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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crônica

O DIA DE FINADOS




Por Misael Nóbrega de Sousa


 
Quando a cova foi aberta, não existia mais nada ali. Apenas, um ossário brotava do chão. Vermes se alimentavam do que mais parecia estrume para as ramas. Quase tudo havia sido tragado pela terra-marrom. O sepultamento é politicamente higiênico e somente. O culto, não é adoração, mas... Um ritual (desnecessário). Para que se valer dos mortos? O dia de Finados é mais um dia de tristeza. Deveríamos eleger este dia para visitar os vivos. Também poderíamos regar as plantas, e todas que encontrássemos. O dia de finados era para ser o dia de esquecer-se dos mortos. Deixar que eles permanecessem inanimados; deslembrados; enterrados. Somos atraídos pelo espetáculo. O que há de fato naquelas catacumbas: epitáfios e fotografias mórbidas, esmaecidas; cruzes de ninguém; velas em decomposição; rosas arrancadas e despetaladas; gente morta? Sim. Ruelas de mausoléus e anjos tortos. Há o que ninguém quer ver. A repetição de uma consternação anterior, com toda a carga de falsidade que há no termo. Imitar. Um périplo desproporcional – um entra e sai de viúvas – cantos agonizantes – cheiro de extinção... E gritos de inocentes. A desculpa da “tradição” é um entrave na evolução do pensamento. Um dia universal para lembrar-se dos mortos. Não há nada mais absurdo, na discussão prática. Se ao menos fôssemos zelar pelo túmulo: lustrar o Cristo de bronze, limpar a porcelana, trocar a água dos vasos, arrancar as ervas daninhas... Não! Pagamos para alguém fazê-lo. E este se torna íntimo daquele ente; até mais parente; um tanto devotado, mesmo por obrigação. Prantear o defunto, a cada ano, é remoer as próprias dores e, o mais intrigante, promover também a dor nos que se chegam à família, sem ter vivido o instante passado do óbito. Não me pouparam, quando criança, da vigília aos que se foram primeiro. E eu tive sonhos letargos. Tentarei não repartir esse desgosto com os filhos meus. Dar-lhes-ei um mundo melhor. Apenas o respeito aos mortos devia nos bastar. O passeio coletivo ao cemitério, no dia de finados, é mais círculo doentio de prazer, do que um ato de reverência. É quem sabe um abuso. Na placidez da aurora prima, acordo sem sobressalto; banho-me calmo e demoradamente, deixo escorrer até o último pingo d água pelo meu corpo nu; – abro o guarda-roupa e procuro a melhor roupa; e escolho, ainda, o melhor perfume - como que me embalsamando. Desço à rua examinando os lados e abençoo todos os meus pares. Alcanço a praça e ali descanso sob as árvores. Exijo silêncio do silêncio. Tenho inveja do casal de rolinhas - que protege um ao outro; avisto uma velha-senhora, capenga, de luto, “sombrinha” colorida... e puxando um menino que me sorri banguela. A vida é um tanto engraçada. A morte não representa grande coisa.


 
Professor e jornalista

Colunista do pbnoticias.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta é uma crônica autêntica de Misael Nóbrega: sem graça, falta de criatividade e não leva o leitor ao envolvimento do texto. O que for diferente disso é porque ele copiou de alguém.

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