Dr. Inácio Andrade Torres*
Conforme a sociologia, o tempo se constitui em uma das categorias do entendimento, cujo valor é variável. É uma noção essencial para a vida social, por isso serve de instrumento balizador para darmos maior ou menor importância às épocas de nossas vidas.
Motivado por esse argumento acrescido da boa nova de que Uiraúna prestará, neste mês, uma homenagem ao seu filho ilustre Monsenhor Vieira, escrevi esse texto composto de um giro rápido pelos caminhos da minha infância e adolescência vivenciadas em Patos, minha terra natal, indo parar no velho Ginásio, dos tempos do Padre Vieira.
Essa viagem imaginária permitiu-me ver a capela de São José, o santo padroeiro do colégio. Ouvir os hinos das novenas de março e maio, organizadas pelos alunos que, em coro afinado, cantarolavam a ladainha de Nossa Senhora e de São José, verso por verso, acompanhados do som sutil da rabeca (violino) tocada por Ribamar.
Revi as festas para homenagear os dias consagrados aos mestres, às mães, aos pais e aos estudantes. Recordei as missas celebradas em latim pelo Monsenhor Vieira. A genuflecção diante do altar. As lições e conselhos do professor Oliveira, o mais fiel torcedor brasileiro da Vasco da Gama. O professor Messias, cujas aulas de português encantavam a todos seus alunos. As aulas de D. Lina Cavalcante, Onilva, Eunildo, Juciê, todos espetaculares mestres de matemática. Revi a algazarra para a entrada nas salas de aulas; o porteiro do colégio, que atendia pela alcunha de Baleia, e que, carinhosamente, todos os dias, ficava a receber de cada aluno o cartão de presença, o qual controlava com zelo e rigidez. Baleia inspecionava-nos dos pés à cabeça. Observava se nossos sapatos estavam lustrados, a camisa “ensacada”, a fivela do cinto polida, a gravata bem posicionada e com o nó perfeito e a postura correta no andar e até no sentar na carteira.
Mês de junho organizávamos quadrilhas e forrós. Vinha o período das férias, momentos de alegria e de separação; é que para o Diocesano convergiam estudantes dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Nos dias que antecediam a saída dos internos, cresciam as estatísticas de “nó cego ou do ceará” – um tipo de nó que se dava em roupas e lençóis, difícil de se desatar. Esses alunos estampavam largo sorriso, pois era chegada a hora de visitar a família, a namorada e de rever amigos.
Quase todos os anos, no Sete de Setembro, Padre Vieira ostentava orgulhosamente o troféu de campeão do desfile cívico. Sempre galgávamos a primeira colocação. Também pudera, neste dia, até a turma traquinas caprichava, pois o nome do colégio estava em jogo.
Nos quadrangulares de futebol de salão (hoje futsal), o Diocesano marcava sua presença. Apresentava-se sempre com muita garra. Aliás, a própria crônica esportiva paraibana fazia elogios a sua equipe principal. Dalteir Moura – hoje ortopedista renomado na capital - era craque reconhecido em todo o estado. Nos dias de jogos, os alunos preparavam a torcida e o velho prédio do Diocesano servia de palco para a festa. Lembro bem, que no seu interior, havia três algarobeiras frondosas, que ornamentavam o pátio e davam sombra para a meninada abrigar-se à hora do recreio.
Campo de futebol
O campo de futebol do Diocesano foi durante muito tempo a principal praça de esportes da cidade. Nele aconteceram grandes partidas envolvendo o Nacional e o Esporte Clube de Patos. Foi também cenário de torneios de vários times amadores patoenses, dentre os quais destacavam-se o Guarani de Tião Bilú, o Botafogo de Toinho, o Fluminense de Totô, o Flamengo de Vigolvino e o Bariri do São Sebastião.
Para estudar no Diocesano, o estudante tinha que possuir boa bagagem intelectual.O exame de admissão ao ginásio era um verdadeiro vestibular. No dia da prova oral, todos os candidatos rezavam para não ter como entrevistador o professor Messias ou o Padre Vieira.
No velho Diocesano de Patos, quando um professor não comparecia, era de imediato substituído pelo seu reserva - o ginásio tinha um quadro sobressalente de docentes, todos polivalentes. Não havia aula vagas e o número de gazeadores era mínimo, pois as aulas tinham atrativos pela conteúdo e metodologia.
O antigo prédio do Diocesano serviu ainda de abrigo para a construção de uma literatura erudita saudável e de sucesso. Foi nele que, o Padre Joaquim de Assis, o Padre Assis – grande orador sacro paraibano - escreveu a maioria de suas crônicas das doze, cujo sabor literário era deliciado pelos ouvintes da rádio Espinharas de Patos, da segunda à sexta feira, ao meio dia.
O certo é que o Diocesano fora “estadualizado”. Vieram novas gestões. O prédio sofreu reformas. Mataram as árvores, construíram novas salas de aula. Puseram fim ao refeitório e ao dormitório. A capela diminuíram-na e, hoje, nem sei se existe?! Com certeza, algumas dessas mudanças fizeram-se necessárias e, outras, não. O problema é que nesse país, infelizmente, a mania de não se preservar patrimônio histórico ainda perdura como verdadeira mancha da nossa cultura e da nossa educação.
Todavia, mesmo com todo respeito ao progresso atual, se me fosse assistido o direito de recomeçar os estudos, preferiria as escola do passado, de prédios pequenos e de grandes mestres à algumas escolas contemporâneas de suntuosas edificações mas muito pequenas em humanização, convivência, conhecimento e eticidade.
Por fim, em nome de meus ex-colegas do velho Diocesano de Patos - hoje Educandário Padre Vieira - estejam onde estiverem, transmito, nesse ensaio, uma louvação sincera ao povo de Uiraúna, pela homenagem justa e pertinente, prestada por ocasião do centenário de nascimento do Padre Vieira, um dos maiores educadores da Paraíba, cujas boas lembranças e saudades estatuaram-se nos corações e mentes de seus ex-alunos, amigos e familiares.
* Dr. Inácio Andrade Torres – odontólogo e professor da UFCG. Campus de Cajazeiras.
Para estudar no Diocesano, o estudante tinha que possuir boa bagagem intelectual.O exame de admissão ao ginásio era um verdadeiro vestibular. No dia da prova oral, todos os candidatos rezavam para não ter como entrevistador o professor Messias ou o Padre Vieira.
No velho Diocesano de Patos, quando um professor não comparecia, era de imediato substituído pelo seu reserva - o ginásio tinha um quadro sobressalente de docentes, todos polivalentes. Não havia aula vagas e o número de gazeadores era mínimo, pois as aulas tinham atrativos pela conteúdo e metodologia.
O antigo prédio do Diocesano serviu ainda de abrigo para a construção de uma literatura erudita saudável e de sucesso. Foi nele que, o Padre Joaquim de Assis, o Padre Assis – grande orador sacro paraibano - escreveu a maioria de suas crônicas das doze, cujo sabor literário era deliciado pelos ouvintes da rádio Espinharas de Patos, da segunda à sexta feira, ao meio dia.
O certo é que o Diocesano fora “estadualizado”. Vieram novas gestões. O prédio sofreu reformas. Mataram as árvores, construíram novas salas de aula. Puseram fim ao refeitório e ao dormitório. A capela diminuíram-na e, hoje, nem sei se existe?! Com certeza, algumas dessas mudanças fizeram-se necessárias e, outras, não. O problema é que nesse país, infelizmente, a mania de não se preservar patrimônio histórico ainda perdura como verdadeira mancha da nossa cultura e da nossa educação.
Todavia, mesmo com todo respeito ao progresso atual, se me fosse assistido o direito de recomeçar os estudos, preferiria as escola do passado, de prédios pequenos e de grandes mestres à algumas escolas contemporâneas de suntuosas edificações mas muito pequenas em humanização, convivência, conhecimento e eticidade.
Por fim, em nome de meus ex-colegas do velho Diocesano de Patos - hoje Educandário Padre Vieira - estejam onde estiverem, transmito, nesse ensaio, uma louvação sincera ao povo de Uiraúna, pela homenagem justa e pertinente, prestada por ocasião do centenário de nascimento do Padre Vieira, um dos maiores educadores da Paraíba, cujas boas lembranças e saudades estatuaram-se nos corações e mentes de seus ex-alunos, amigos e familiares.
* Dr. Inácio Andrade Torres – odontólogo e professor da UFCG. Campus de Cajazeiras.
2 comentários:
Dr. Inácio,
Essa sua matéria me levou a uma viagem na minha adolecência, como estudante do Ginásio Diocesano de Patos. Está na hora de Patos também, homenagear o nosso saudoso Mons. Vieira. Conviví com êle aí em Patos como aluno e depois em Brasília, já como Deputado. Todas as noites jogávamos buraco.Foi uma bôa convivência.
O Professores, Messias e Oliveira são merecedores de todo o nosso respeito também. E como esquecer o nosso querido Prof. Antonio do Vale e D. Lina com seus "teoremas"!
Parabéns!
Obrigada pelas considerações realmente foram muito bonitas as solenidades em joão pessoa no ultimo dia 3.Haverá também em Patos no dia 18 e 19 e 20 em Uirauna, onde serão sepultados os restos mortais(do monsenhor Vieira) na igreja matriz.Concordo que ele foi o grande educador de gerações é sua maior obra pode ser aquilatada através dos cidadãos de bem que ele conseguiu formar.
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