O DESENVOLVIMENTO DO SENTIDO DE CERTO E ERRADO DE UMA CRIANÇA
Iara da Silva Machado
Algumas pessoas pensam que as idéias de certo e errado surgem na criança da mesma forma que o andar e o falar, embora haja quem pense que temos de implantá-las. A minha, opinião pessoal, é que há lugar para algo entre esses dois extremos, lugar para a idéia de que o sentimento de bom e mau, como tantas outras coisas, ocorre naturalmente em toda criança, desde que certas condições de cuidado ambiental possam ser consideradas ponto pacífico. Essas condições essenciais não podem ser descritas em poucas palavras, mas consistem principalmente nisto: o meio ambiente deve ser previsível e, no começo, altamente adaptado às necessidades do bebê. A maioria dos bebês e crianças pequenas obtêm, de fato, essas condições essenciais.
Quero apenas dizer que a base da moralidade é a experiência fundamental do bebê de ser o seu próprio e verdadeiro eu, de continuar sendo; reagir ao imprevisível interrompe esse continuar sendo e interfere com o desenvolvimento de um eu. Mas isto é retroceder longe demais para este exame.
Quando um bebê começa a coletar uma vasta experiência de continuar sendo, à sua doce maneira, e a sentir que existe um eu – um eu que poderá ser independente da mãe – é então que os medos começam a dominar a cena. Esses medos são de natureza primitiva e baseiam-se nas expectativas da criança de cruéis retaliações. A criança fica excitada com os impulsos agressivos ou destrutivos que se manifestam através de gritos e desejos de morder, e imediatamente o mundo parece estar repleto de bocas mordentes, garras e dentes hostis, e toda sorte de ameaças. Assim, o mundo infantil seria um lugar aterrador, se não fosse o papel protetor da mãe, que de um modo geral, encobre esses medos enormes que pertencem à experiência inicial da vida de um bebê. A mãe (e não estou esquecendo o pai) altera a qualidade dos medos da criança pequena por ser um ser humano.
Assim ao invés de um mundo de retaliações mágicas, a criança adquire uma mãe que compreende e que reage aos impulsos da criança. A mãe conhece a diferença entre destruição real e a intenção de destruir. Ela diz “Ui!” quando é mordida pelo bebê, por exemplo, mas não fica perturbada, em absoluto, quando reconhece que o bebê quer “devorá-la”. De fato, considera que isso é um cumprimento, a única maneira como o bebê pode mostrar sua excitação amorosa. Ela diz “Ui!” apenas porque sentiu dor. O morder o peito da mãe na hora do aleitamento é semelhante. Esse exercício é um bom valor de sobrevivência para o bebê.
Todas essas observações supracitadas do desenvolvimento inicial do sentido de certo e errado são afirmações do D. W. Winnicott, pediatra e psicanalista, em seu livro Conversando com os Pais.
Compreender esses mecanismos primários é fundamental para maturar a relação da díade - mãe & bebê no processo da saída da instância dos instintos, descritos acima, para as instâncias posteriores, cito a emocional e a mental. O impulso do princípio do prazer e desprazer no bebê moldar-se-ão a partir do significado que os pais atribuem a essas manifestações, criando um modelo de certo e errado na ação. Logo, o bem e o mal estarão sendo construídos como valores, crenças e atitudes no âmbito inicialmente doméstico.
No processo do crescimento o sentir e o pensar antecedem o fazer, se esses antecessores estão em boa estruturação à ação no mundo será um agir e não um reagir.
Portanto, quando se diz que o processo de educação começa no ventre, não é um ato poético e sim estrutural. Se os pais acatam e reconhecem os elementos formadores do psiquismo do filho ou filha poderá minimizar os danos recorrentes de uma má interpretação do comportamento agressivo natural do bebê para que a criança e o adolescente posteriormente desenvolvidos possam apreender os limites da manifestação corporal agressiva (natural) que difere da manifestação corporal violenta (patológica), sendo a percepção distorcida de uma e outra atitude corporal, uma possibilidade de canal repressivo inadequado no contexto familiar, por não saber lidar equilibradamente com os pontos que envolvem os eixos de preservação e sobrevivência psicoemocional humana.
Dessa forma estaremos trabalhando no lar para a junção do amor e da ação para o bem, e por tanto, para uma qualidade de vida melhor para os descendentes, se propormos reflexões e orientações elucidativas sobre o tema do desenvolvimento do sentido de certo e errado no campo mental e afetivo infanto- juvenil.
Logo, o certo e o errado são construções que perpassam objetivamente pelo conjunto das regras sociais vigentes numa determinada época da humanidade, mas subjetivamente o certo e errado estão em ligação direta com o senso de maturação moral da individualidade, que transcende a personalidade e reconhece na ação uma inscrição das leis naturais da vida, assim, há princípios que são perenes apesar do desenvolvimento tecnológico, científico, etc. E esses atributos da alma - psique são elementos basilares para o estado de alegria e consciência de paz de um ser humano que busca a saúde na integralidade.
Iara Machado escreve para o pbnoticias.com e garimpandopalavras
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