Compromisso com a verdade dos fatos

Bem-vindo ao blog Garimpando Palavras

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

TEM GENTE QUE SE ACHA...DEMAIS OU DE MENOS

            Ronaldo Magella 23/09/2010

Penso que por trás de toda soberba, de todo orgulho, vaidade, de toda prepotência está sempre uma enorme fragilidade, um imenso vazio de se mostrar como é, um grande sentimento de medo. O orgulho é só mais um mecanismo de defesa.  Gosto de ficar olhando as pessoas, a forma como elas andam, falam, vivem, passam para lá e para cá cheias de si, de um sentimento de superioridade que ninguém lhes conferiu, de um amor próprio e de uma arrogância insuportável que elas transpiram em volta de si mesmas, numa atmosfera própria sem sentido.

Pensamos que um título pode nos conferir poder, autoridade, intelectualidade, que um corpo bonito, um carro novo, uma casa grande, um salário gordo, pode nos deixar acima de outros e demais, superiores a humanidade, cheios de direitos, com vez e voz, com razão que o bom senso desconhece e não recomenda. Chego algumas vezes a rir sozinho e achar graça. Outras vezes chego mesmo a chorar e ter pena dessas pessoas, como de mim também e acabo conferindo, reflexões recentes, que o mundo não tem sentido, a vida até pode ter, mas o que vivemos é uma ilusão.

Um dia também me achei assim, mas de menos, por ser feio, pobre, ignorante, sem brilho ou estrela, por não conseguir realizar meus sonhos, meus desejos, ter minhas vontades realizadas. A gente também se despreza, reduz-se, torna-se menor, e a grande ilusão, ou perdemos o sentido de viver, existir ou passamos a buscar as mesmas coisas para também sentir os mesmos sentimentos de superioridade. E o pior, em nossas bocas, em nossas palavras, das nossas vozes balbucia-se sempre os mesmos discursos: a vida é breve, dinheiro não confere felicidade, beleza não dá comida a canário, é mais importante ser do que ter... E falamos, falamos, frases sem sentido e vazias, pois no fundo em nossos mais secretos sonhos e íntimos desejos e anseios vulgares buscamos por tudo aquilo que afirmamos não querer, desprezar.

Penso, e aqui abro um parágrafo para dizer, que o silêncio releva a nossa essência, as palavras, os sons buscam de certa forma desviar as atenções daquilo que somos, demonstrar outras coisas, esconder nossas essências, nossas carências, nossas frágeis vidas e pequenas. No silêncio nos ouvimos, no barulho nos confundimos. E nos escondemos, nas roupas, nas imagens, no trabalho, na religião, no vício, no sexo, estamos sempre desprezando o tempo, buscando preencher o nosso vazio, a nossa insignificância.

Somos tão insignificantes que o nosso vício nos domina, o sexo, a bebida, o cigarro, a mentira, a vaidade, o consumo. Conhecemos pessoas que não conseguem vencer a si mesmas, não conseguem parar de comprar, de beber, de fumar, são atormentados pelo sexo, por vulgaridades, vivem a cata de sentimentos vis e baixos, são presas e reféns das suas próprias paixões.

Não estou falando em humildade, não sou humildade, nem quero ser, estou falando de consciência, conhecimento da nossa realidade e da vida que não temos e nem sabemos o que é, o que seja em realidade. Pois quando falo em vida é algo mais profundo, amplo, infinito, complexo e imaginável, não é aquilo que fazemos todos os dias, é algo superior.

Segundo Osho, no livro A Revolução, “os cientistas dizem que vemos apenas 2% da vida; 98% permanece indisponível por causa de nossos preconceitos. Só vemos o que queremos ver, só vemos o que estamos preparados para ver, só vemos aquilo de que não temos medo. Não vamos as coisas que tememos, que não queremos ver; nós as evitamos. Aos poucos, a mente se torna extremamente um pedaço de realidade. E seguimos clamando que aquela realidade é o todo, que “minha verdade é a verdade inteira”. E muito conflito e muita controvérsia surgem disso”.

E, no entanto a gente pensa que é melhor porque sabe dirigir um carro, escrever um texto, tocar um instrumento, praticar um esporte, proferir um discurso, nós nos trancamos em nossos mundos e pensamos que aquilo nos basta, nos é o bastante e não temos olhos para mais nada, pois aquilo que vivemos é tudo que podemos viver. Nunca pensamos que é mais, muito mais.

Existem quase 7 bilhões de pessoas no mundo, mas a gente, por um motivo que desconheço, mas que chamamos de orgulho, nos achamos melhores do que os outros, nos enchemos de superioridade e queremos impor a nossa verdade, as nossas opiniões, os nossos sentimentos, porque nós estamos certos, corretos, somos melhores. São 7 B-I-L-H-Õ-E-S de pessoas, mas a gente se acha.

 Em minhas palestras, quando sou chamado e convidado a falar, sempre gosto de trazer as pessoas à reflexão, peço para elas olharem para o céu à noite, contemplar as estrelas, o infinito, para perceberem e entenderem o quão pequeno e finito todos nós somos diante da imensidão do Cosmo, do Universo, da VIDA.

Dizem os cientistas, físicos quânticos, que o Universo surgiu há nada mais, nada menos do que 15 bilhões anos, aproximadamente. Vivemos num dos vários universos, pois hoje não se fala mais em universo, mas em multiverso, pois a noção que exista apenas um único e “simples” sistema universal não se sustenta mais na física moderna. Pois bem, calcula-se que existam hoje 200 bilhões de galáxias, e uma delas é a nossa, a Via Láctea, com cerca de 100 bilhões de estrelas. Só para você não perder, nem eu, o cerne da questão, vamos simplificar: estamos no Sistema Solar, convivendo com cerca de bilhões de estrelas outras, sol que está na Via Láctea, galáxia entre outras 200 bilhões espalhadas pelo Universo. E ainda pensamos que a vida seja simples e que somos especiais.

Como diz Mario Sergio Cortella em seu livro Qual é a tua obra? , “aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós existirmos aqui. Isso que é um Deus que entende da relação custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para “esta pessoa existir”. Com o dinheiro que carrega, com a cor de pele que tem, com a escola que freqüentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica”.

A gente se acha. Pensa que a vida gira ao nosso redor. Quanto mais leio e compro livros, mas penso o quanto a minha vida é pequena e simples. É muito conhecimento para absorver, devorar, curtir, ler, memorizar, espalhar. A ciência calcula que haja em nosso planeta cerca de 30 milhões de espécies, mas até agora só classificou cerca de três milhões, e uma delas é a nossa, a espécie humana, o homo sapiens. Estamos inseridos em algo maior e mais complexo.

O colunista da Revista Veja, Stephen Kanitz, escreveu um artigo chamado Estamos Emburrecendo, no qual ele diz: se você ler três livros por mês, dos 20 aos 50 anos, serão 1.000 livros lidos numa vida, que nem chegam perto dos 40.000 publicados todo ano só no Brasil. Comparado com os 40 milhões de livros catalogados pelo mundo afora, mais 4 bilhões de home pages na internet, teses de doutorado, artigos e documentos espalhados por aí, provavelmente seu conhecimento não passa de 0,0000000000025% do total existente.Há intelectual que acha que tem o direito de mudar o mundo só porque já leu 5.000 livros. É muita arrogância. A idéia de intelectuais superesclarecidos governando nações hoje não faz o menor sentido, é até perigosa. Como sobreviver num mundo onde cada um de nós só poderá almejar saber 0,0000000000025% do conhecimento humano ou até menos? O segredo é cada um se esforçar para saber 100% de um pequeno nicho, uma parcela mui, mui pequena do conhecimento humano.

Retomo aqui um pensamento de Osho, quando ele diz, “sem o olho humano a rosa não seria a mesma”, diz antes, “a árvore está separada, a terra está separada, mas, na verdade, a árvore nunca está separada da terra e a terra nunca está separada da árvore. Em palavras, o céu está separado da terra, mas, de fato, eles estão juntos. A realidade é uma união. Todas as coisas estão unidas, interligadas, entrelaçadas, associadas umas com as outras. Se você começar a trabalhar com uma coisa, terminará com o todo”. E Osho, citando Tennyson, dirá, “se eu posso entender uma flor em sua totalidade, raiz e tudo, terei entendido o universo inteiro”.

É outro problema nosso, pensamos que a nossa vida é separada das demais e outras vidas, a gente que pensa que por termos o nosso conforto dentro das nossas casas, a nossa educação, o nosso bem estar, nada mais precisamos, porém, ficamos amedrontados pela violência, acuados, e não pensamos que, a violência é falta de conforto, educação e bem estar para outras pessoas, que muitas vezes se sentem tão violentadas em suas vidas e necessidades que descambam para atos brutos e irracionais, mas nós, os melhores, agimos como se nada daquilo nos dissesse respeito.

Infelizmente, a gente se acha. A gente pensa que é melhor, mais, está acima de tudo e de todos, que pode mandar e desmandar, faz pouco dos outros, é indiferente, cínico, crítico, orgulhoso, vaidoso, arrogante, caminha de cabeça erguida pensando que é tal. A gente ainda precisa viver muito.

Um dia uma mulher me diz, engraçado, nunca vi você sorrindo. Se hoje eu pudesse vê-la diria, desculpe é que ainda não consigo encontrar motivo diante de tanta miséria humana.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog