“FOME E NUDEZ NÃO TEM OPINIÕES”
Inácio Andrade Torres
Sempre tive grande estima e respeito pelos poetas parnasianos. Dentre esses, Cristiano Cartaxo Rolim. E a minha paixão pela sua poesia teve origem quando o meu professor Paulo José de Sousa, do curso de Odontologia da UFPB, deu-me o livro “Mensagens literárias contemporâneas”, de sua autoria, recomendando-me que fizesse a leitura do soneto “Orgulho caboclo”. Daí para frente, tornei-me admirador desse poeta que tanto enaltece nossas letras.
Para alegria minha, em 1980, quando vim morar em Cajazeiras, ganhei de presente o livro “A musa quase toda”, de Cristiano. Li-o todo e guardo-o até hoje com muito carinho. Um dia – já faz tempo - em conversa com seu filho Tantino, também consagrado poeta da Paraíba, disse-lhe da relevância do verso que intitula a coluna de hoje, da importância que tem no âmbito da sociologia e da antropologia.
Este verso pode servir de idéia, de gênese, para a produção de uma monografia (dissertação ou tese), um artigo. Pois bem, trata-se de um verso do soneto “Política”, extraído do livro “A musa quase toda”. Uma poesia que continua vivificando e retratando a realidade do tempo atual, embora tenha sido escrita há bastante tempo.
Confira abaixo o poema - misto de racionalidade e beleza poética -, pois nestes tempos de política ele serve de forte reflexão.
“Perdi tanto dinheiro e nada fiz!
Meu povo me vendeu por dez tostões.
Não votou em mim, como afirma e diz,
Subornado, elegeu tubarões.
Essa gente, Senhor, é infeliz.
Sente necessidade aos borbotões.
A pobreza é mui raro bom juiz,
Fome e nudez não têm opiniões.
Senhor, daí-lhe vontade de aprender,
Bons invernos, fartura, muito pão,
Bondade p’ro trabalho enobrecer,
Saúde, lucidez, discernimento,
P’ra que possa julgar com retidão
E levantar do chão o pensamento”.
Até a próxima, com fé em Deus
Coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com
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