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segunda-feira, 9 de março de 2009

8 DE MARÇO


Por Misael Nóbrega de Sousa


Como definir o que é entusiasmo fecundo? Deliberar sobre a mulher é correr o risco de renegar a si mesmo. É morrer sem a penitência dos dias de hoje. É pecar por falar a verdade. E logo arrisco: não há nada de fraco na mulher. A mulher não é cor de rosa; mas cor de sangue. Muito mais pela contumácia de suas dores do que pela tez floreada de rubores. Há luta em todo o seu bel-prazer. Na trajetória de uma vida-semente. Difícil predizer quando está ditosa, pois a mulher não tem a felicidade como ambição da carne. Não preceituem a mulher; ela é a dúvida que não necessita de resposta. A mulher não nasceu da costela de nenhum adão. Ela pariu... Ela mesma. A mulher também não foi anunciada pelas trombetas de Querubins. O seu motivo foi de exultação interior. Adveio do seio do mundo. Sem alarde. E ela se fez Deus. E a mulher é também o hálito; o berro; o transitório; e, em sendo assim, a mulher é folha seca na aridez da terra. É ventre e é sepultura. E é o livre-arbítrio também. A mulher é a grata confissão da existência, feito essência de uma coisa pura – uma biografia: Joana d’ arc, Evita Perón, Anita Garibaldi, madre Tereza de Calcutá, irmã Dulce, Rosa Luxemburgo, Maria Quitéria, Chiquinha Gonzaga, Tarcila do Amaral, Cecília Meireles, Olga Benário, Frida Kahlo, Margarida Maria Alves... - E destaco nossa senhora, santificada e cheia de glória – em respeito cristão. Essas mulheres estavam certas: não havia mesmo porque se esconder. Elas supunham que o conceito não queimaria na fogueira. Atribuíram à causa feminista um glamour particular e conseguiram relegar o convencionalismo. Arrancaram as amarras que impunham a sociedade machista, escravocrata, preconceituosa e ignorante, muito mais pela ousadia que por qualquer tipo de truque ou de sortilégio. E nem precisaram de salto alto. E nada mesmo foi ensaiado. O experimento foi a própria dor. Dilacerante e humilhante. E nem mesmo mil vezes mil exemplos foram suficientes. É fato que em 1857, cento e trinta funcionárias de uma fábrica têxtil, nos Estados Unidos, morreram incendiadas, em meio a uma greve por melhores condições de trabalho. Esse episódio obrigou o mundo a voltar às suas atenções para a mulher, à cada dia 8 de março, como um obituário de intento memorial. Contudo, o ato embora funesto não é muito diferente da historieta da mulher de nome Consolação... - Que na água turva do regato lava as roupas do seu senhor e cantarola a predileção da quermesse. E mesmo assim é possuída pela espécie depravada do macho que ignora a própria virtude. E esse homem nem sabe que ela já o perdoou; e ela nem mesmo sabe o que é o amor. Onde fica o muro das lamentações de todas as Marias do mundo? Em todos os cantos do mundo. Mas, não há choro e ranger de dentes. Na áfrica e no oriente médio três milhões de mulheres são sujeitas à mutilação genital todos os anos para que, entre outras coisas, não procriem mais. Pobre humanidade que teme a si mesma como se isso não fosse vaidade. Em todas as épocas, mulheres se empenharam em favor de um ideário; e isso foi também a doação da própria vida, numa catequização que sempre se demudará de escafandro à mariposa. E a cada estação essas milhares de borboletas voarão insistentemente na direção da luz, pois esse desígnio, mesmo de modo finito, é o preço que se paga pela liberdade.

Professor e jornalista

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