O Centenário de Ernani Sátiro
Inácio A. Torres
Por motivo profissional, lamentavelmente, não pude participar do centenário de nascimento de Dr. Ernani Sátyro, conterrâneo ilustre que se notabilizou no campo da literatura, do direito e, mais fervorosamente, da política, tendo ocupado cargos de destaque em níveis municipal, estadual e federal. Não fui à festa, mas recebi de minha irmã Ursulina a histórica revista “O amigo velho”, comemorativa do supracitado evento. Sinto saudades dos comícios realizados por Dr. Ernani, nos quais ele, com sua oratória encantadora, fazia o povo vibrar com seus ensinamentos sempre cheios de sabedoria e de conhecimentos. Lembranças de sua empatia com a população.
Como faz falta o Dr. Ernani em sua terra natal! Assim, impossibilitado de sua presença física, relembramos e reverenciamos a sua memória através de dois textos de sua autoria, um em prosa e outro em versos, extraídos da prenda recebida de minha mana. Em prosa, seu discurso proferido por ocasião de sua posse como Ministro do Superior Tribunal Militar, quando assim falou:
“Tentarei ser um juiz. Só isto. Nem inclinado à clemência nem a severidade. Juiz, sem adjetivo. A força da expressão está no substantivo e no verbo, embora haja, por vezes, adjetivos necessários.
Juiz, a julgar, não apensa com o coração, mas também com o coração.
Juiz, a julgar, não apenas com o cérebro, mas também, e muito, com o cérebro. Julgar com todo o ser. Com os meus nervos, com o meu sangue,
com a minha tranqüilidade, mas também, com a minha emoção.
Não sou um noviço na matéria que vou versar. Sou um velho profissional
das lides forenses, embora, nos últimos anos, me tenha consagrado,
quase por inteiro, à atividade parlamentar. Mesmo assim, muitas vezes
frequentei a tribuna do Supremo, do Superior Eleitoral, do júri popular.
Fui, até este momento, um político. Agora, sou um magistrado. Não
tenham medo de político. Tenham medo, isto sim, de quem foi mau no seu
ofício, qualquer que ele seja. Não se assustem com o homem que tantas
vezes gritou na tribuna da Câmara. O grito partia da sinceridade, por
vezes da paixão, no inesperado do debate, mas a conduta sempre
resultou da meditação e do pensamento. Mesmo gritando, nunca
necessitei rever um discurso para retirar uma expressão injuriosa.
Revi-os, e muitas vezes, para melhorar a substância e a forma, que são
como corpo e alma. Unas. Indissolúveis.
Não entro neste Tribunal apenas vestido ou forrado de juiz. Entro
impregnado do desejo, da aspiração, da ânsia de ser moderado, sendo
justo, de ser justo, sendo humano, de ser humano sem ser fraco. De ser
digno e reto”.
Juiz, a julgar, não apenas com o cérebro, mas também, e muito, com o cérebro. Julgar com todo o ser. Com os meus nervos, com o meu sangue,
com a minha tranqüilidade, mas também, com a minha emoção.
Não sou um noviço na matéria que vou versar. Sou um velho profissional
das lides forenses, embora, nos últimos anos, me tenha consagrado,
quase por inteiro, à atividade parlamentar. Mesmo assim, muitas vezes
frequentei a tribuna do Supremo, do Superior Eleitoral, do júri popular.
Fui, até este momento, um político. Agora, sou um magistrado. Não
tenham medo de político. Tenham medo, isto sim, de quem foi mau no seu
ofício, qualquer que ele seja. Não se assustem com o homem que tantas
vezes gritou na tribuna da Câmara. O grito partia da sinceridade, por
vezes da paixão, no inesperado do debate, mas a conduta sempre
resultou da meditação e do pensamento. Mesmo gritando, nunca
necessitei rever um discurso para retirar uma expressão injuriosa.
Revi-os, e muitas vezes, para melhorar a substância e a forma, que são
como corpo e alma. Unas. Indissolúveis.
Não entro neste Tribunal apenas vestido ou forrado de juiz. Entro
impregnado do desejo, da aspiração, da ânsia de ser moderado, sendo
justo, de ser justo, sendo humano, de ser humano sem ser fraco. De ser
digno e reto”.
E agora a poesia intitulada “O poema”:
“Fazer o poema e largar.
O poeta é como a roseira:
Só lhe cabe deixar a rosa
Desabrochar.
Fazer o poema e depois esquecer.
Ele mesmo é quem tem
De viver
Ou morrer.
Fazer o poema e logo fugir.
Ele assim como pássaro
É que tem
De voar,
De subir.
Fazer o poema
E quebrar a caneta.
Que ele não mais precise
De tua muleta.
Mas como deixar,
Mas como esquecer,
Mas como quebrar
Caneta e fugir,
Se ainda não pode
O poema fazer,
Se ainda não pude
O destino cumprir?”
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