Inácio Andrade Torres – 15/08/09 MOGO - O QUEBRADRO DE PEDRAS
Mogo era um rapaz saudável que vivia na China. Para sobreviver trabalhava quebrando pedras. Embora forte e sadio, não se contentava com seu destino. Reclamava dia e noite da vida que levava, até quem um dia seu anjo da guarda apareceu-lhe e assim conversou com ele: - Mogo, você tem saúde e uma vida pela frente. Outros jovens começaram fazendo algo como você, então por quê você reclama tanto? Deus foi injusto comigo, não me dando oportunidade de crescer, respondeu Mogo. Preocupado o anjo foi à presença do Senhor, pedindo ajuda para que seu protegido não terminasse perdendo sua alma. Seja feita a tua vontade – disse o Senhor ao anjo. De agora em diante, tudo o que Mogo quiser, lhe será concedido. No dia seguinte, Mogo quebrava pedras quando viu passar uma carruagem levando um nobre, coberto de jóias. Passando as mãos pelo rosto suado e sujo, Mogo disse com amargura: Por quê não posso ser um nobre também? Este é o meu destino! – Sê-lo-ás – murmurou seu anjo, com imensa alegria. E Mogo transformou-se no dono de um palácio suntuoso, muitas terras, cercado de servidores e cavalos. Costumava sair todos os dias com seu cortejo e gostava de ver seus antigos companheiros alinhados à beira da rua, olhando-o com respeito. Numa dessas tardes o calor estava insuportável. Mesmo debaixo de seu guarda sol dourado, Mogo transpirava como no tempo em que lascava pedras. Deu-se então conta de que não era tão importante assim: acima dele havia príncipes, imperadores e mais alto ainda que estes o sol, que não obedecia a ninguém, pois era o verdadeiro rei! - Ah! anjo meu, porque não posso ser o sol? Este deve ser meu destino! – lamentou-se Mogo. Pois sê-lo-ás – exclamou o anjo, escondendo sua tristeza diante de tanta ambição. E Mogo foi sol, como desejava. Enquanto brilhava no céu, admirado com seu gigantesco poder de amadurecer colheitas ou queimá-las ao seu prazer, um ponto negro começou a avançar ao seu encontro.
A mancha escura foi crescendo e Mogo reparou que era uma nuvem estendendo-se a sua volta, e fazendo com que não mais pudesse ver a terra. Anjo! gritou Mogo – a nuvem é mais forte que o sol! Meu destino é ser nuvem! Sê-lo-às - respondeu o seu anjo. E Mogo foi transformado em nuvem, achando que havia realizado o seu sonho. Sou poderoso! Gritava, escurecendo o sol. Sou invencível trovejava, perseguindo onda. Mas na costa do deserto do oceano, erguia-se uma imensa rocha de granito tão velha quanto o mundo. Mogo achou que a velha rocha o desafiava e desencadeou uma tempestade que o mundo nunca antes vira. A ondas enormes e furiosas golpeavam a rocha, tentando arrancá-la do solo e atirá-la no fundo do mar. Mas firme e impassível, a rocha continuava no seu lugar. Anjo – soluçava Mogo - a rocha é mais forte que a nuvem! Meu destino é ser uma rocha. E Mogo transformou-se numa rocha. Sou a mais poderosa do mundo, gritava ele. Agora, ninguém poderá vencer-me. Passaram-se vários anos, até que numa certa manhã, Mogo sentiu uma lancetada aguda nas suas entranhas de pedra, acompanhada de dor profunda, como se uma parte de seu corpo granítico estivesse sendo dilacerado. Logo ouviu golpes surdos insistentes e novamente a dor gigantesca. Louco de espanto gritou: anjo alguém está querendo me matar! Ele tem mais poder do que eu. Quero ser como ele. Sê-lo-as! – exclamou o anjo, chorando. E foi assim que Mogo voltou a lascar pedras. Que Deus esteja conosco. Até segunda-feira. Um feliz final de semana.
Esta coluna é publicada simultaneamente com o pbnoticias.co
Mogo era um rapaz saudável que vivia na China. Para sobreviver trabalhava quebrando pedras. Embora forte e sadio, não se contentava com seu destino. Reclamava dia e noite da vida que levava, até quem um dia seu anjo da guarda apareceu-lhe e assim conversou com ele: - Mogo, você tem saúde e uma vida pela frente. Outros jovens começaram fazendo algo como você, então por quê você reclama tanto? Deus foi injusto comigo, não me dando oportunidade de crescer, respondeu Mogo. Preocupado o anjo foi à presença do Senhor, pedindo ajuda para que seu protegido não terminasse perdendo sua alma. Seja feita a tua vontade – disse o Senhor ao anjo. De agora em diante, tudo o que Mogo quiser, lhe será concedido. No dia seguinte, Mogo quebrava pedras quando viu passar uma carruagem levando um nobre, coberto de jóias. Passando as mãos pelo rosto suado e sujo, Mogo disse com amargura: Por quê não posso ser um nobre também? Este é o meu destino! – Sê-lo-ás – murmurou seu anjo, com imensa alegria. E Mogo transformou-se no dono de um palácio suntuoso, muitas terras, cercado de servidores e cavalos. Costumava sair todos os dias com seu cortejo e gostava de ver seus antigos companheiros alinhados à beira da rua, olhando-o com respeito. Numa dessas tardes o calor estava insuportável. Mesmo debaixo de seu guarda sol dourado, Mogo transpirava como no tempo em que lascava pedras. Deu-se então conta de que não era tão importante assim: acima dele havia príncipes, imperadores e mais alto ainda que estes o sol, que não obedecia a ninguém, pois era o verdadeiro rei! - Ah! anjo meu, porque não posso ser o sol? Este deve ser meu destino! – lamentou-se Mogo. Pois sê-lo-ás – exclamou o anjo, escondendo sua tristeza diante de tanta ambição. E Mogo foi sol, como desejava. Enquanto brilhava no céu, admirado com seu gigantesco poder de amadurecer colheitas ou queimá-las ao seu prazer, um ponto negro começou a avançar ao seu encontro.
A mancha escura foi crescendo e Mogo reparou que era uma nuvem estendendo-se a sua volta, e fazendo com que não mais pudesse ver a terra. Anjo! gritou Mogo – a nuvem é mais forte que o sol! Meu destino é ser nuvem! Sê-lo-às - respondeu o seu anjo. E Mogo foi transformado em nuvem, achando que havia realizado o seu sonho. Sou poderoso! Gritava, escurecendo o sol. Sou invencível trovejava, perseguindo onda. Mas na costa do deserto do oceano, erguia-se uma imensa rocha de granito tão velha quanto o mundo. Mogo achou que a velha rocha o desafiava e desencadeou uma tempestade que o mundo nunca antes vira. A ondas enormes e furiosas golpeavam a rocha, tentando arrancá-la do solo e atirá-la no fundo do mar. Mas firme e impassível, a rocha continuava no seu lugar. Anjo – soluçava Mogo - a rocha é mais forte que a nuvem! Meu destino é ser uma rocha. E Mogo transformou-se numa rocha. Sou a mais poderosa do mundo, gritava ele. Agora, ninguém poderá vencer-me. Passaram-se vários anos, até que numa certa manhã, Mogo sentiu uma lancetada aguda nas suas entranhas de pedra, acompanhada de dor profunda, como se uma parte de seu corpo granítico estivesse sendo dilacerado. Logo ouviu golpes surdos insistentes e novamente a dor gigantesca. Louco de espanto gritou: anjo alguém está querendo me matar! Ele tem mais poder do que eu. Quero ser como ele. Sê-lo-as! – exclamou o anjo, chorando. E foi assim que Mogo voltou a lascar pedras. Que Deus esteja conosco. Até segunda-feira. Um feliz final de semana.
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