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domingo, 28 de março de 2010

DÍADE: MÃE E FILHO PORTADOR DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS



Iara da Silva Machado*
É denominada díade o período que vai da fecundação até os 3 anos de vida; corresponde a “era da mãe”, da díade mãe-filho, que se caracteriza por fortes laços afetivos e uma certa distância e isolamento do meio circundante (Griffa & Moreno, 2001). Existem muitas abordagens que interpretam esta relação dual, dentre elas a que afirma através de pesquisas, que a privação do bebê do contato materno ou de substitutos adequados gera quadros clínicos de ‘privação emocional parcial ou depressão anaclítica’ e ‘privação emocional total ou marasmo emocional’.
O quadro de privação emocional parcial estabelece-se quando os bebês têm um bom vínculo materno até por volta do sexto mês, e ficam privados dele por cerca de três meses; o quadro de privação emocional total dá-se quando os bebês são privados do convívio materno nos primeiros meses de vida por período maior do que cinco meses, independente do mal ou bom relacionamento materno anterior.
Muitas vezes, esquecidos que a mãe de hoje foi filha ontem, e não há como apagar os registros bons e maus dessa vivência, e que no ato da maternidade existe o momento de atualização do Ser nos campos tanto do potencial hereditário, quanto dos aspectos afetivos, emocionais, psíquicos, pessoais, sociais e ambientais, portanto Winnicott (2002) considera conveniente usar a expressão do tipo ‘ mãe suficientemente boa’ para transmitir uma concepção não idealizada da função materna. Quando o foco é o bebê encontra-se uma visão oposta ao campo materno que é a valorização total da inaptidão deste para lidar com a vida, ele não possui nada de experiência ou vivência anterior, não tem condições de organizar um pensamento e expressar o seu desejo oralmente, de caminhar, de alimentar-se, vestir-se, conduzir-se, enfim é aquilo que Winnicott (2002) ainda chamará apropriadamente de um ser portador de dependência absoluta, pois este possui uma condição de dependência total em relação ao meio.
Ainda para Navarro (1984) o stress na vida embrionária atinge os genes. Na vida fetal, através da mediação da mãe, o stress atinge principalmente a pele, o aparelho auditivo e circulatório. O feto pode ter uma simpaticotonia (resposta autônoma) induzida pela mãe. O recém-nascido está sempre exposto ao stress que atinge os cinco sentidos: tato, visão, audição, olfato e paladar.
Miller (1995) apresenta no viver e crescer com crianças que têm necessidades educativas especiais uma visão enriquecida dos filhos, reconhecendo que ninguém é perfeito descreve a partir da díade mãe-filho quatro fases de adaptação da realidade objetiva de se ter no lar uma criança com deficiência sensorial ou mental, na elaboração do luto do filho ‘perfeito’. Essas fases são denominadas de:
  • Sobrevivência: quando se observa que algo saiu do controle, e que a partir desse fato inusitado deve-se reagir e enfrentar o porvir. Os sentimentos nesta fase incluem o medo, a confusão, a culpa e a vergonha.
  • Busca: consiste em procurar um diagnóstico e serviços de saúde, seguidos de uma série de questionamentos como: Por quê? O que isso significa na minha vida?
  • Ajustamento: é uma mudança de atitude frente ao processo do viver. A mãe passa a reconhecer que a sua vida também inclui os outros filhos (se houver), o companheiro, a parentela, o trabalho (talvez) e os amigos. É uma etapa que mostra a mãe sua capacidade de desenvolver novas habilidades para lidar com o filho portador de necessidades educativas especiais.
  • Separação: é a crença paulatina na possibilidade de ir-se ‘soltando’ o filho, para que ele possa desenvolver suas próprias habilidades e potencialidades. Afinal, o nascimento é o primeiro marco de uma grande viagem para a separação/independência. Vive-la junto a uma criança especial é um desafio enorme para os pais, porque o que para uma criança ‘normal’ é um fato extremamente previsível e banal, como por exemplo, o ato de calçar uma meia ou pronunciar a palavra mamãe, para uma criança portadora de limitação mental ou surda isso será um desafio vencido, aplaudido e avalizado pela mãe e pai como uma vitória.
Lowen (1985) afirma que o prazer é uma resposta corporal. A capacidade para o prazer é uma função da vitalidade do corpo, ou seja, de quão vibrantemente vivo está o corpo.
Quando se fala da díade mãe-filho a ligação corporal é primária, reconhecer a importância da vinculação dos corpos é reflexo dos processos anteriores estruturados, ou seja, o corpo inscreve e reflete o que se passou no campo dos pensamentos/impressões e sentimentos/emoções, e esta qualidade permeará o Ser por toda a vida.
Reconhecendo os trabalhos das terapêuticas corporais cremos neles enquanto caminhos para a educação da pessoa portadora de necessidades especiais, no campo da afetividade expressa pelo corpo, naquilo que descrevemos como linguagem corporal afetiva.
Existem possibilidades criativas de se vivenciar essa relação proximal, para fins de uma estruturação emocional pautada nas impressões sensoriais. A capacidade de tocar e transmitir pelo calor e pela suavidade o quanto o outro é significante para nós imprimindo pelo tato a aceitação da identidade corporal; o olhar para o outro enternecido alimenta o globo ocular de energia calorosa e amorosa ajudando este a espelhar a alma.
Lowen (1982) diz: que para se alcançar um nível de integração real consigo mesmo o homem deve começar sendo o próprio corpo, e deve finalizar sendo a palavra, mas a palavra deve vir do coração.
Ora, qual é a linguagem do coração, senão o afeto?!

*Trechos da monografia de pós-graduação apresentada por Iara da Silva Machado em 2004, na Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas, sob o título original: Desenvolvimento Social e a Linguagem Corporal Afetiva na Criança Portadora de Surdez.

A psicóloga Iara Machado escreve para o pbnoticias.com e garimpandopalavras
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