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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Autoestima - uma leitura saudável



Inácio Andrade Torres – 30 de abril de 2010

O MENTIROSO
O mentiroso anda sempre assustado. É um sujeito sofrido. Por mais que tente dificilmente conquistará a amizade e a credibilidade dos outros. Acaba sendo um solitário, repleto de ansiedade e de frustração. Aliás, existe no folclore nacional uma  trova que diz assim: “Coitado do mentiroso!  Mente uma vez, mente sempre:/mesmo que fale a verdade, /todos lhe dizem que mente. Coelho Neto, um dos mais fecundos escritores brasileiros, em seu livro “Contos pátrios”, fala da mentira e do mentiroso – conclama sabiamente para refletirmos sobre o perigo de uma atitude mentirosa. Diz ele.
“Podia jurar! Riam-se dele. Mentia tanto que ninguém dava crédito ao que dizia. Às vezes queixava-se de moléstias: e, longe de o tratarem carinhosamente, repreendiam-no, ameaçavam-no, quando não lhe dobravam os exercícios da escrita; e, pobrezinho! Muitas e muitas noites, ardendo em febre, debruçado à carteira, copiava compridas descrições, e tudo porque mentia. Os mesmos companheiros repeliam-no quando ele aparecia contando um fato:
- Ora, sai daqui, mentiroso! Pensas , então que somos tolos?
uma manhã desceu  ao rio em companhia de outro. chovera abundantemente dias antes, e o rio, assoberbado, transbordava.
Os dois meninos hesitaram algum tempo antes de tirar as roupas; o mais velho, porém, nadador intrépido acoroçoou André, o mentiroso:
- Vamos, a correnteza é insignificante e não precisamos ir para o meio do rio. Vamos!
Animado, André atirou-se ao rio: a correnteza, porem, começou a arrasta-lo, de sorte que, quando ele quis tomar pé, a água cobria-lhe a cabeça. O outro boiava cartarolando.
De repente ouviu um grito angustiado: - Ai! – voltou-se, e, não vendo André, teve um sobressalto; logo, porém, considerando, sorriu: - Pois sim! Pensas que me enganas! – e continuou a nadar tranquilamente. Mas André na aparecia: o menino ganhou a margem, lançou os olhos para os cantos desconfiado de que o companheiro se houvesse escondido em alguma moita para assusta-lo; vendo, porém, que não aparecia, correu aterrado para o colégio, levando a tristíssima notícia. Desceram criado, e, atirando-se ao rio, procuraram o pequeno  que as águas haviam arrebatado. E o companheiro, em pranto, repetia com sentimento:
- Eu bem ouvi o seu grito, bem ouvi, mas ele mentia tanto....
Dias depois, apareceu coberto de ervas e horrivelmente deformado o cadáver do pequeno André; e o companheiro, vendo-o, soluçou ainda: Coitado! Mas foi por culpa dele. Mentia tanto!

Que Deus livre todos nós da mentira e do mentiroso.
Foto: mundodisparatado.

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