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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

TER FILHOS & SER PAIS: SINÔNIMOS?


Iara da Silva Machado*
Ter filhos representa, acima de tudo, receber uma missão e ter uma grande oportunidade.
A missão é criar um ambiente com amor e boa estrutura para o novo ser se realizar. É preciso cuidar da terra antes e depois de a semente ser lançada, para que a planta possa crescer e florescer.
A oportunidade é reaver a espontaneidade perdida. Os filhos recordam aos pais o que eles já foram um dia e os convidam a reaprender a viver.
Normalmente, essa nova função de pais leva os adultos a rever sua infância através do filho, que com sua maneira de ser resgata certos valores perdidos dos pais, como a capacidade de se emocionar com pequenas coisas, a alegria de um sorriso descontraído, o espanto diante de uma nova descoberta ou a simplicidade de um choro espontâneo, sem medo do que os outros possam pensar.
A liberdade e a espontaneidade freqüentemente causam mal-estar porque revela às pessoas próximas quanto elas não estão cuidando de suas vidas. Alexander Lowen (1982), descrevendo sobre a Psicologia Energética do Corpo, diz que quanto mais vibrante é o corpo, mais vivamente se estará no mundo. Os processos energéticos do corpo determinam o que acontece na mente, da mesma forma que a mente determina o que acontece no corpo.
Logo, como um pai vai curtir bons momentos com o filho se sua vida tem sido um acúmulo de tensão e angústia? Como a mãe vai compartilhar a beleza de um pôr-do-sol, de um toque carinhoso e repleto de prazer, quando ainda se é prisioneira da idéia de que atividade sexual é pecado?
Todo esse paradigma limitador é passível de mudança, desde que os pais se proponham a aprender junto com os filhos, como se fossem analfabetos que aproveitam a alfabetização do filho para também aprender a ler!
Vários casais decidem ter um filho porque sentem que chegou o momento, outros porque está ficando muito tarde e um vasto número porque a mulher engravidou. Nos dois primeiros modelos há uma espécie de planejamento, o desejo é trazido à consciência, no terceiro modelo não, o desejo ainda está no campo não consciente. Porém, independente do grau de lucidez do casal na concepção de um filho, é importante dar-se conta de que ter um filho é uma decisão que diz respeito a um estilo de vida, que vai permanecer para sempre.
Um relacionamento conjugal pode dissolver-se, as pessoas podem trocar de emprego, cidade, contrair novo matrimônio, mas o filho é uma presença definitiva na vida dos pais.
A opção por ter um filho deve vir acompanhada da decisão de questionar a própria vida e da disposição de se atualizar permanentemente, sobretudo em relação a crenças, valores, sentimentos e condutas.
Roberto Shinyashiki (1997), em seu livro Pais e Filhos. Companheiros de Viagem, diz que na Índia, acredita-se que o espírito da criança escolhe os pais. O espírito antes de encarnar, analisa e pensa: “Que tal aquela moça com aquele rapaz?” Estuda as características dos dois e então se torna filho deles!
Essa concepção dos indianos leva-os a ter a consciência de que os pais e os filhos se encontram para criar situações de aprendizado para todos. Não é o acaso que lhes aproxima. Há um propósito maior de lição para todos os envolvidos na família, e atinge os níveis físico, emocional, afetivo, cognitivo, psíquico e espiritual.
Quando uma semente germina, é uma plantinha tão indefinida, que a maioria das pessoas não tem condições de dizer se ali vai desabrochar uma frondosa mangueira, um belo arbusto ou um altivo pinheiro; portanto, é cuidar da terra, regar, tirar as ervas daninhas e deixar a planta seguir seu caminho, sabendo que ela vai encontrá-lo. Analogamente, os filhos são essas sementes...
Existem conhecimentos que a pessoa, talvez, só adquira no momento da morte. Isso significa que teve de usar todo o tempo de uma vida para atingir uma compreensão superior. Mas, muitos pais exigem que seus filhos aos sete anos de idade compreendam coisas que eles não entenderam nem aos cinqüenta! Assim como existem jovens que exigem de seus pais mudanças radicais que eles próprios não conseguem realizar!
Há tempo para tudo! Nem nunca, nem sempre. Com paciência e perseverança cada coisa acontecerá quando chegar o seu momento.
Não convém nem acelerar insistentemente, nem adiar desistindo por utopia. É preciso contribuir para que tudo aconteça no devido tempo.
Assim é com os seus filhos. Assim é com os seus pais. Quanto maior a compreensão da Existência, maior a capacidade de se ver além dos fatos imediatos e de se conquistar uma consciência de paz.
*Psicóloga Clínica Especialista. CRP13.2262; Especialista em Infância e Adolescência; Psicoterapeuta em Análise Bioenergética; Formação Internacional com Orientação Transpessoal no método DMP -  Deep Memory Process.
Coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com

Um comentário:

Mariana Rodrigues de Souza disse...

Gostei muito da coluna!Nos traz uma reflexão profunda tanto para os pais, como para nós, os filhos. Muito bom para discutir os valores na famíla, a importância e a responsabilidade de se ter um filho, planejado ou não pelos pais. E o eterno aprendizado entre ambas as partes que se constrói no dia-a-dia.

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