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quarta-feira, 12 de maio de 2010

ENFERMAGEM: O PODER DO CUIDADO


Ankilma do Nascimento Andrade* Maria Goreti do N. Andrade**
           
            De 12 a 20 de maio, a Associação Brasileira de Enfermagem/ABEN realizará a 71ª Semana Brasileira de Enfermagem, cujo tema é: Enfermagem - o poder do cuidado. Trata-se, pois, de um assunto relevante para a Enfermagem como Ciência e como Profissão.
            O que é poder? Aí está uma pergunta que desafia e provoca um saudável debate. Se a gente invoca o Aurélio, encontra significados conflituosos, como autoridade, soberania, império, domínio, influência, força, eficácia, efeito, virtude, recurso, meios, capacidade e aptidão.
            Em outras situações literárias, a definição de poder está também recheada de contradições e conflitos de interesse. Conflitante, como vimos, quanto à significação; e, confusa, pela conotação negativa, sobretudo quando lembra a presença de influências coercitivas, constrangedoras, repressoras ou, ainda, quando vincula-se a uma qualidade que estimula o alcance ou realização de algo que não é bom, solidário, positivo.
            Cuidado, por sua vez, segundo o Aurélio, quer dizer atenção, precaução, cautela, diligência, zelo, encargo, responsabilidade, inquietação de espírito, pessoa ou coisa que é objeto de vigilância. 
            Reportando-se a ética do humano, Leonardo Boff recomenda cuidados com a sociedade sustentável; com o outro; com os pobres, oprimidos e excluídos; com o nosso corpo na saúde e na doença; com a cura integral do ser humano; com a nossa alma, com o nosso espírito, os grandes sonhos e Deus; e com a grande travessia – a morte.
            Há vários tipos de cuidados. Dentre esses destacamos: o essencial, o excessivo, e o carencial. O essencial, por exemplo, é o tipo, para com o qual, os humanos insistem na sua negação.  Essa atitude é a própria negação da solidariedade e do respeito. Aliás, conforme alguns pensadores, negar o cuidado essencial é uma aberração. Essa negação rotineiramente pode ser vista e traduzida na exclusão do outro, nos maus-tratos das pessoas sobremaneira crianças, idosos e deficientes; na desorganização da casa, do ambiente, da coisa pública, de nós mesmo, das profissões, dos profissionais e da vida no planeta.
            Por outra parte, é quase sempre prejudicial o cuidado em excesso. Neste caso, vira uma obsessão. A obsessão para cuidar de tudo e de todos. A obsessão em cuidar excessivamente de si mesmo, por vaidade, pelo desejo de atrair homenagens e admiração.  Essa atitude estimula na prática o esquecimento do outro, quer seja o mais ou o menos próximo.
            Não menos preocupante é o cuidado em sua carência, também chamado de descuido. É o cuidado de menos, o cuidado que conduz ao desinteresse, ao desleixo
no vestir, no trabalho, no sentido da vida; que leva a impaciência, a inquietação, a perda de calma e de serenidade, a predisposição do espírito para a tristeza, a rotina, ao tédio. Pior: o descuido, com o tempo, pode transformar-se num relaxamento, perversão, auto-abandono e abandono do próximo.
            Torna-se útil lembrar que o cuidado tem sua ética desde a antiga Grécia, onde nos Santuários de Delfos, homens e mulheres buscavam o auto-conhecimento, fundamentando-se em três normas: nada em excesso, cuida de ti mesmo e conhece a ti mesmo. Noutras palavras cuidavam-se.
            Dentre os conceitos atuais, realce-se o empoderamento, definido como sendo a ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões e de consciência social dos direitos sociais. De acordo com Ferdinand C. Pereira, em sua operacionalidade, o empoderamento possibilita a aquisição da emancipação individual e da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política.
            Conforme esse raciocínio, a Enfermagem deve promover o debate que anime não a falta de poder ou a inabilidade da profissão para usar o poder que detinha no passado, mas sim o debate atual capaz de estimular a crença de que o poder com profissionalismo consiste no conhecimento e habilidade relacionados com os domínios técnico, científico e interpessoal da prática profissional, bem como em conquistas distribuídas entre os trabalhadores da enfermagem responsáveis e comprometidos em realizar ações.
            É preciso conferir aos trabalhadores da enfermagem, habilidade para entender as qualidades e dimensões do poder associado ao cuidado da Enfermagem. Somente assim, eles serão capazes de evoluírem forte, política, racional e conscientemente, tendo uma compreensão clara do poder do bem e do mau; de serem trabalhadores capazes de enxergar e decifrar com lucidez o pensamento do mestre indiano  Osho, que diz: “o desejo de poder, de dominar, surge apenas numa mente doentia. Surge a partir de um complexo de inferioridade. Pessoas que não têm complexo de inferioridade não se importam com o poder". E completamos nós: importam-se, sim, com o empoderamento, sobremaneira o coletivo.

*Ankilma do Nascimento Andrade – Mestranda da UFPB. Professora da FSM.
**Maria Goreti do N. Andrade – Enfermeira. Sanitarista. Ex-professora da UFPB.   

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