Morgana do
Nascimento Andrade
Engana-se quem
pensa que nos dias de hoje haja profissão que, a exemplo dos anos 70, garanta
status e excelentes empregos. Os tempos mudaram. Surgiram novas ocupações cuja
demanda de mercado de trabalho está em alta. Já outras, antigas, definhadas
pelos determinantes sociais e econômicos entraram em crise, verificando-se uma
insegurança quanto ao futuro delas e, naturalmente, de seus pretendentes e
trabalhadores. Essa é uma preocupação que atinge a todas as categorias da
saúde, portanto, propicia uma reflexão crítica e de profundidade.
No caso da
Psicologia, mesmo reconhecida pelo Ministério da Saúde, como uma das quatorze
profissões do setor, e sendo fortemente respaldada pela sociedade como uma
profissão de grande relevância social; durante muito tempo ficou de fora de
programas do Governo Federal, especialmente do Programa Saúde da Família/PSF,
situação ainda mais agravante nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.
Sobre o
assunto, a Associação Brasileira de Ensino e Psicologia/ABEP informa que até
junho de 2006, cerca de 23 mil psicólogos trabalhavam no SUS, distribuindo-se
regionalmente em: 54% - no Sudeste; 18,3% - no Sul; 16,1% - no Nordeste; 7,8% -
no Centro-Oeste e 3,3% - no Norte.
Visando
reduzir essa injustiça, a ABEP, juntamente com outras instituições, a exemplo
do Ministério da Saúde, vem realizando encontros nacionais e regionais com
profissionais da área, tendo por objetivo apreciar, discutir e analisar formas
de aperfeiçoamento da prática dos psicólogos no âmbito do Sistema Único de
Saúde. Com o produto dessas discussões, a ABEP vem trabalhando metodologias e
técnicas que permitam a construção de diretrizes para a melhoria da formação e
do perfil de psicólogos (trabalhadores do SUS).
De fato, a
Psicologia é uma das áreas de grande produção científica no âmbito das ciências
da saúde e da vida; tendo a comunidade como uma forte aliada, que já sabe
reconhecer bem a relevância de um serviço de assistência psicológica no Programa
(ou Estratégia) Saúde da Família/PSF, não apenas para a assistência aos
pacientes inscritos em programas do Ministério, mas, também, como espaço para
psicoterapias individual; infantil; orientação psicopedagógica; psicoterapia e
orientação familiar, conjugal e de pais, dentre outras.
Por outra
parte, é lamentável que o PSF desenvolva ainda trabalhos que, apesar da
necessidade, não contam com um profissional da Psicologia. Nesse sentido,
faz-se necessária, como bem chamou a atenção a Dra. Cláudia Cardoso, da
Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG, “a implantação de um Serviço de
Psicologia com profissionais gabaritados para o atendimento dessas necessidades
da população, que não são poucas”. Muitas cidades do Sudeste e Sul, para
satisfação da comunidade, já implantaram esses serviços.
A boa nova é
que a assistência psicológica vem sendo bastante solicitada pelos usuários dos
serviços de saúde do PSF e de planos particulares. Essa exigência popular tem
sido reconhecida e reforçada por gestores comprometidos com a atenção
psicossocial de suas comunidades. A ABEP e a Secretaria de Gestão do Trabalho e
da Educação na Saúde/ SGTES, do Ministério da Saúde, têm estimulado debates
sobre essa questão tendo os mesmos contado com o apoio e com a participação maciça
de trabalhadores da saúde, especialmente psicólogos.
As primeiras
ações desse projeto de cooperação técnica entre a SGTES, a Organização
Pan-Americana de Saúde/OPAS, as associações de ensino na área da saúde e a Rede
Unida apontam boas medidas no sentido de provocar mudanças nos currículos de
cursos de graduação da área da saúde. Isso já vem acontecendo com sucesso em
muitas instituições. Aliás, ter atendimento nos serviços de saúde é dever do
Estado e um direito do povo.
*Morgana do Nascimento Andrade. Especialista em Dor e
Cuidados Paliativos pelo Hospital A. C. Camargo – São Paulo/SP e em Avaliação e
Reabilitação Neuropsicológica pelo Centro de Psicologia Hospitalar e Domiciliar
do Nordeste/CPHDN – Recife/PE. CRP/PB 13/5489.
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