João Roberto de Araújo |
João Roberto
de Araújo, mestre em psicologia, autor de vários livros que trabalham a
temática emoções, criador da Liga pela Paz, metodologia de ensino implantada em
19 estados brasileiros, já percorreu o mundo para beber na fonte as particularidades
de cada cultura e assim fortalecer seus conhecimentos e defender como saída a educação
emocional e social para os conflitos contemporâneos.
Durante sua
visita à Paraíba (17 e 18 de dezembro 2014), oportunidade em que fez a entrega
ao governador Ricardo Coutinho do relatório das atividades da Liga Pela Paz,
tendo também na sua agenda proferindo palestra para educadores das 14 gerências
de educação, o professor João Roberto de Araújo concedeu entrevista e falou
sobre o futuro da educação pela emoção, índices de aprendizagem, mudanças e perspectivas
da Liga na Paraíba.
Professor
João Roberto de Araújo, que análise o senhor faz do cenário da Liga Pela Paz
hoje no Brasil?
João: É um cenário muito positivo, otimista, porque as lideranças políticas,
educacionais percebem que a educação emocional e social é o maior desafio da
educação nesse século. E, às vezes, isso é difícil de compreender. Nós ainda
vivemos uma busca com pouca reflexão na direção de melhorar os índices de
aprendizagem. Esta é a grande obsessão de uma liderança da educação ou de uma
liderança política, seja o governo do estado, sejam os prefeitos ou os próprios
gestores que estão nas escolas, que têm essa demanda muito forte. É preciso
melhorar os índices de aprendizagem.
É preciso
que uma criança, que um aluno se desenvolva na linguagem matemática e em todos
esses conteúdos de linguística. Isso é muito importante, ampliar a compreensão
sobre o texto, escrever melhor, é preciso desenvolver a matemática, que não é
somente números, é um desenvolvimento lógico no cérebro, na mente de nossas
crianças. Então não devemos negar esse interesse da melhoria dos índices de
aprendizagem, porque revelam uma melhoria na reflexão, no desenvolvimento das
nossas crianças, de nossos adolescentes, nossos jovens.
No entanto é
preciso colocar uma pergunta muito importante: Como fazer para melhorar esses
índices? Quais são as abordagens que a ciência já sinaliza como importantes
para melhorar a aprendizagem em linguagem, em matemática, etc.?
Hoje temos a
confiança, a segurança que o caminho mais seguro para uma criança aprender
melhor qualquer conteúdo é o estado emocional dela. Isso vale para nós adultos
também. Quando estamos emocionalmente melhores, desenvolvemos mais competências
emocionais para lidar com a ansiedade, com o medo, a raiva, o ciúme. Quando
aprendemos sobre as emoções que nos mobilizam mais, adquirimos uma competência
para colocar, ao mesmo tempo, mais atenção nos conteúdos. Nas crianças esses
estados emocionais ajudam a desenvolver aqueles tais índices de aprendizagem que
são desejáveis.
As pesquisas
científicas patrocinadas pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura ) apontam que o melhor caminho para a
criança aprender matemática, linguagem, dimensão lógica e cognitiva é melhorar
o clima emocional da escola. Isso é um fato que estou sempre lembrando por que
senão podemos correr o risco de ter tanta fome de melhorar os índices de
aprendizagem e continuarmos patinando sem considerar o alicerce do
desenvolvimento que são as emoções.
A
meta da Liga Pela Paz é criar uma cultura de paz nas escolas. Como criar essa
cultura nas famílias que apresentam graves problemas de funcionamento?
João: Eu penso que a escola do futuro terá dois olhares para a educação. Um
olhar para dentro, para a sala de aula, para a gestão interna da escola, para a
pedagogia e para a didática. É o olhar convencional de melhoria do
ensino-aprendizagem dentro da escola. Mas a escola do futuro terá também um
olhar pra fora, para a comunidade, para a família, porque uma pergunta que
devemos responder com mais consciência é quem educa a família? Nós sabemos que
a família precisa de mais conhecimento. Ela tem um nível de desinformação muito
grande e essa família é muito importante na educação de nossas crianças.
Mas
quem é responsável pela educação dessas famílias? São muitos os atores. Há o
vereador do bairro, a associação do bairro, a mídia, que tem um papel muito
importante, mas a escola não está fora da responsabilidade da educação de pais,
de adultos de referência, que são os líderes dentro dessas famílias. E eu,
inclusive, penso que está reservado para a escola o principal papel na educação
da família. Só que nós precisamos estruturar a escola, dar condições para que
ela possa olhar para fora.
Hoje nós
temos um professor sobrecarregado, às vezes, com as demandas de sala de aula.
Ele não tem disponibilidade muito grande para planejar um processo de encontros
com as famílias. Até por que as famílias têm horários de encontros diferentes
dos horários dos filhos. Às vezes só podem no fim da tarde, ou à noite. Dessa
forma eu imagino que a escola de futuro, além desse olhar pra dentro, terá
também que desenvolver um olhar pra fora, que é o olhar de educação para a
família e criar um corpo de profissionais (um pedagogo, um sociólogo,
psicólogo, um assistente social, um comunicador etc) que tenha o papel de olhar
para as famílias, mas que esteja no contexto da escola e que seja interface
entre as famílias e o professor que está em sala de aula.
Hoje o
trabalho com a família está muito eventual, muito esporádico, muito forçado e
muito sofrido. Quando pensarmos, no futuro, em criar uma escola no bairro, no
planejamento, refletiremos que ela precisará de professores para olhar para
dentro, mas também de educadores para olhar para fora. Até mesmo a arquitetura
da escola vai se repensada para poder ser o espaço que acolhe pais e mães, não
apenas para convidá-los a puxar orelha em relação às dificuldades que os filhos
têm. Por que hoje existe um trauma; quando um pai é avisado para ir à escola
ele sofre porque o estão chamando para uma crítica em relação ao desempenho do
filho. A escola tem que transcender esse processo e vencer esse grande desafio
do diálogo comunidade-escola e conquistar parceria dos pais e das famílias que
também tem essa responsabilidade. Mas o desenvolvimento das famílias não vai
cair do céu. Vai sair da própria escola do bairro! Acredito que a escola seja a
área mais privilegiada, mais legitimada para trabalhar com a família.
Que
avaliação o senhor faz da culminância dos trabalhos da Liga Pela Paz na
Paraíba?
João: Tivemos a experiência em 2014 quando os dados levantados
pelos próprios educadores, em uma sistematização científica de pré-teste e
pós-teste, demonstram resultados muito positivos, tanto na aquisição de habilidades
emocionais e sociais quanto na redução de comportamentos problemáticos. Isso
mostra que as respostas não são só em longo prazo, elas já aparecem hoje, no
curto prazo. Nós temos nesse último informativo, que foi divulgado aqui na
Paraíba, os dados da melhoria na aquisição de comportamentos habilidosos e a
redução de comportamentos problemáticos.
O que vai
acontecer daqui para frente, com a continuidade desse processo, é que isso vai
se reverter em melhoria nos índices de aprendizagem. Já temos uma
resposta no sentido do aluno ser mais feliz, de conviver melhor. E isso vai
redundar na melhoria da aprendizagem.
Quais as
expectativas da Inteligência Relacional em relação à parceria com o Governo do
Estado da Paraíba?
Pelos
resultados obtidos em 2014, não só numericamente, mas pelo envolvimento e
motivação dos educadores, a nossa expectativa é de que um esforço como esse
tenha continuidade. Acreditamos que a educação emocional e social seja
institucionalizada na rede e ampliada para outros alunos e, de forma
particular, chegue às famílias e comunidade.
Marcos Eugênio
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