Compromisso com a verdade dos fatos

Bem-vindo ao blog Garimpando Palavras

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Autoestima


TORTA É A MÃE QUE NÃO AMAMENTA!
Inácio A. Torres (pbnoticias.com)
Em 1982 fui entrevistar D. Nenêm, a parteira mais antiga de Patos, um doce de pessoa, mulher esguia, elegante, negra, falante, inteligente e acolhedora. De saída, perguntou-me o objetivo da prosa. Quando lhe falei que era assunto para a revista Unidade Médica, do Centro de Estudos Achiles Leal, da Prefeitura de João Pessoa, tomei um susto! Disse-me que não falaria, pois isso lhe traria problemas em virtude de ser funcionária pública do Estado.
Inicialmente desanimei, porém, com muito jeito, acordamos ter apenas uma conversa que ficaria ali mesmo, entre nós. Desprezamos o gravador, e iniciamos a conversa que fluiu o tempo todo num clima de total alegria e felicidade. Paramos apenas para tomar um cafezinho, que ela mesma fez questão de prepará-lo e servi-lo.
Ao final da conversa despedi-me, levando comigo algumas anotações, as quais até hoje servem como subsídios para minhas aulas de saúde coletiva. Nessa prosa, como ela bem denominou, falamos de vários assuntos e um deles foi o aleitamento materno, sobre o qual memorizei dela a frase curta, mas de longo significado: “A mãe que não amamenta o filho é uma mãe torta”.
            Após dez anos dessa nossa conversa, precisamente em 1992, foi instituída a Semana Mundial de Aleitamento Materno, tendo por objetivo incentivar e conscientizar as mulheres sobre a importância da amamentação. Disseminaram-se no mundo inteiro muitas outras atividades e eventos sobre o assunto. No Brasil, em 2005, para combater o desmame precoce e os baixos índices de aleitamento, oficializou-se o 1º de outubro como o dia nacional de doação de leite humano. Enfim, um bom olhar pairou sobre o ato de amamentar.
Surgiram novas pesquisas e ações nas políticas públicas, todas voltadas para a promoção do aleitamento materno. Discutiu-se muito – na academia e fora dela - sobre aleitamento artificial, alojamento conjunto, bancos de leite, desmame, mãe canguru e “substitutos” do leite materno. Criaram-se novos programas em prol da saúde das mães e das crianças. Todos bem intencionados. Enfim, avançamos muito no campo da saúde materno-infantil.
Dentro desse contexto, o Ministério da Saúde tem divulgado insistentemente através da televisão, rádio, jornais, cartilhas e manuais, que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar, anualmente, 1,3 milhão de mortes de crianças menores de 5 anos no mundo; que os bebês até os seis meses não precisam de chás, sucos ou outros leites, nem mesmo de água; que após essa idade, deverá ser dada alimentação complementar apropriada, todavia a amamentação deve continuar até o segundo ano de vida da criança ou mais.
Mais ainda: que a amamentação na primeira hora de vida é importante tanto para o bebê quanto para a mãe, pois auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia, além de fortalecer o vínculo afetivo entre mãe e filho.
Mesmo assim, apesar de todo esse empenho governamental, lamentavelmente, de acordo com o Unicef, ainda hoje, no Brasil, do total de mortes de crianças com menos de 1 ano, 65,6% ocorrem no período neonatal e 49,4% na primeira semana de vida. Esse dado estarrece, visto que está comprovado que a amamentação imediatamente após o nascimento pode reduzir consideravelmente a mortalidade neonatal, isto é, a que acontece até o 28º dia de vida.
Como se vê, há motivos para se comemorar, contudo ainda precisamos progredir bastante. E não é, como foi dito antes, por falta de divulgação de informações, de vontade política, ou de investimento em capacitação dos trabalhadores da saúde que os índices de aleitamento não têm alcançado os índices desejáveis.
O nó crítico da questão está na metodologia de acolhimento e sensibilização das mães (sobremaneira as primíparas); na forma como veem sendo feitas as abordagens individual e coletiva junto a essas mães; e no discurso pedagógico aplicado no processo de acolhimento, sensibilização e integração delas com os trabalhadores do serviço.  Em alguns casos verifica-as ainda a prática da tradicional palestra repetitivas na qual o trabalhador da saúde fala e as mães simplesmente escutam.
A experiência tem mostrado que essa prática não entusiasma, não motiva, não  anima e não provoca. Pelo contrário, instiga a indolência e a rotina tediosa. A norma deve ser orientar e facilitar o aleitamento a partir de práticas e orientações saudáveis, inovadoras e transformadoras no período pré-natal, no atendimento à mãe e ao recém-nascido, e desde o trabalho de parto até o retorno ao domicílio.
Substituam-se as palestras por rodas de conversas prazerosas, alegres, onde todos tenham vez para relatar suas dores, sofrimentos, alegrias e felicidades. Registro todos, porque nessas atividades, se bem estimulados, os homens também participarão, sobre maneira agora com a instituição da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. É como dizem os terapeutas comunitários: “quando a boca fala, o corpo sara”. E é assim mesmo. Roda de conversa deve ser espaço onde todos falem e todos sejam escutados, lugar para se ensinar a verdade e o bom exemplo, ambiente para se discutir o respeito, a tolerância e a convivência saudáveis.
            Por fim, lembramos que de 2 a 6 de agosto, acontece a 19ª Semana Mundial de Aleitamento Materno, que neste ano tem como tema “Amamentação: apenas 10 passos”. Participemos, do contrário, queridas mamães e queridos papais,  continuará valendo a frase de D. Nenên “A mãe que não amamenta o filho é uma mãe torta”.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog