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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Comportamento

IMAGENS AGRESSIVAS DESTRUTIVAS & VIOLÊNCIA INFANTO JUVENIL

Iara da Silva Machado (psicóloga)


Há uma forte tendência por parte dos adultos, a cada geração, de considerar que “no seu tempo” as coisas eram melhores, menos violentas ou problemáticas. Acredito que esse fenômeno faça parte de um processo de racionalização que os adultos utilizam para compensar o sentimento de perda da juventude. É natural, porque tudo na nossa sociedade contribui para o engrandecimento do jovem, do novo, e, em contrapartida, para o desprestígio do velho, do idoso, do que é “antigo”. (ZAGURY, Tânia. 2002).
Assim, também se passa a avaliar a conduta infanto juvenil frente a estímulos agressivos, destrutivos ou violentos com frases lamento do tipo “No meu tempo não era assim”. Assumir essa postura de forma sistemática não ajuda a viver o tempo presente (o único real) para contribuir na orientação à juventude.
Os especialistas do comportamento tendem a dividir-se em várias correntes de pensamento, havendo destaque para duas delas, uma que acredita que assistir a muitas cenas de morte, espancamento, assassinato, tortura, abusos sexuais, etc. banaliza a violência, fazendo com que ela seja vista como algo normal. Daí, a aceitação da violência como algo “natural”, como parte do contexto social, gerando como diria o psicólogo Roberto Crema, uma conduta de normose, onde o ilícito, o equivocado e inadequado passa a ser vivenciado como normal. Na visão oposta têm outro grupo de sociólogos e psicólogos que acreditam que o homem tem mecanismos de defesa e de superação de situações adversas, tais que fariam com que essa exposição à violência resultasse em posturas antiviolentas, numa oposição a ela.
Para os pais e cuidadores está entre duas visões e posições tão antagônicas podem gerar mais dificuldade de administrar a orientação filial do que o contrário.
Logo, pode-se abrir uma reflexão sobre a maturação de cada estrutura individual, sem intenção de formatar as crianças e jovens, reconhecendo que uma mente infantil, em desenvolvimento está aberta a captação de estímulos de toda ordem, cabendo à família, sobretudo os pais, conversarem sobre o certo e errado, o lícito e ilícito, o real e o imaginário dentro dos valores, crenças e atitudes parentais e sociais para que a realidade objetiva não seja negada à criança, que desconheça o mundo real, onde a violência existe, portanto, ela precisa apreender e aprender do que se trata, sem excessos. E esse limite entre o quanto (muito, pouco ou suficiente) é uma receita que não se deve prescrever para o outro, sem o risco de está sendo insuficiente na dinâmica de realidade objetiva de cada lar. Portanto, os pais devem dialogar exaustivamente entre si, exorcizando os próprios fantasmas pessoais da infância e adolescência quando em contato com os campos da violência e as suas reações, não de forma saudosista, mas de modo ilustrativo, para dimensionar os níveis de agressividade que reconhecem e os campos atuais que lhes são desconhecidos.
A partir dessa atualização é possível verificar que existem muitas formas de violência não só os estímulos colhidos na mídia, desenhos e filmes, mas também no trato social doméstico, no tom da voz no lar, nas expressões de desrespeito que podem aparecer nas convivências familiares e sociais as quais as crianças e jovens estão freqüentemente expostos.
O exercício da congruência volta a ser a palavra chave, no pensar, sentir e agir diante dos filhos para que não se coloque sempre em tercerização a responsabilidade de educar e cuidar dos campos que envolvem a possibilidade de manifestação de atos violentos nos filhos.
Os meios de comunicação, os estímulos externos e o meio social têm um quanto de força na ação do humano, mas a estrutura vem antes da funcionalidade, de tal forma, que se a criança e o jovem têm base sólida familiar na afetividade positiva, orientação firme e segura, na vivência doméstica pacífica os prognósticos de conduta mais saudáveis tendem a ser mais reais e a relação dessas com as ações violentas do mundo externo serão sugestivas de críticas mais centradas em valores positivos e atitudes mais equilibradas.


A psicóloga Iara Machado é colunista do pbnoticias.com e garimpandopalavras

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