Inácio Andrade Torres – 09/10/09
Quem quando criança não escutou falar de Malba Tahan, o autor do consagrado O homem que calculava, um livro que continua a encantar as crianças brasileiras da atualidade? Pois bem, o nome verdadeiro de Malba Tahan é Júlio César de Melo e Sousa, um carioca, grande prosador, que deixou uma obra maravilhosa, composta de romances, contos e lendas, escrita numa linguagem orientalista e de fundo moral e religioso. O texto a seguir mostra um pouco do estilo desse grande escritor.
Conta-se que um dervixe, ao regressar de uma peregrinação, se hospedou na choupana de um camponês que o acolheu com grande cordialidade.
Uma semana depois, a mulher do camponês lhe disse:
- Homem, manda embora esse dervixe (dervixe é um religioso mulçumano). Se ele continuar a comer tanto, deixa-nos na miséria.
Respondeu o marido:
- Não posso fazer tal coisa, mulher; seria pecado expulsar de casa um homem tão santo e virtuoso!
Decorrida outra semana, a mulher voltou a insistir.
-Manda embora o dervixe. Já não há o que comer em casa.
À vista disso, o camponês resolveu-se a despedir o hóspede importuno. Encontrou-o no jardim, descansando em branda relva, absorto em profunda meditação.
Disse-lhe:
- Rendo-te, senhor, graças pela visita que fizeste ao meu humilde tugúrio (cabana). É justo, porém, que outros gozem também de semelhante honra. Já comemos as últimas tâmaras.
O santo homem inclinou a cabeça e respondeu:
-Pois sim, meu filho. Longe de mim a idéia de querer abusar da tua hospitalidade. Acorda-me amanhã ao romper do dia, para continuar a sagrada viagem.
Na manhã seguinte, quando as estrelas se apagavam no céu, o camponês foi despertar o dervixe. Sacudiu-o pelo ombro a fim de arrancá-lo do sono:
- Levanta-te, meu bom amigo, que o galo já cantou!
Exclamou o dervixe:
- Oh! ainda tens um galo!...
E virando-se para o outro lado, continuou a dormir...
coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com
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