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sábado, 22 de janeiro de 2011

AUTOESTIMA - UMA LEITURA SAUDÁVEL PARA COMEÇAR BEM O SEU DIA!



BIOÉTICA, ENVELHECIMENTO E FELICIDADE

Inácio A. Torres


        Há algum tempo fomos convidados a participar de um seminário sobre Gerontologia (estudo sobre a velhice e o envelhecimento), promovido pelo Núcleo Integrado de Estudos sobre a Terceira Idade/NIETI, da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, em João Pessoa, cuja clientela era praticamente constituída de especializandos em estudos sobre a velhice e o envelhecimento. Na época, como éramos professor das disciplinas Gerontologia e Bioética (a ética da vida), do curso de Enfermagem da UFCG, campus de Cajazeiras,  resolvemos apresentar, nesse evento, uma conferência que suscitasse um debate sobre a interface entre a Bioética, o Envelhecimento e a Felicidade.

                Iniciamos com parte de um diálogo extraído do livro "O segredo judaico de resoluções de problemas", de Bonder, cuja cena é mais ou menos assim:

                   Uma mulher de 82 anos adentrou o consultório do Dr. Mayerovitz.
-          “Doutor”, disse ela sofregamente, “não estou me sentindo bem”.
-          “Sinto muito, senhora Kupnik: algumas coisas a medicina mais avançada não pode curar. Eu não tenho como torná-la mais jovem, a senhora compreende".
-          “Doutor, quem foi que lhe pediu para fazer-me mais jovem. Tudo o que eu quero é que possa me fazer mais velha"!

                Essa conversa reflete ações do cotidiano das pessoas. Ações resultantes do não pensar e do não sentir, que podem ser traduzidas como negação da ética. A ética – a que me refiro nesse instante – é a inerente ao homem e a mulher, a que dá uma idéia de homem e mulher livres. Ou seja, a ética como avaliação da moral, ou como algo que vem antes da lei, ou como condição daquilo que vem de dentro do ser humano.
            Tentamos animar os participantes para o entendimento e valorização do saber-ser como elemento fundamental na formação do especialista em gerontologia. Explicamos o ser ético como sendo um ente observador de problemas, que sabe relativizar, priorizar valores e que não estabelece preconceitos e pré-julgamentos.
            Buscamos destabuizar mitos e tabus sobre velhice/envelhecimento e reforçar valores, como: o idoso tem futuro, é inteligente e aprende. O idoso tem sabedoria, por isso deve conviver com pessoas de outras idades. O velho e a velha não perdem a capacidae sexual, tampouco estão mais perto da morte, sobremaneira numa época de banalização da vida e da violência em que vivemos. Essa opinião é defendida pelo grande poeta Gibran Khalil Gibran: “a morte não está mais perto do idoso do que do recém-nascido. Nem a vida”.
            Concluimos nossa conferência com essa história japonesa que incita-nos a uma reflexão sobre relação intergeracional, sociedade e família, tema polêmico que se estende desde antigas comunidades,e palco no qual atuamos todos como atores com maior ou menor grau de comprometimento, ação, e cumplicidades.
            Conta a história: um homem tinha sua mãe já velhinha e muito doente. Certo dia, colocou-a em um caixão e com seu filho mais jovem levou-a até o pico de uma montanha. O homem já estava pronto para abandonar a velha senhora e voltar para casa, quando seu filho correu e pegou o caixão vazio. Vendo isso pergunta: "meu filho por que deseja trazer consigo esse caixão, não vê que agora ele está vazio"? E o filho responde; - "é porque certamente , meu pai, irei precisar dele quando chegar o tempo de também trazê-lo para a montanha". Ao ouvir essas palavras, o homem percebeu que acabara de cometer um grave erro, e voltando a montanha apanha sua mãe e juntamente com o filho a traz de volta para casa.
            Lamentavelmente é grande a violência intrafamiliar contra os idosos. Na vida real, ainda hoje, conhecemos filhos que continuam, mesmo dentro de casa, levando pais e mães velhos para a “montanha do abandono, do desalento e da solidão”.            
            Finda a conferência, uma das alunas do curso de especialização confessou-nos:  “Talvez não seja capaz de definir o que seja ética, porém sou capaz de sentir”. Isso nos confortou e nos fez muito feliz. Ficaremos mais feliz ainda se soubermos que essa reflexão lhe abriu o coração e a mente para melhor entendimento do que seja a velhice e o envelhecimento. 

Coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com

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