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terça-feira, 24 de março de 2009

Falta de novas vacinas e remédios fez tuberculose ressurgir, diz especialista



Bactéria da doença também criou resistência porque tratamento é difícil.De acordo com médico, faltam incentivos para avançar na pesquisa.
Um caso clássico de seleção natural está fazendo a humanidade perder a guerra contra a tuberculose. Embora a doença seja coisa do passado nos países desenvolvidos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma pessoa seja infectada pela bactéria causadora da tuberculose a cada segundo no planeta, levando a quase 2 milhões de mortes por ano. A culpa, afirma um especialista alemão da ONG Médicos Sem Fronteiras, é a falta de novos medicamentos e vacinas contra o microrganismo nas últimas quatro décadas -- situação que precisa ser revertida com urgência.
"Como faz 40 anos que nenhuma droga nova é desenvolvida, a bactéria acabou se tornando resistente a todos os medicamentos existentes", contou ao G1 o especialista Tido Von Schoen-Angerer, que está no Brasil para participar de um encontro internacional sobre a doença por ocasião do Dia Mundial do Combate à Tuberculose, que acontece nesta terça (24).
"O outro grande problema é que o tratamento é lento e complicado, durando pelo menos seis meses, e nos países pobres os pacientes têm muita dificuldade de segui-lo até o fim", conta ele. Trata-se de uma receita para o desastre, porque os tratamentos interrompidos acabam gerando sobreviventes da população de microrganismos no corpo das pessoas infectadas. E os micróbios que sobraram tendem a ser os que apresentam algum grau de resistência aos medicamentos, os quais acabam sendo passados para outras pessoas, o que faz com que elas sejam mais difíceis de curar. Trata-se de um caso clássico de seleção natural -- no caso, a sobrevivência e multiplicação dos microrganismos mais resistentes.
Com cerca de 9 milhões de novos casos registrados por ano, a tuberculose também assusta por causa de sua associação com a Aids. "Isso é particularmente grave nos países do sul da África", conta Von Schoen-Angerer. Como os pacientes com Aids têm o sistema imune (de defesa do organismo) enfraquecido, a doença se espalha com facilidade entre eles e, muitas vezes, acaba sendo a causa direta de sua morte.
Prevenção
"Vacinar esses pacientes com sistema imune enfraquecido seria difícil, mas se conseguíssemos uma vacina eficaz para a população em geral, teríamos um reservatório menor para a bactéria, o que diminuiria a infecção dos pacientes com Aids", afirma o médico alemão. "Também poderíamos tomar mais cuidado em hospitais, separando os pacientes de Aids dos pacientes com tuberculose."
O grande problema, no entanto, é investimento. Segundo Von Schoen-Angerer, é preciso muito mais dinheiro para pesquisa em novos medicamentos e novas vacinas contra a tuberculose. "Hoje, esse financiamento vem quase exclusivamente da Fundação Bill e Melinda Gates", diz ele, referindo-se ao órgão criado pelo fundador da Microsoft e sua mulher. A situação atual envolve uma série de possíveis novas vacinas, ainda sem eficácia comprovada, bem como alguns testes de drogas, um dos quais, na África do Sul, está se revelando promissor.
Mas, como são as populações mais pobres do planeta as mais ameaçadas pela epidemia, estratégias mais inovadoras precisam ser pensadas, diz o médico alemão. "Uma forma de incentivar a pesquisa poderia ser a criação de um prêmio em dinheiro para os criadores de novas abordagens contra a tuberculose", sugere ele. "Quando remédios promissores surgirem, seria interessante criar um acordo para que eles sejam considerados genéricos desde o começo, com laboratórios competindo para produzi-los. Isso aumentaria a eficiência e diminuiria os custos relativamente rápido", afirma.
G1

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