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sábado, 15 de março de 2008

Jornalista paraibana residente em São Paulo fala sobre situação das mulheres em cárceres paulistas




Nessa entrevista especial você vai conhecer um pouco da vida nos cárceres brasileiros, com o foco centrado na figura da mulher, trancafiadas em unidades prisionais de São Paulo. A pesquisa, de conclusão de curso de Jornalismo, realizada pela paraibana Hélyda Gomes e as colegas Marina Mascarin e Lígia Souza, trabalhou o tema: Prisão – só as fortes sobrevivem. Foram colhidos diversos depoimentos em três unidades prisionais de São Paulo. O mal estar causado pelos problemas, desencantos com a vida, carência de amor e de esperança das prisioneiras apenas deu maior ímpeto, ousadia a essas garotas para concluir com chave de ouro sua preparação profissional.

O Garimpando Palavras, que recebeu um exemplar dessa importante e reveladora pesquisa acadêmica, conversou com Hélyda Gomes, 23 anos, natural de Paulista-PB, residente em São João da Boa Vista-SP, que nessa entrevista fala em nome do trio de competentes jornalistas que buscam agora uma editora para lançar esse trabalho, o qual com certeza dará importantes contribuições para que a humilhante realidade inserida nos eternos dias de milhares e milhares de brasileiras carcerárias venha sensibilizar as autoridades (in)competentes, que possam inovar em políticas públicas que minimizem essa cruel realidade das mulheres encarceradas.
Hélyda, Marina e Lídia foram alunas do UNIFAE – Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino, de São João da Boa Vista-SP e defenderam Prisão – só as fortes sobrevivem como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo.


Garimpando: Juntamente com as colegas Lígia Souza e Marina Mascarin você trabalhou um tema, de conclusão do curso de Jornalismo, bastante trágico, que é a vida nos cárceres brasileiros, enfocando particularmente o público feminino. Porque da escolha dessa temática?
Hélyda: O livro nasceu de nossa preocupação em mostrar o lado feminino dos presídios, uma vez que se percebe pouca evidência, tanto por parte da imprensa quanto do poder público. A expectativa é que o conteúdo atinja a sociedade, de forma a promover, quem sabe, mudanças no sistema prisional. Ao mesmo tempo revela fatos marcantes de mulheres que sofrem uma dupla experiência de vida: dentro e fora do presídio, sobretudo, na volta à sociedade. O livro sugere a estruturação de políticas públicas mais adequadas e racionais voltadas à problemática evidente, tanto em âmbito social quanto psicológico.

Garimpando: Quais as penitenciárias em que vocês desenvolveram a pesquisa?
Hélyda: Estivemos nos seguintes estabelecimentos prisionais: Cadeia Feminina de Santa Cruz das Palmeiras – SP; Penitenciária Feminina São Bernardo, em Campinas/ SP; e Penitenciária “Joaquim de Sylos Cintra”, em Casa Branca/ SP, esta de Segurança Máxima. Mas na verdade não desenvolvemos a pesquisa em nenhuma penitenciária específica, pois nosso enfoque sempre foi a vida da egressas, independentemente da instituição em que essas mulheres tenham cumprido sua pena.

Garimpando: Como se deu o primeiro contato com o público alvo do trabalho acadêmico e como foi a receptividade por parte das prisioneiras? Como você definiria a vida de quem vive no cárcere brasileiro?
Hélyda: O primeiro contato com elas se deu graças a ajuda que obtemos do delegado assistente da Delegacia Seccional de Soa João da Boa Vista, o Dr. José Gregório Barreto. Por intermédio dele, tivemos acesso a alguns nomes e endereços de egressas que ele conhecia.
As que moravam aqui em São João foram visitadas por mim, e me receberam muito bem em suas residências. Quanto às demais egressas, essas nos receberam com horário marcado, em instituições de Campinas e São Paulo, instituições que elas tinham obrigatoriedade de freqüentar para continuar obtendo sua liberdade condicional.
E volto a frisar, tanto as que foram visitadas em seu domicílio, quanto as que nos encontraram em instituições, nos trataram muito bem, principalmente porque sabiam da importância de seus relatos para uma possível mudança de olhar da sociedade para mulheres, que como elas, estavam de volta e queriam uma segunda chance de voltar a ter uma vida normal e sem discriminação.
Definir como é a vida dentro de uma Penitenciária não é possível, pois para viver necessitamos do básico e isso lá dentro não há. Talvez a definição que coubesse a esse seu questionamento seria....... UM CEMITÉRIO DE VIVOS.
Foto: Marina, Hélyda, Fátima Ribeiro (orientadora) e Lígia


Garimpando: Quais as dificuldades que vocês encontraram ao longo desse trabalho
Hélyda: Primeiramente de conseguir informações já que há muito pouco sobre o tema divulgado na imprensa, os dados defasados em sites oficiais e a dificuldade em falar com qualquer autoridade do setor dificultou ainda mais a pesquisa. Mas como somos “jornalistas” deixamos de lado os formalismos e partimos para a prática, achamos brechas que possibilitaram uma conversa pessoalmente com o Secretário de Estado da Administração Penitenciária, conhecido por não dar entrevista à imprensa. Conversa esta que já havia sido negada pela assessoria do Governo.
Outra dificuldade encontrada foi localizar egressas e fazer uma triagem das histórias mais interessantes, já que cada qual tinha sua particularidade.


Garimpando: Quais os principais crimes cometidos por suas entrevistadas
Hélyda: Os principais crimes cometidos por nossas entrevistadas foram os crimes mais comuns com incidência de mulheres: Tráfico de Entorpecentes, o que na maioria dos casos se dá porque quererem proteger seus parceiros, pelo fato deles já possuírem muitas passagens pela polícia.

Garimpando: Após cumprir a pena, muitas acabam voltando para a prisão. Quais os motivos desse retorno.
Hélyda: Não podemos afirmar que seja exclusivamente isso, mas na maioria das vezes a falta de oportunidades de trabalho faz com que elas voltem a praticar delitos.

Garimpando: Podemos dizer que o livro Prisão: só as fortes sobrevivem é um grito por políticas públicas que venham a minimizar a humilhação, as péssimas condições das apenadas brasileiras?
Hélyda: Sim, e mais do que isso, esse grito deve servir para nós mesmos, para que eliminemos o “senso comum” e tratemos esses “seres humanos”, sejam eles homens ou mulheres de forma humana, como devem ser tratados.

Garimpando: Em síntese, quais as sugestões que vocês dariam hoje para as autoridades para mudar o quadro desumano que impera no sistema prisional brasileiro?
Hélyda: Isso na verdade não é tão simples, mas elencamos algumas sugestões de especialistas, que a longo prazo amenizam os problemas das prisões brasileiras:
Liberação de mais recursos, embora isso implique em uma fiscalização
mais acirrada sobre a forma como esse dinheiro será gasto. Neste caso, estão inclusas a construção de outras pequenas unidades prisionais.
Com relação à saúde, é fundamental a inclusão de todos, homens e mulheres, em todas as campanhas de vacinação promovidas pelo governo.
Também se faz necessário a realização de pesquisas e censos de modo a informatizar e dar um caráter de transparência à política carcerária
Segundo especialistas a aplicação de penas alternativas para crimes leves faria com que as cadeias se livrassem de, aproximadamente, 25% de sua população e por meio da revisão da situação penal dos presos. Isso sem falarmos em uma Reforma do Sistema Legal Penal, uma vez que os procedimentos judiciais são obsoletos, e, em média, o acusado fica preso quatro anos antes de receber a sentença.
Conceder o direito ao voto, já que o país tem experiência e tecnologia suficientes para criar um regulamento eleitoral próprio a presidiários, seria excelente. Afinal, neste país o número de prisioneiros equivale ao número de eleitores de muitas cidades e a participação política é pedagógica, o que faria com que os governos, partidos e candidatos passassem, pelo menos, a se interessar pela vida no interior dos presídios.

Garimpando: Desse importante trabalho que vocês realizaram, que lições podem ser aproveitadas para serem aplicadas no dia a dia da profissão de jornalista?
Hélyda: Aprendemos nesse trabalho quão importante é nossa profissão, mas principalmente tiramos desse trabalho uma lição para nossa vida quanto cidadão. E aqui cabe uma frase de um dos coordenadores do Depen, Divonsir Taborda Mafra: “Não acreditar na ressocialização é negar que o homem seja um ser racional, é negar que a sociedade seja capaz de perdoar”.
É importante que fique claro que não discordamos da penalidade, do castigo, da prisão, em certos casos, com muito rigor. No entanto, há que se insistir no aspecto formativo, transformador, conscientizador. Somos absolutamente favoráveis ao desenvolvimento e aplicação cada vez mais forte e prática da Psicologia Forense como respaldo, apoio e orientação aos detentos e familiares.
Vemos nessa ação, no mínimo, um bom começo para a verdadeira ressocialização que nada mais é do que o caminhar para uma nova estrutura social, onde direitos e deveres não se confundam, limites sejam respeitados valores reconhecidos e vivenciados. Utopia? A princípio pode parecer que sim, mas se cada um cumprir - de fato - o seu papel, muitos de nós ainda alcançaremos este novo cenário social do Brasil. Que assim seja!
Por fim, uso uma frase de Sócrates, inter-título de um dos capítulos do livro ”Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes”.

3 comentários:

Unknown disse...

Marcos Eugenio,vc tem se apresentado como um grande jornalista.Uma pena que esta entrevista não chegou antes de editarmos o jornal que sairá na próxima terça relatando fatos do oito de março em Patos.Agora quero saber como vc conseguiu esta entrevista?Parabéns...Neuman Oliveira

Helyda Gomes disse...

Olá...sou Helyda Gomes....e fiquei feliz de vc ter gostado da matéria no blog do Marquinhos, o Garimpando Palavras.


Abraços.
Helyda.
helydagoems@yahoo.com.br

Helyda Gomes disse...

Olá...sou Helyda Gomes....e fiquei feliz de vc ter gostado da matéria no blog do Marquinhos, o Garimpando Palavras.


Abraços.
Helyda.
helydagomes@yahoo.com.br

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