Inácio Andrade Torres –19/09/2010
HIPOCRISIAS COTIDIANAS II
Relembrando: hipocrisia significa um fingimento, uma falsidade, um engodo, um falso sentimento religioso, uma falsa prática de caridade. É agir sem naturalidade, é fazer de conta que é um cristão.
Do posto onde estávamos reabastecendo o nosso carro deu para ver quando um corolla, cor azul, passou em alta velocidade pela estrada. O motorista fez uma ultrapassagem perigosa pondo em risco a vida dele e de outras pessoas e foi embora.
Perguntamos ao frentista se era gente conhecida e ele disse tratar-se de um cidadão de meia idade, (44 anos havia comemorado no final de semana anterior) de uma cidade da redondeza, que costumava dirigir sempre daquele jeito.
Tomamos um cafezinho que foi oferecido pela recepcionista do posto e tocamos em frente nossa viagem para o sertão, Cajazeiras. Estrada boa, duplicada de João Pessoa até Campina Grande.
Viajamos pouco mais de 60 Km e, para tristeza nossa, encontramos capotados no canteiro central da BR-230, o carro azul e um Fiat Uno, tendo no local vários curiosos que testemunhavam o proprietário do Corolla, aos berros atribuir ao condutor do Fiat toda culpa pelo lamentável acidente.
A lotação do Uno era composta de cinco pessoas: o motorista e sua esposa, aparentando um pouco mais de 40 anos de idade, dois filhos e uma filha todos adolescentes. Essas pessoas não se mostravam alteradas, pelo contrário tentavam dar uma solução para o problema. Alguns curiosos cochichavam, mas temiam fazer qualquer intromissão, afinal o brigão morava próximo dali, sendo, pois, aconselhável a lei do silêncio.
Com a chegada da Polícia Rodoviária Federal pensava-se que o responsável pelo desastre iria acalmar. Sucedeu o contrário. Num acesso de raiva, correu até os policiais e gritou: “Vejam o que eles fizeram comigo, numa ultrapassagem violenta puseram-me fora da estrada, perdi o controle e levei eles comigo”. Em seguida, mesmo perante os policiais, tentou agredir o senhor do Uno, não fazendo por haver sido controlado pelos militares.
Diante de tamanho desequilíbrio, a esposa do homem ameaçado pediu calma a todos e mostrou um adesivo pegado no pára-brisa traseiro do Corolla, onde estava escrito: “Somos todos irmãos, filhos de Jesus e súditos de Deus”.
Nesse momento, o motorista agressivo comoveu-se e começou a chorar, pediu perdão a mulher e aos familiares. Os presentes aplaudiram este gesto de grandeza, ouvindo-se de um deles (soube depois tratar-se de um pastor evangélico) a expressão, “é forte, muito forte, a sensação que sinto, o nome de Deus e de Cristo amoleceu o coração do impiedoso”.
Contudo uma jovem que presenciou todo o ocorrido, referindo-se ao dono do Corolla, sussurrou-me: “isso não passa de dramatização dele, nesse mesmo local ele já passou com outro carrão por cima de um pobre idoso. Isso aí tudo é pura HIPOCRISIA”.
Continuamos a viagem, cada vez mais convencidos de que o mais importante é pensar antes de agir; falar e calar no momento exato. Enfim, seguir o exemplo da senhora do Uno que manteve o controle diante do infortúnio e agiu com serenidade, ética e senso de justiça. Como disse Jesus: Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
Coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com
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