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domingo, 20 de setembro de 2009

Doutor patoense profere palestra em X Simpósio Internacional





Um interlocutor – cristão ou não – inquieto. Esse é o desafio que se apresenta à teologia contemporânea, e com o qual o patoense, Prof. Dr. Degislando Nóbrega de Lima, da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, buscou dialogar na última terça, 15, dentro da programação do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades, realizado na Unisinos, em São Leopoldo-RS
Em sua conferência "As possibilidades e/ou impossibilidades das narrativas de Deus, hoje. Uma reflexão a partir da teologia contemporânea", Degislando, doutor em Teologia da Missão pela Universidade de Münster, na Alemanha, esteve focada em três grandes pontos: nos deslocamentos da teologia tradicional do equilíbrio medieval à reviravolta moderna, nos deslocamentos provocados pela contemporaneidade e no discurso sobre Deus e nas exigências e horizontes de inserção desse discurso no centro da vida.
"O próprio fato de nos colocarmos a questão de Deus em forma de impasse – possibilidades ou impossibilidades de narrá-lo – mostra que algo mudou no mundo, com conseqüências na dinâmica do cristianismo e na sua teologia", disse o teólogo.


Vaticano II
O primeiro salto em termos teológicos ocorreu, segundo De Lima, com o Concílio Vaticano II. Nele – defendeu – passou-se de uma teologia cujo método primava pela razão lógica, dialética, dedutiva, para uma superação do divórcio entre fé e vida, situando a fé cristã no centro da história e estabelecendo uma íntima relação entre fé e construção do mundo. "Superou-se o aspecto doutrinal, a identificação da tradição com um depósito de verdades atemporais", afirmou.
"O Concílio ousou no discernimento quanto nas novas possibilidades de narrar Deus e seus desígnios. Para isso, realizou deslocamentos radicais na concepção da revelação de Deus, da Igreja na sua relação com o mundo, do valor do empreendimento de cada ser humano no processo de humanização e da relação entre o cristianismo e as outras religiões", defendeu o patoense.
Era fragmentada, fluida, descontínua

Por outro lado, passa a emergir uma maior valorização do fragmento, do fluido, do descontínuo, do líquido, da interrupção. “Processa-se ainda um deslocamento do eixo da subjetivação”, explicou o teólogo. “A subjetividade moderna era a subjetividade da razão universal. A pós-moderna, por sua vez, é a subjetividade do desejo”, afirmou.
"O antigo determinismo é substituído pelo indeterminismo da matéria, as probabilidades substituem as antigas leis fixas. Com isso, faz-se a crítica tanto à totalidade como ao totalitarismo de qualquer natureza: ideológico ou político, religioso ou sexista, de classe ou étnico", disse o teólogo.
Para o professor, a base comum no pensamento contemporâneo é “a desconstrução de todos os sistemas referenciais de sentido”. Aqui, então, surge a pergunta: como narrar Deus em um mundo em contínua transformação?

Nesse sentido, De Lima defendeu aqueles que “creem inquietamente”, pois, no cenário atual, apresenta-se para eles “uma necessidade de reflexão sincera e sem subterfúgios sobre os descaminhos e critérios da relação entre sistemas de referências e transcendência”.
Inquietação teológica

"A desconstrução vislumbra uma experiência espiritual do sagrado livre da pretensão de totalidade, onipotência e violência", definiu De Lima. Por isso, para se falar de Deus na era contemporânea, depende-se da capacidade de “autêntica comunicação”, como definiu o teólogo. Ou seja, a capacidade de enviar ao interlocutor uma diferença que faz uma diferença. “E se não for possível comunicar diferença, é melhor calar”, resumiu.
"Narrar Deus nas coordenadas de uma comunicação autêntica exige que os cristãos se situem no centro, na vida de nossos contemporâneos", afirmou.

E aqui o teólogo encerrou sua fala, propondo cinco deslocamentos para um reposicionamento da teologia na contemporaneidade. Eis aqui um resumo:
  • De uma recepção da revelação como ditado para uma perspectiva de processo pedagógico;
  • Por um novo e fecundo equilíbrio entre ortodoxia e ortopráxis;
  • De uma pedagogia apressada para uma escuta atenta e acolhedora;
  • De uma fé sustentada na idéia de monopólio da ação de Deus para uma fé quenótica;
  • De um único modelo de cristianismo para um cristianismo como estilo
Por fim, afirmou, a esperança cristã deve se tornar um sentido de existência, e não uma fórmula a ser repetida. "Isso exige do cristão uma ação dinâmica, que integre ao mesmo tempo a escuta, a criatividade e o testemunho", concluiu o teólogo.


Foto: arquivo Unicap



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