Inácio A. Torres - 11 de outubro de 2009
Quando criança estudei música com os professores padre Carlos e Barrinha, no velho Ginásio Diocesano de Patos. O padre era calmo, tinha uma voz rouca e falava compassadamente. Barrinha era uma mulher ponderada, franzina e muito amiga. Um fato interessante: só depois de muito tempo vim a saber que ela era irmã do consagrado compositor paraibano, de Uiraúna, Barros de Alencar.
Pois bem, tenho na memória uma música que esses mestres costumavam cantar, a qual dizia em suas estrofes: “fica sempre um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas”. Agora, lendo esse belíssimo texto de Estela Parra, transcrito abaixo, veio-me à lembrança o cenário da sala de aula da infância, espaço sacrossanto em que a professora Barrinha e o Padre Carlos passavam-nos, através da música, tantas mensagens belíssimas sobre a generosidade e a amizade sincera. Em prol do bem comum, reparto com você esse fato de um final feliz, acerca da afeição, ternura e empatia vivenciadas, com muito respeito, por dois jovens estudantes, e que tão bem é narrado por Estela.
“Venha comigo a uma sala de aula do terceiro ano. Há um menino de nove anos sentado à sua carteira e de repente há uma poça entre seus pés e a parte dianteira de suas calças está molhada.Pensa que seu coração vai parar porque não pode imaginar como isso aconteceu. Isso nunca havia acontecido antes, e sabe que quando os meninos descobrirem nunca o deixarão em paz.
Quando as meninas descobrirem, nunca mais falarão com ele enquanto viver.O menino acredita que seu coração vai parar; abaixa a cabeça e reza esta oração:- "Querido Deus, isto é uma emergência ! Eu necessito de ajuda agora! Mais cinco minutos e serei um menino morto".
Levanta os olhos de sua oração e vê a professora chegando com um olhar que diz que foi descoberto. Enquanto a professora está andando até ele, uma colega chamada Susie está carregando um aquário cheio de água. Susie tropeça na frente da professora e despeja inexplicavelmente a água no colo do menino. O menino finge estar irritado, mas ao mesmo tempo interiormente diz: - ‘Obrigado, Senhor !’
De repente, em vez de ser objeto de ridículo,o menino é objeto de compaixão.
A professora desce apressadamente com ele e dá-lhe shorts de ginástica para vestir, enquanto suas calças secam. Todas as outras crianças estão sobre suas mãos e joelhos limpando ao redor de sua carteira. A compaixão é maravilhosa.
Mas como tudo na vida, o ridículo que deveria ter sido dele foi transferido a outra pessoa - Susie. Ela tenta ajudar, mas dizem-lhe para sair.
-‘Você já fez demais, sua grosseira!’ Finalmente, no fim do dia, enquanto estão esperando o ônibus, o menino caminha até Susie e lhe sussurra:
‘Você fez aquilo de propósito,não foi ?’
E Susie lhe sussurra:
‘Eu também molhei minha calça uma vez.’
Coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com
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