Mudança
nos hábitos alimentares preocupa Ministério da Saúde. Pesquisa inédita que
mediu peso e pressão arterial dos brasileiros alerta que mais da metade da
população está acima do peso e uma em cada quatro mulheres são obesas
O consumo de produtos com alto teor de
açúcar e gordura começa cedo no Brasil. Estudo inédito do Ministério da Saúde
revelou que 60,8% das crianças com menos de dois anos de idade comem biscoitos,
bolachas e bolos e que 32,3% tomam refrigerantes ou suco artificial. No
Nordeste, mais da metade (58,8%) das crianças consomem esses alimentos e 25,5%
tomam refrigerantes.
Este é o terceiro volume da Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS), realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e que traz medidas inéditas da população do
país, como peso, pressão arterial e circunferência da cintura. Além das
mudanças nos hábitos alimentares na infância, os dados alertam para os
crescentes índices de excesso de peso e obesidade em adultos.
“O excesso de peso é um problema grave,
porque é um fator de risco para doenças do coração e outros problemas crônicos.
É fundamental trabalharmos o incentivo a prática de exercícios e alimentação
saudável desde cedo com as nossas crianças para reverter esse quadro. As
crianças, muitas vezes, ajudam na conscientização e mudança de hábito dos
pais”, destacou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
Apesar da presença de produtos
industrializados na alimentação das crianças, o estudo demonstrou que as mães
brasileiras continuam amamentando seus filhos mesmo após os seis meses de
idade, período preconizado para o aleitamento exclusivo. Mais da metade (50,6%)
das crianças brasileiras e 52,8% das que vivem no Nordeste, entre nove e 12
meses, estão em aleitamento materno de modo complementar.
Os dados apontaram também que a maior
parte das primeiras consultas dos bebês (até sete dias depois da saída da
maternidade) foi na rede pública de saúde – 62,5% nas unidades básicas de saúde
e hospitais públicos e 26,4% em consultório particular. Também mostrou índice
de 70,8% de crianças com menos de dois anos que fizeram o teste do pezinho e
75,9% com um ano que já haviam tomado três doses da vacina tetravalente
(difteria, tétano, coqueluche e meningite), ofertada aos dois, quatro e seis
meses de idade.
A Pesquisa Nacional de Saúde foi feita
em 64 mil domicílios em 1.600 municípios de todo o país entre agosto de 2013 e
fevereiro de 2014. É o mais completo inquérito de saúde do Brasil, com dados
sobre informações do domicílio, equipe de saúde da família, pessoas com
deficiências, saúde dos indivíduos com 60 anos e mais, crianças com menos de 2
anos, acidentes e violência, estilos de vida, doenças crônicas, saúde da
mulher, atendimento pré-natal, saúde bucal e atendimento médico. Essas
informações servem de base para que o Ministério da Saúde possa traçar suas
políticas públicas para os próximos anos.
OBESIDADE E HIPERTENSÃO – As
mudanças no padrão de alimentação do brasileiro, bem como o menor tempo
dedicado a atividades físicas, levam cada vez mais pessoas ao excesso de peso e
obesidade. A Pesquisa Nacional de Saúde pesou e mediu a circunferência da
cintura dos entrevistados e os dados demonstram que 56,9% dos brasileiros com
18 anos ou mais estão acima do peso, 82 milhões de pessoas. O índice é superior
ao calculado em 2003 pela POF/IBGE, que registrou 42%. No Nordeste o número é
de 53,4%.
Preocupa também a massa de gordura
abdominal, que pela primeira vez foi medida por uma pesquisa no Brasil. Mais da
metade das mulheres (52,1%) apresentaram prevalência superior de obesidade
abdominal, com cintura acima de 88 cm, segundo parâmetros da Organização
Mundial de Saúde. O índice é menor entre os homens: 21,8% têm a cintura acima
de 102 cm, o que aponta circunferência aumentada no caso masculino. No Nordeste
do país, 51% das mulheres e 17,3% dos homens apresentam obesidade abdominal.
Essa medida é importante porque está
associada a doenças como obesidade, hipertensão e diabetes, que levam a
problemas cardíacos. O público feminino também foi o que registrou maior índice
de obesidade. Uma em cada quatro mulheres (24,4%) brasileiras estão obesas.
Esse índice era 14% em 2003. Entre os homens o percentual é menor, 16,8%. No
Nordeste, os números são de 21,5% para mulheres e 14% para homens.
Já a pressão alta atinge mais os
homens. Essa realidade nacional está presente no Nordeste. O estudo mediu a
pressão dos entrevistados, algo inédito para um levantamento desta escala, e
apontou que 22% dos brasileiros e 23,8% dos residentes no Nordeste têm pressão
arterial elevada.
PROMOÇÃO DA SAÚDE – O excesso
de peso e obesidade são fatores de risco para Doenças Crônicas Não
Transmissíveis, que constituem um problema global de saúde e corresponderam por
74% dos óbitos no Brasil no ano de 2012. Já a hipertensão é uma das principais
causas de morbidade cardiovascular e fator de risco para complicação de AVC,
acidente vascular cerebral. A doença causa 7,5 milhões de mortes no mundo,
equivalente a 12,8% do total. Por meio do Farmácia Popular, a população tem
acesso a seis medicamentos para hipertensão.
O Ministério da Saúde firmou, em 2011,
o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis no Brasil (2011-2022), com o objetivo de deter o avanço das
doenças crônicas e os fatores de risco, com ações também voltadas às crianças.
A meta é reduzir em 2% ao ano o número de mortes por estas doenças. Uma das
principais ações é a expansão da atenção básica responsável por resolver até
80% dos problemas de saúde. O investimento nesta área cresceu 106% em quatro
anos, chegando a R$ 20 bilhões em 2014. São quase 40 mil equipes de Saúde da
Família, capazes de atender 60% da população.
Também são realizadas ações de promoção
à saúde com mais de 18 milhões de alunos do ensino fundamental por meio do
Programa Saúde na Escola. Em 2014, mais de 4.000 municípios que participam da
iniciativa adotaram também medidas nas creches para avaliação antropométrica e
promoção de alimentação saudável das crianças de até dois anos. A partir de
acordo firmado entre Ministério da Saúde e as indústrias de alimentação foi
possível retirar entre 2011 e 2014, 7.652 toneladas de sódio da mesa do
brasileiro.
Sobre o incentivo a prática de
atividade física destaca-se o Programa Academia da Saúde, que já conta com
1.568 polos com equipamentos e profissionais qualificados e a publicação do
guia alimentar a população brasileira que orientam as famílias a optarem por
refeições caseiras.
Por
Patrícia de Paula, da Agência Saúde
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