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segunda-feira, 31 de maio de 2010

FUMAÇA QUE MATA

Dr. Inácio Andrade Torres

Hoje 31 de maio comemora-se o Dia Mundial contra o Tabaco. Neste ano a Organização Mundial da Saúde/OMS escolheu para celebrar essa data o tema Tabaco e Gênero e, por sua vez a Aliança de Controle do Tabaco/ACT aproveitou a comemoração da OMS para fazer o lançamento da pesquisa “As mulheres e o tabagismo – uma nova questão na agenda feminina”, a qual foi desenvolvida por esta entidade em parceira com outras também responsável pelos problemas que abrangem o universo feminino.
A presença marcante do tabagismo entre as mulheres é um assunto carente de discussão aprofundada. De fato, hoje em dia, é grande o impacto do tabagismo na saúde feminina lembra a ginecologista Edina Araújo Veiga, autora de um sério trabalho sobre os efeitos do fumo na saúde da mulher.
Conforme dados de março deste ano, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, referentes à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/PNAD 2008, o Brasil tem quase 25 milhões de fumantes. Mais de 17% da população com 15 anos ou mais fuma. Em 2008, a incidência do tabagismo era maior entre os homens. O tabaco foi responsável por um bilhão de mortes em todo o mundo no século passado. Essas vítimas são fumantes e não fumantes expostas à fumaça do cigarro. Aqui vale lembrar que o fumante passivo ou o não fumante exposto à fumaça do cigarro tem 30% mais chances de desenvolver câncer de pulmão e 24% de desenvolver doenças cardio-vasculares. Apresenta-se ainda com maior freqüência de infecções e outros problemas respiratórios e menor progresso da função pulmonar.
E sabe por que tudo isso acontece? Porque a grande armadilha do cigarro é o prazer. Porque o cérebro de quem fuma tem mais receptores de nicotina que dependem de substâncias como serotonina, dopamina, e outras para funcionar adequadamente. Estimulado pela bioquímica dessas substâncias, os fumantes tem sensação de bem-estar, diminuição do apetite, alguns até bom humor, sensação de melhoria da memória, redução da ansiedade, havendo até a crença por parte de alguns dependentes do tabaco de que o vício de fumar é desestressante.
Feito o prejuízo no cérebro, as chances de ele se estender a outros órgãos é enorme - explica o pneumologista Ricardo Meirelles. Na verdade, está comprovado, que grande parte das 4.720 substâncias tóxicas existentes no cigarro e às quais os fumantes estão expostos são cancerígenas, o que faz do tabagismo o maior fator de risco evitável de cânceres humanos, tais como de pulmão, laringe, pâncreas, fígado, boca, lábios, bexiga, rim e esôfago.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer/INCA, 90% dos casos de câncer no pulmão são causados pelo cigarro. O vício de fumar ainda corresponde a 30% das mortes decorrentes de outros tipos de cânceres; 25% das mortes por doença coronariana – angina e infarto do miocárdio; 85% das causadas por bronquite e enfisema; e 25% das doenças vasculares (entre elas derrame cerebral). Há ainda pesquisas que apontam o tabagismo como responsável pelo aumento de mortes prematuras, cataratas, osteoporose e fraturas.
Os prejuízos provenientes do vício de fumar vão muito além. Cerca de 20% dos incêndios são provocados por pontas de cigarros jogadas nas matas. Florestas são derrubadas para plantio de  fumo e produção de lenhas para abastecer os fornos que secam as folhas de tabaco. Pior ainda: no cultivo do fumo são empregados potentes agrotóxicos, que contaminam o solo, os animais e o próprio agricultor.
Como se vê o vício de fumar só traz prejuízos. Mas como combater? Leis para coibi-lo foram criadas. Mas a lei só não basta, pois a lei sozinha não modifica o ambiente, a sociedade. É preciso a prática de um discurso pedagógico junto às escolas e às famílias. Um discurso que sensibilize aqueles que não fumam e não discrimine os fumantes. Enfim, um discurso educativo e preventivo com a colaboração dos Centros de Atenção Psicossociais/AD, com a participação de educadores e famílias. Somente assim poderemos afastar para bem longe da civilização ESSA FUMAÇA QUE MATA.

Dr. Inácio Andrade Torres é odontólogo, estomatologista e professor da UFCG – Campus de Cajazeiras.

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