No final de semana que marca o início do Campeonato
Brasileiro de Futebol apresentamos um texto simplório e, demasiadamente, longo
sobre problemas da organização deste esporte, com uma sugestão, entre muitas
existentes, sobre como recuperarmos o sucesso da nossa competição. A ideia é suscitarmos nos amantes do
futebol aquilo mais nos atrai: a discussão, a discordância e o debate.
Edileudo Lucena |
A atual realidade do futebol brasileiro tem
sido motivo de preocupação, seja em termos de seleção (muito pela imagem fixada
em nossas mentes pelo 7 x 1); seja quanto a situação dos clubes nas competições
nacionais: suas condições financeiras e estruturais; suas instabilidades quanto
ao desempenho nestas competições; e, principalmente, pela prática exercida por
dirigentes destes clubes e das entidades que comandam o mais querido dos nossos
esportes.
Observamos que nas análises dos
especialistas e na prática dos dirigentes há uma constante comparação entre
nossa realidade e o que ocorre em outras partes do mundo, notadamente, nos
países europeus. Embora não sejamos contra nos espelharmos nos bons exemplos,
entendemos que o problema do futebol brasileiro tem que ser resolvido com ações
oriundas de nossas próprias especificidades. Nunca, em nossa história, tivemos
um extraordinário exemplo de organização para este futebol, no entanto, este
mesmo esporte se tornou o maior vencedor de campeonatos mundiais de seleções,
além de títulos, neste nível, conquistado por nossos clubes a exemplo do
Santos, Flamengo, Grêmio, São Paulo, Internacional, Corinthians. Sem
esquecermos, ainda, o fato de sermos, ao longo dos anos, os maiores
exportadores de jogadores para dar nível elevado aos campeonatos europeus.
Na tentativa de contribuir para
encontrarmos uma saída para esta difícil situação, gostaríamos de expressar
algumas reflexões sobre o que poderia está contribuindo para este quadro e
sugerir ideias para serem adotadas como tentativa de recuperarmos o orgulho e o
interesse pelo dia a dia desta prática esportiva. Neste sentido, avaliamos como
inconcebível que num país com nossas dimensões, com uma população imensa como a
que temos e com a comprovada capacidade de descobrirmos e formarmos novos
talentos, adotarmos um campeonato com apenas vinte clubes, e mais, com a queda
de quatro equipes para a segunda divisão.
Temos percebido, então, que esta
fórmula tem gerado crises constantes e cíclicas em tradicionais clubes do nosso
futebol. Tanto é que, ao término da competição, as discussões são mais voltadas
para as crises dos clubes que caem do que com relação ao mérito para a equipe
campeã. Os principais focos de análises se voltam para as más gestões, chegando
ao ponto de “comemorarmos” a queda do clube como se estivéssemos nos vingando
do dirigente, quando, na verdade, a punição recai sobre milhões de apaixonados
e sobre a imagem do futebol como um todo. Se é verdade que as ações
irresponsáveis destes dirigentes não devem ser relevadas e que medidas de
punição, inclusive, com exclusão destes do mundo do futebol devam ser adotadas,
ao mesmo tempo, temos que encontrar meios para salvaguardar a vida dos nossos
clubes.
Com vinte clubes na primeira divisão
e com esta regra de descenso, mesmo que todos os clubes fossem organizados e
estruturados, fatalmente, quatro iriam passar pelo terror do rebaixamento e
muitas equipes tradicionais teriam que enfrentar esta situação. Hoje, além das
20 equipes que disputarão a elite do campeonato em 2015, poderíamos citar mais
quatorze clubes (Botafogo, Bahia, Vitória, Ceará, Fortaleza, Atlético (GO),
América (MG), Paysandu, Paraná, Náutico, Santa Cruz, Juventude, Portuguesa,
Guarani) todos com condições de disputar uma primeira divisão, isso porque, têm
história, têm torcida, têm representatividade regional e, sobretudo,
ofereceriam um maior campo de possibilidades para descobrimos novos talentos o
que traria benefício para o engrandecimento do nosso futebol. Neste mesmo
raciocínio, poderíamos listar mais outros vinte a vinte e cinco clubes
brasileiros que já fizeram história em nosso futebol e que hoje se encontram à
margem deste processo.
Ainda, no mesmo sentido, nos questionamos:
será que se tivéssemos mais clubes no Nordeste com oportunidades de participar
de grandes competições nacionais, o Diego Costa teria deixado o Sergipe para ir
brilhar diretamente na Europa? Será que Hulk, saído direto da Paraíba? Será que
Firmino teria ido de Alagoas despontar no mundo para ser descoberto pela
seleção?
Certamente, e até pode ser verdade,
alguém pode argumentar que a maioria destes clubes se apequenaram por seus
próprios problemas internos. Mas reflitamos: nesta estrutura de disputa da
competição oficial, como um clube pode projetar uma reestruturação mais lenta e
a longo prazo, ou até mesmo promover investimentos mais audaciosos se a regra
possibilita grandes riscos quanto a uma continuidade na divisão de elite? Neste
quadro imaginemos: como uma equipe que acabou de subir da série A para B poderá
ter segurança para investir na formação de um time de ponta, se a probabilidade
( pelo peso da camisa, pelas naturais dificuldades da própria competição) é de
ela ser, no final do campeonato, uma das quatro da zona de rebaixamento? Numa
outra situação: se uma equipe “grande” do futebol brasileiro disputa a série B,
por razões lógicas, não poderá manter uma equipe de nível A, mas ao subir, no
ano seguinte, tem um tempo curto para, obrigatoriamente, formar um grupo com
outro nível. Tudo isso, prejudica a projeção de um trabalho de continuidade, a organização
e o planejamento de qualquer equipe para se adequar e se manter dentro desta
estrutura, hoje, adotada para o campeonato nacional.
Ao mesmo tempo percebemos que nos
miramos tanto na organização dos campeonatos europeus e não observamos que,
enquanto o Brasil tem um território mais de 16 vezes maior que a Espanha, lá a
primeira divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3; enquanto o
Brasil tem um território de aproximadamente 15 vezes maior que a França, lá a
primeira divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3; enquanto o
Brasil tem um território de aproximadamente 23 vezes maior que a Alemanha, lá a
primeira divisão é disputada por 18 equipes e só caem 3; enquanto o Brasil tem
um território mais de 28 vezes maior que a Itália, lá a primeira divisão é
disputada também por 20 equipes e só caem 3; enquanto o Brasil tem um
território de aproximadamente 65 vezes maior que a Inglaterra, lá a primeira
divisão é disputada também por 20 equipes e só caem 3. Nunca é demais reafirmar
que neste Brasil imenso, temos 20 equipes na primeira divisão e 4 caindo.
Diante da imensidão do nosso Brasil
e do seu histórico futebolístico, chegamos a reflexão de que uma das
possibilidades de saída para amenizar esta crise seria a realização de um campeonato brasileiro com 28 a 30 equipes
e com a queda de dois ou três para a divisão de acesso. Na nossa visão, desta
forma, estaríamos oferecendo mais condições, tranquilidade e maior tempo para
planejamento e estruturação de nossos clubes; estaríamos oferecendo mais
motivação para o torcedor, inclusive de outras regiões que, hoje, dispõem de
Arenas moderníssimas; e um maior tempo de competição nacional (com facilidade é
possível promover uma adequação no calendário, inclusive, com nova roupagem aos
estaduais), além de outras consequências positivas já analisadas.
É obvio que para cada proposta ou
sugestão, para cada tese aqui levantada, vai ter sempre um contra-argumento. Porém,
como amante do nosso futebol, mesmo correndo o risco de termos externado
utopias e expressado ideias impraticáveis, entendemos que reflexões como estas se
não simbolizam um gol marcado em favor de nosso futebol, deixa-nos com a
sensação de termos dado, ao menos, “uma assistência” para quem tem a competência
e a prerrogativa, marcar o tento que tanto necessitamos para a vitória do nosso
futebol e, porque não dizer, para alegria do povo brasileiro.
Edileudo de Lucena Medeiros – Professor de História da
Rede Pública (Patos-Paraíba), Bacharelado em Comunicação Social ( Jornalismo) –
Ex-Presidente de Clube de Futebol Profissional da Cidade.
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