forma pela qual a vacinação contra a gripe acontece", disse Sarah C. Gilbert, especialista em vacinas da Universidade de Oxford. "Quanto mais cedo tivermos uma vacina universal, melhor, pois aí podemos parar de nos preocupar sobre qual será a nova pandemia."
Tal vacina para todos os tipos de gripe terminaria com o jogo de adivinhação que acontece hoje no início de cada ano, quando cientistas decidem quais linhagens devem ser incluídas na vacina sazonal do próximo inverno. Se seu palpite estiver errado, a vacina será menos eficaz.
Além disso, essa dose única tornaria a imunização contra a gripe praticável em países que não podem arcar com campanhas anuais. Estima-se que a gripe sazonal contribua com uma média de 36 mil mortes nos Estados Unidos e até meio milhão ao redor do mundo todos os anos.
Infelizmente, uma vacina universal não estará pronta a tempo suficiente para combater uma possível pandemia da nova linhagem de gripe suína que já infectou milhares de pessoas. A mais avançada das vacinas foi testada apenas em pequenos ensaios clínicos. Provavelmente, ainda serão necessários muitos anos para descobrir se tais vacinas realmente funcionam.
Na verdade, as vacinas universais desenvolvidas até agora não previnem totalmente a infecção, como fazem as vacinas contra linhagens específicas. Ao invés disso, elas limitam a gravidade e disseminação da doença. Alguns especialistas consideram isso suficiente, mas outros têm suas dúvidas.
"Eu não substituiria a vacina sazonal contra a gripe", disse o doutor Robert Belshe, diretor do centro de desenvolvimento de vacinas da Universidade Saint Louis. "Acho que a universal seria um complemento a ela."
Alguns especialistas afirmam que doses de reforço ainda seriam necessárias mais ou menos a cada 10 anos. Também é incerto se as vacinas conseguiriam fornecer proteção contra todas as linhagens, inclusive de vírus de origem animal como a nova gripe suína.
A maior parte das vacinas universais em desenvolvimento nem ao menos tenta fornecer proteção contra o influenza tipo B. Elas se concentram no tipo A, que tende a causar as doenças e pandemias mais graves.
Quando alguém é vacinado ou infectado, o sistema imune produz anticorpos que atacam principalmente uma proteína na superfície do vírus chamada hemaglutinina. Mas essa proteína é a parte que se modifica mais rápido no vírus, então anticorpos para uma linhagem podem não reconhecer outra.
Uma vacina universal deveria incitar um ataque do sistema imunológico a uma parte do vírus influenza que não varie de linhagem em linhagem.
Se isso fosse algo fácil, afirmam céticos, o sistema imune teria resolvido o problema por si só e as pessoas teriam proteção duradoura. Pesquisadores de vacina reagem afirmando que algumas pessoas podem ter desenvolvido uma imunidade por pelo menos alguns anos. E uma vacina pode ensinar coisas que o sistema imunológico não seria capaz de fazer por conta própria.
"Não vejo qualquer razão para isso ser impossível", disse Suzanne Epstein, pesquisadora da Food and Drug Administration (FDA, agência americana que fiscaliza e regulamenta remédios e alimentos). "Funciona muito bem nos animais."
O maior problema é que a maioria das proteínas que menos variam nos vírus da gripe está dentro deles, fora do alcance dos anticorpos. Mas existe uma proteína interna, chamada M2, que se projeta um pouco para fora do vírus. Esse pedaço externo não é bem um alvo para anticorpos, mas é o principal foco da pesquisa por uma vacina universal.
"O complicado é que você precisa de um sistema que crie uma resposta de imunização robusta contra essa minúscula proteína, que não está presente em abundância", disse Alan Shaw, presidente da Vaxlnnate, pequena companhia que tenta desenvolver uma vacina universal que combine a parte externa da M2 com uma proteína bacteriana que estimule o sistema imunológico.
Vaxlnnate, Merk e Acambis, que faz parte da Sanofi-Aventis, fizeram cada uma um pequeno teste de suas vacinas M2 em voluntários saudáveis. As pessoas vacinadas de fato desenvolveram anticorpos contra a M2. Mas esses anticorpos não preveniram totalmente a infecção. Serão necessários ensaios muito maiores para averiguar se as vacinas realmente funcionam no atenuamento da doença durante verdadeiras temporadas de gripe.
Outro problema é que a proteína M2 nos vírus animais do influenza pode ser diferente da presente nos vírus humanos. Isso levanta questões a respeito da eficácia de uma vacina M2, por exemplo, contra a nova gripe suína, conhecida formalmente como H1N1.
"O novo vírus H1N1 pode esfriar um pouco as coisas", disse Andrew Pekosz, professor associado de microbiologia molecular e imunologia da Universidade Johns Hopkins.
No início deste ano, duas equipes de pesquisadores relataram independentemente que poderia haver outra região não variável na superfície do vírus. É a haste da proteína hemaglutinina, que tem forma de pirulito, ao invés da cabeça em constante mutação.
Um dos grupos demonstrou que anticorpos humanos que se ligam a essa parte da haste protegeram camundongos contra várias linhagens de gripe, inclusive a gripe espanhola de 1918 e a gripe aviária H5N1.
Mas especialistas afirmam que será bem difícil isolar essa parte da proteína viral para usar em uma vacina, ou desenvolvê-la pela engenharia genética.
"Meu primeiro pensamento foi: você precisa fazer a vacina", disse o doutor Hildegund C. J. Ertl, pesquisador da vacina universal do Instituto Wistar, na Filadélfia, que não estava envolvido na descoberta. "Mas, depois, quando olhei para a seqüência, a coisa não era nem um pouco óbvia."
Uma alternativa seria usar os próprios anticorpos como remédio, mas anticorpos são caros de se produzir e consomem muito tempo para serem inoculados nos pacientes.
Com tanta dificuldade para encontrar regiões constantes fora dos vírus, alguns focam nas proteínas que não mudam no seu interior, como uma chamada nucleoproteína. Anticorpos não conseguem chegar até essas proteínas para prevenir uma infecção. Então, a idéia é alocar outros soldados do sistema imunológico, chamados linfócitos T, para matar as células infectadas antes que elas possam produzir novos vírus. Isso diminuiria a gravidade da doença.
Epstein, da FDA, disse que uma vacina com base em uma nucleoproteína do vírus H1N1 humano foi capaz de proteger animais de uma dose letal de gripe aviária H5N1, o vírus que atiçou temores pandêmicos há alguns anos.
A Universidade Oxford testou a vacina de linfócito T em 28 adultos saudáveis e descobriu que ela realmente aumentou a resposta desses linfócitos.
Por fim, os melhores resultados talvez surjam da combinação de técnicas. A Dynavax, companhia de biotecnologia da Califórnia, espera começar no ano que vem a testar uma vacina desenvolvida para incitar anticorpos contra a M2 e linfócitos contra a nucleoproteína.
Epstein disse que as expectativas por uma vacina universal precisam ser realistas. "Ela não tem a intenção de bloquear totalmente a infecção", disse ela. "Mas o que ela pode fazer é enfraquecer imensamente a doença, a disseminação e os sintomas."
Terra

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