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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mais um surto de catapora em Patos


Há exatamente um ano a cidade de Patos convivia com um surto de catapora, que causou problemas para muitas famílias que tiveram de conviver com a virose. Hoje Patos volta a sentir os efeitos dessa doença. Apesar da falta de estatísticas, ainda não repassados pelos órgãos de saúde pública, muitos casos estão sendo diagnosticados.
Por ser um tema tão atual e preocupante, devido a facilidade do contágio do vírus, repetimos hoje entrevista concedida ano passado pela médica e professora da UFCG, Paula Souto Maia, por considerarmos importantes as informações por ela repassadas a nossos leitores. Confira abaixo. 




 
Saúde em debate: Catapora



A catapora, doença altamente contagiosa provocada por um vírus, tem como nome científico varicela e costuma atingir principalmente as crianças. Mesmo sendo benigna em geral, costuma incomodar bastante, principalmente pelas manchas vermelhas, bolhas e pela coceira intensa. Na cidade de Patos vem aumentando o número de pessoas infectadas pelo vírus da Varicela. O Garimpando Palavras entrevistou Paula Souto Maia (foto), Médica do Trabalho, que fez ampla explanação sobre essa doença.

Garimpando: Drª Paula Souto Maia, na cidade de Patos está havendo neste período muitos casos de catapora. Trata-se de uma doença sazonal?

Drª Paula Maia: Tipicamente, a doença incide no final do inverno e início da primavera, porém pode ocorrer durante todo o ano.

Garimpando: Quais os sintomas apresentados por uma pessoa com catapora?

Drª Paula Maia: Os sintomas começam 10 a 21 dias após a infecção, sendo geralmente inespecíficos e leves nos primeiros 2 a 3 dias (febre moderada e uma sensação de mal-estar), principalmente em crianças mais velhas. Aproximadamente 24 a 36 horas após o início dos primeiros sintomas, surge uma erupção cutânea caracterizada por pequenas manchas vermelhas e planas. Rapidamente, cada mancha torna-se elevada e forma uma bolha cheia de líquido, pruriginosa, sobre um fundo vermelho. Finalmente, ocorre a formação de crosta.

A seqüência inteira leva 6 a 8 horas. Grupos sucessivos de manchas continuam a surgir e formar crosta, de modo que, num mesmo momento, existem pápulas, bolhas e crostas. Geralmente, em torno do quinto dia param de surgir manchas novas. No sexto dia, a maioria delas já formou crostas e quase todas desaparecem em menos de 20 dias. Estas lesões podem surgir no couro cabeludo, no interior da boca, no ânus, na vagina (nas mucosas, rompem rapidamente e formam úlceras que podem ser dolorosas). As úlceras também podem formar-se nas pálpebras e nas vias aéreas superiores. A pior fase da doença geralmente dura 4 a 7 dias. Quando só existirem crostas, não há mais risco de transmissão.

Garimpando: Como se dá a transmissão da catapora e qual o período de incubação do vírus até surgirem os sintomas?

Drª Paula Maia: A varicela é transmitida através da inalação de gotículas que contêm o vírus varicela zoster presentes no ar. Mesmo antes de surgirem as lesões de pele a pessoa já está transmitindo o vírus, o que facilita a ocorrência de surtos, principalmente em ambientes de aglomeração, como escolas e creches. Uma pessoa com varicela torna-se mais infectante logo após o início dos sintomas, mas permanece infectante até as últimas bolhas formarem crostas. O isolamento de uma pessoa infectada ajuda a evitar a transmissão da infecção para aquelas que ainda não tiveram varicela.

Garimpando: Quem é mais suscetível para contrair essa doença e que cuidados a pessoa com a virose deve tomar para não transmitir o vírus para outras pessoas?

Drª Paula Maia
: A doença pode ser adquirida em qualquer idade, porém, é rara nos primeiros meses de vida (a menos que a mãe não tenha tido a doença); estima-se que, a cada ano, 8% das crianças com idade entre 1 e 9 anos adquiram varicela e que apenas 10% a 15% dos adolescentes e adultos jovens não tenham imunidade. O isolamento de uma pessoa infectada ajuda a evitar a transmissão da infecção para aquelas que ainda não tiveram varicela.

Garimpando: Quem já teve varicela corre o risco de desenvolvê-la novamente?
 
Drª Paula Maia: Um fato interessante é que todos os seres humanos apenas pegam catapora uma única vez em sua vida toda.

Garimpando: Uma maneira prática de se evitar a catapora é através da vacina. Quais as propriedades dessa medicação e sua eficácia?

Drª Paula Maia: As Sociedades Brasileiras de Imunizações e de Pediatria recomendam a vacinação de todas as crianças a partir dos 12 meses de idade. Os adultos que não tiveram a doença também devem ser vacinados. Crianças e adultos que tenham tido varicela são considerados imunes e não necessitam ser vacinados. São duas doses, a primeira aos 12 meses de idade e a segunda entre 4 e 6 anos de idade.

Na verdade, pessoas de qualquer idade podem ser vacinadas, com duas doses, com intervalo mínimo de três a quatro meses entre elas. Uma dose da vacina é 95-98% eficaz na prevenção das formas graves de varicela. No entanto, observando as crianças vacinadas no decorrer do tempo, desde que a vacina tornou-se disponível, verificou-se que um número considerável de crianças vacinadas contraía a doença, mesmo que de forma branda. A partir desta observação, passou a ser indicada a segunda dose para cobrir as eventuais falhas na resposta imunológica diante da primeira dose.

Os calendários de vacinação definiram a primeira dose aos 12 meses e a segunda dose entre 4 e 6 anos de idade. No entanto, as duas doses podem ser aplicadas com intervalo mínimo de 3 meses, sem nenhum prejuízo para o indivíduo. Muitos médicos orientam este intervalo de rotina, a fim de garantir um nível de proteção eficiente rapidamente, uma vez que as crianças entre 1 e 4 anos estão freqüentando creches e escolas e/ou têm contato com outras crianças, estando suscetíveis a contrair a doença.

Existe uma vacina de um laboratório que está aprovada para utilização aos 9 meses. Se uma criança com esta idade vive em uma situação de maior risco para a varicela, tendo contato intenso com outras crianças, principalmente em época de surto ou próximo dela, é indicada a vacinação mais precoce.

Garimpando: Em Patos já existe essa vacina? Qual o custo dela e quem deve tomá-la?

Drª Paula Maia: Sim, Patos já dispõe da vacina contra a varicela. A vacina da varicela está disponível para todo, na Clínica de Vacinas, Proteger Vacinas Especiais a um custo de 120,00 (dose). Também para pacientes especiais existem os Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIE) do Ministério da Saúde, que dispõem da vacina para indivíduos de risco para varicela: imunodeficientes e seus contactantes, candidatos a transplantes, transplantados, doentes renais, doadores de órgãos, pacientes sem baço, síndrome de Down, em uso crônico de AAS.

Garimpando: A vacinação contra varicela é capaz de prevenir a doença após a exposição?

Drª Paula Maia: Quando o contato tiver ocorrido há menos de 72 horas, a vacina pode evitar a doença em 50% a 100%. Nos casos em que a proteção não é completa, a vacina é capaz de atenuar a doença.

Garimpando: Que complicações o doente de catapora, especialmente a criança, pode ter se estiver com resistência imunológica muito baixa?

Drª Paula Maia
: As complicações mais comuns são as infecções de pele de leve a graves. As lesões cutâneas ocasionadas pela varicela podem ser infectadas por bactérias, causando erisipela, celulite, impetigo, entre outras, o que leva a necessidade de tratamento com antibióticos, prolongamento a doença e pode gerar a internação do paciente. A pneumonia causada pelo vírus da varicela é uma complicação grave que pode atingir bebês pequenos e especialmente crianças ou adultos com alguma imunodeficiência, gestantes e recém-nascidos.

Também pode ocorrer inflamação do coração e das articulações. O fígado pode ser comprometido, mas geralmente não ocorrem sintomas. Ocasionalmente, pode haver hemorragias nos tecidos. A encefalite é uma complicação rara que ocorre mais no final da doença até uma ou duas semanas após.Uma complicação muito grave é a varicela neonatal, frequentemente fatal, que ocorre nos recém-nascidos cujas mães estão com varicela no momento do parto ou nos primeiros dias após o parto. 

A varicela congênita, onde os bebês nascem com malformações graves, muitas vezes incompatíveis com a vida, ocorre quando a varicela acomete a gestante durante a gravidez.Após a infecção, os vírus da varicela podem permanecem latentes no organismo, nos gânglios de raízes nervosas, por toda a vida, por não terem sido eliminados pelo sistema imunológico. Isso pode não causar qualquer dano, mas em cerca de 10 a 20% dos indivíduos, principalmente em idosos e em imunodeficientes, pode ocorrer - geralmente vários anos após a doença - reativação do vírus levando ao aparecimento do herpes zoster ("cobreiro"), que é caracterizado pelo aparecimento de pequenas vesículas dolorosas em uma região limitada da pele, com dor no local, podendo permanecer mesmo após a cicatrização das lesões.


Na maioria dos casos as crianças recuperam-se sem problemas, no entanto, complicações podem ocorrer para elas e principalmente para os adolescentes e adultos. A infecção pode ser grave ou mesmo fatal nos adultos.

Garimpando
: Qual o tratamento indicado para que está com catapora?

Drª Paula Maia: Os casos leves de varicela exigem apenas um tratamento sintomático. Compressas molhadas com permanganato de potássio sobre a pele ajudam a aliviar o prurido, o qual pode ser intenso, e previnem escoriações que podem disseminar a infecção e formar cicatrizes. Por causa do risco de infecção bacteriana, a pele deve ser lavada freqüentemente com sabão e água, as mãos são mantidas limpas, as unhas são aparadas para minimizar a possibilidade de escoriações e as roupas são mantidas limpas e secas. 

Drogas para reduzir o prurido (p.ex., antihistamínicos) são algumas vezes utilizadas. Quando ocorre uma infecção bacteriana, há necessidade de administração de antibióticos. Os casos graves de varicela podem ser tratados com aciclovir, uma droga antiviral.

Garimpando: Quais as dicas para o paciente não sofrer tanto em decorrência da doença?

Drª Paula Maia
: A prevenção ainda é o melhor meio de evitar sofrimentos!
Não é possível prever quem vai evoluir com doença grave ou com infecções secundárias. Por isso é desejável que todas as crianças estejam protegidas, através da aplicação da vacina. Embora ainda seja uma prática comum em algumas culturas, é inaceitável, pelo potencial de gravidade da varicela, que crianças sejam deliberadamente expostas a pessoas infectadas para que adquiram a doença.

Além disso, os adultos susceptíveis que convivem com as crianças têm alto risco de serem infectados e, sendo adultos, desenvolver doença grave. Considerando que nenhuma medida de profilaxia pós-exposição (incluindo o uso de vacina) é 100% eficaz em evitar o desenvolvimento da infecção, estes indivíduos poderão vir a ter e transmitir varicela.

A maioria das complicações e dos óbitos ocorre em indivíduos previamente saudáveis e, atualmente, questiona-se o conceito de que a varicela é uma "doença benigna e inevitável".

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