Compromisso com a verdade dos fatos

Bem-vindo ao blog Garimpando Palavras

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

DIA NACIONAL DA SAÚDE BUCAL



Por Inácio Andrade Torres*


(Colaborador)

Hoje, 25 de outubro, é o dia nacional da saúde bucal e do odontólogo brasileiro. Onde chegamos e aonde poderemos avançar!? Se repararmos na história das políticas de saúde bucal no Brasil, veremos que, neste setor, embora ainda haja notória precarização, houve grandes saltos de desenvolvimento nas últimas décadas.
Desde os anos oitenta, o Ministério da Saúde, tentando avaliar melhor a saúde bucal dos brasileiros, tem executado levantamentos epidemiológicos de âmbito nacional. Em 2.000, avaliou-se os principais agravos em diferentes grupos etários, incluindo tanto população urbana como rural.
Conforme esses levantamentos, concluiu-se que quase 27% das crianças de 18 a 36 meses apresentam pelo menos um dente de leite com cárie. Já as crianças de 12 anos de idade e adolescentes de 15 a 19 anos apresentam respectivamente 3 e 6 dentes cariados. Para estas idades os menores índices encontram-se na região Sudeste e Sul, enquanto as médias mais elevadas foram encontradas nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste. O Norte e o Nordeste possuem as médias mais altas de dentes cariados e perdidos.
Nesse estudo observou-se ainda, que de uma forma geral, a presença de flúor está mais concentrada nas regiões Sul e Sudeste e em municípios de maior porte populacional. Nessas regiões, 46% dos municípios dispõem de água fluoretada. Na Paraíba, praticamente não se oferece esse serviço à população. Outro dado estarrecedor: 14% dos adolescentes brasileiros nunca foram ao cirurgião dentista, sendo que, face as desigualdades de oportunidades, enquanto na região sul menos de 6% dos adolescentes relatam nunca ter ido ao dentista, no Nordeste, essa percentagem chega a 22% .

8 milhões sem dentes

A investigação comprovou também que o declínio da cárie na população infantil está ocorrendo de forma desigual na população brasileira. As crianças do Norte e Nordeste apresentaram os maiores números de dentes cariados não tratados. O índice dessa doença e o número de dentes perdidos entre adultos e idosos são elevados. Acrescente-se que 10% dos adultos brasileiros possuem doenças da gengiva, fator contributivo para a perda precoce de dentes. Ficou confirmado ainda que a necessidade de algum tipo de prótese começa a surgir a partir da faixa etária de 15 a 19 anos, e que o edentulismo (ausência total de dentes) continua sendo um grave problema especialmente entre os idosos.
Aliás, segundo a pesquisa Saúde Bucal – Brasil, concluída em janeiro de 2004, constatou-se que no Brasil há 8 milhões de pessoas sem nenhum dente na boca. Outros 30 milhões nunca foram ao dentista e cerca de 40% da população não têm acesso regular a escova e creme dental.
Por outro lado, uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde/OMS e Fundação Osvaldo Cruz/FIOCRUZ constatou a existência de 26 milhões de sem-dentes no Brasil.Gilberto Pucca, sanitarista e coordenador de saúde bucal do Ministério da Saúde/MS contesta esses números justificando que, enquanto a OMS/FIOCRZ reportam-se aos brasileiros que perderam todos os dentes naturais, o MS considera somente os 8 milhões que perderam os dentes naturais e não usam próteses alguma.
Até o lançamento do projeto Brasil Sorridente em 17 de março de 2004, apenas 3,3% dos atendimentos odontológicos feitos no SUS correspondiam a tratamentos especializados. A quase totalidade era de procedimentos mais simples, como extração dentária, restauração, pequenas cirurgias, aplicação de flúor. Nesse sentido, a Política Brasil Sorridente propõe garantir as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros, entendendo que esta é fundamental para a saúde geral e a qualidade de vida da população. Ela está articulada a outras políticas de saúde e demais políticas públicas, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil Sorridente tem sido investido muito dinheiro. Segundo o MS a alocação de recursos, em incentivos para a saúde bucal na Estratégia Saúde da Família, segue a seguinte ordem: em 2002 - R$40 milhões; em 2003-R$90 milhões; em 2005- R$400 milhões; e até o final de 2006, cerca de R$ 1,3 bilhão. O próprio Tribunal de Contas da União, em seu relatório de 2004, apontou um crescimento de 45% nos atendimentos realizados, fato jamais registrado anteriormente.

13.470 casos de câncer no Brasil

A alocação desses recursos, se bem aplicados, permitirá uma atenção básica de qualidade com competência para reduzir os principais agravos que acometem a saúde bucal dos brasileiros, dentre os quais em virtude da prevalência e gravidade, podemos elencar; a cárie, a doença periodontal (gengivite e periodontite); o câncer de boca; os traumatismos dentários; a fluorose; o edentulismo; e a má oclusão.
Pela relevância social enquanto problema de saúde pública, e por estar entre as principais causas de óbito por neoplasias, realcemos o câncer bucal, denominação que inclui os cânceres de lábio e de cavidade oral (mucosa bucal, gengivas, palato duro, língua e assoalho da boca).
O Instituto Nacional de Câncer/INCA mostra com fidelidade estatística a situação do câncer de boca no Brasil. Essa entidade, para o ano de 2006, estimou que o número de casos novos por esse tipo de câncer, seria de 13.470, sendo 10.060 entre homens e 3.410 entre mulheres. Esses números, à exceção do câncer de pele não melanoma, representam 6% e 2%, respectivamente do total de todos cânceres humanos contabilizados na pesquisa. Para o mesmo ano, conforme a previsão do INCA, o número de casos novos de câncer bucal no Nordeste seria de 130 portadores e, em João Pessoa, de 40.
Como se sabe, o câncer de boca é uma doença que pode ser prevenida de forma simples, desde que seja dada ênfase à promoção à saúde, ao aumento do acesso aos serviços de saúde e ao diagnóstico precoce. De fato, trata-se de uma doença que representa uma causa importante de morbimortalidade, já que mais de 50% dos casos são diagnosticados em estágios avançados. Acomete mais os homens acima de 50 anos, e localiza-se de preferência no assoalho da boca e na língua, sendo o carcinoma epidermóide, o tipo histológico mais freqüente (90 a 95%).
Finalizando, não podemos, neste ensaio, deixar de realçar que na última década, o Brasil desenvolveu-se muito no campo da saúde. Além de ser o segundo país do mundo em número de transplantes, tornou-se reconhecido internacionalmente pelo seu progresso no atendimento universal às Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS, na implementação do Programa Nacional de Imunização e no atendimento relativo à Atenção Básica. Contudo, quanto à saúde bucal, a situação de adolescentes, adultos e idosos está entre as piores do mundo. E mesmo entre as crianças, problemas gengivais e dificuldades para conseguir atendimento odontológico persistem. Trate-se, a tudo isso, como um contra-senso inadmissível, pois como vimos, ocupamos a segunda colocação no mundo em número de transplantes e, ao mesmo tempo, somos incompetentes para cuidar da cárie, repor dentes da população e tratar o câncer de boca.

*Inácio Andrade Torres – estomatologista e professor da UFCG

Nenhum comentário:

Arquivo do blog