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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Saúde e o médico



MARCUS ARANHA

No Brasil, as despesas com Previdência e assistência podem ser comparadas às dos países do Primeiro Mundo. O problema é que o que se aplica em Saúde é muito menos do que se gasta no mundo desenvolvido.  
Em setembro que vem a emenda constitucional que definiria os gastos com a saúde do brasileiro, completa dez anos sem ter sido regulamentada pelo Governo, nem pelo Senado e Câmara.
E além do povo desta nação, há um grande sofredor com esta situação: o médico.
O Departamento de Saúde do Trabalhador da UERJ estudou estatísticas de quatro anos de atendimentos feitos a profissionais de nível superior, concluindo que “médico frio” é mentira. Vivenciando os problemas dos pacientes, os esculápios têm problemas cardiovasculares, insônia, irritabilidade, impotência sexual e depressão. É médico cardíaco, médico broxa, médico deprimido, enfim, médico com tudo quanto é de doença. Ele somatiza os problemas que enfrenta nos hospitais, que são muitos, pois no Brasil há hospital que, pra atender paciente nas últimas, o melhor recurso que possui só é mesmo o médico.
Aí o que é que ele faz? Assiste a uma vida se esvair, sabendo que se houvessem medicamentos e equipamentos, ela seria salva. E tem de ficar calado, pra no fim do mês receber o salário minguado que serve para sustentar a família.
Tem médico rico? Tem! Tem hospital de primeiro mundo? Tem! Mas também, só o que tem, é médico remediado. E o que não falta é hospital-espelunca caindo aos pedaços, principalmente no Interior. Nessas espeluncas é que a categoria médica está “se matando” de trabalhar.
E também em hospitais melhores, em cidades maiores, o médico sofre!
Imagine o drama do plantonista da UTI de um hospital melhor, onde só há uma vaga pra dois pacientes: o comerciante de 65 anos de idade infartado e um pedreiro de 20 anos que caiu do andaime. Aí ele tem de escolher, o que vai ocupar a vaga e o que vai morrer.
O velho que já viveu muito ou o jovem com muito futuro? Decidir em alguns segundos, pra mandar o rejeitado dentro da ambulância, em louca correria pela cidade, ver se arranja vaga em UTI de outro hospital. E fica com o pedreiro... Depois de cuidar dele, ele vai almoçar às pressas.
Pense como é amargurado esse bocado que o médico almoça, depois de sentenciar alguém à morte, forçado pela escolha compulsória, ditada pela existência de uma só vaga na UTI. Será que é doce a sobremesa de que se serve esse médico, ser humano que a conjuntura da saúde brasileira travestiu grotescamente de Deus?
Esse “deus” está adoecendo de asma, úlcera e dermatite. A Saúde brasileira está desmantelando a cabeça e o coração do médico.
E ele está se matando, enquanto vê morrer muitos por falta de melhores recursos médicos.         

Publicado em o Correio da Paraíba de 15 de agosto de 2010. 
foto:saude.bicodocorvo.com.br

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